sábado, 30 de agosto de 2008

Onde estão os homens? (Parte I)

Era o título de um dos artigos de uma revista de moda de Setembro. Como teaser, funciona. Vi o anúncio noutra revista, e quando passei pela papelaria do Metro, entrei já direccionada para o escaparate respectivo, e comprei. A versão de bolso, que sempre é mais barata e cabe na mala. Por curiosidade, só para ver se havia um tratamento diferente de um assunto cada vez mais esgotado, por ser cada vez mais explorado. Já todos sabemos que o mundo das relações está em crise, e que as mulheres se queixam de que não há homens disponíveis, e que, na mesma medida, os homens se queixam de que não há mulheres. Eu sei, porque já tenho tido esta conversa com amigos e amigas, e, apesar do 'mercado' deles ser, teoricamente, mais abrangente – aqui há uns anos o rácio era de 7 mulheres para cada homem, mas julgo que entretanto baixou. Vá, sejamos loucos, agora será de 5 para 1, talvez,não faço ideia – o que é certo é que, mesmo com mais escolha, eles também não andam satisfeitos.
Fui lendo o artigos na esperança de encontrar A revelação suprema. Não encontrei nada de extraordinário: é o ritmo acelerado, é a pressão para se ser bem sucedido em todos os campos, o medo do compromisso porque a vida é tão curta, e porque não vivermos todos fugaz e inconsequentemente, sem responsabilidades, aproveitando só o chamado lado bom da vida? Isto já não é novidade para ninguém. O que eu achei inovador foi a abordagem de que a culpa disto tudo não é só dos homens, mas sim das mulheres, que estão mais exigentes. Ora, meus amigos, desculpem-nos lá, a nós, singelas moçoilas, o facto de não nos querermos contentar com o que cai na rede porque é melhor do que nada. Não é. Nunca foi. Nunca será. Pelo menos aqui no meu livro, e se isso quiser dizer que eu tenha de entrar nas Carmelitas, so be it!
Mas vejamos o que é que se considera o aumento de exigência das mulheres. Cito uma terapeuta sexual: ‘Elas estão mais exigentes. Os homens têm de ser inteligentes, ajudar em casa, ter sucesso, estatuto social, económico e sentido de humor. E à mínima coisa que eles não cumprem, elas desiludem-se …

Bom, vamos por pontos:
1) A inteligência parece-me não ser um requisito descabido. A inteligência parece-me até um requisito de base. Não sei, digo eu que dará jeito não ter ao lado um homem que acenda um cigarro quando está a mudar uma bilha de gás. Ninguém está aqui a medir QIs, mas parece-me evidente que a mulher deseje, pelo menos, algum equilíbrio de intelecto. Se os homens gostam das bimbettes burras, é lá com eles (não acredito, mas às vezes parece). Eu cá pretendo alguém com quem possa aprender alguma coisa. Ou, pelo menos, conversar de igual para igual. Além de que, por experiência, sei que é uma gastura lidar com criaturas que tiraram folga no dia da distribuição de inteligência e do savoir vivre. É algo constrangedor, num jantar para impressionar, que o tipo pronuncie mal o nome do vinho. Duas vezes. Peço desculpa, é mínimo, eu sei, mas faz a diferença. So shoot me!

2) Têm de ajudar em casa.
Ou pagar uma empregada. Claro que sim. Não somos criadas, nem mãezinhas, e também trabalhamos fora. Qual é a dúvida? Isto é ser exigente? Desculpem lá, de novo.

3) Ter sucesso.
O que é ter ‘sucesso’? Aparecer nas revistas? Ser o Director da empresa? Isso é um requisito? Não na minha lista. Nem na das amigas com quem troco opiniões. Ter sucesso é um requisito para aquelas que almejam quiçá, ao tipo que está a mudar a bilha de cigarro aceso. Ter sucesso, no sentido material da coisa, assim só per se, é um requisito muita fraquinho, não? Se o 'sucesso' estiver relacionado com o ser determinado, empreendedor e ter a ambição natural de se ser 'bom', aí já é outra coisa. Admitamos a segunda hipótese.

4) Ter estatuto social. Bom, se formos dondocas, certamente. Se o nosso objectivo de vida é passar dias e dias nas lojas a comprar roupas para as ‘fêstas, sei lá’, então claro que sim. Mais uma vez, passo. Prefiro ter respeito de gente absolutamente anónima.

5) Ter estatuto económico. Isso para mim seria um bónus, não um requisito. Mas dispenso o estatuto, bastar-me-ia a conta recheada para viver sem preocupações.

6) Sentido de humor. Guilty. É requisito aqui no burgo. As mulheres adoram quem as faça rir, mas também quem perceba e aceite as suas piadas. É que já ganhámos o direito à 'espirituosidade' há uns anos, e os homens nem sempre vêem com bons olhos uma boa resposta ou uma piada mais gira do que a deles. Qualquer coisa a ver com a masculinidade intocável, que não se deve ameaçar. Uma mariquice dessas…(sinto que vou ser cilindrada em breve)

E à mínima coisa que eles não cumprem, elas desencantam-se.’

Epá, não sei, mas não se lhes está a pedir nada de extraordinário, pela lista acima. Digo eu…Portanto, se calhar, paravam de ser mariquinhas e esforçavam-se um bocadinho mais, não?

E assim, talvez evitassem irem lamuriar-se para um senhor responsável pela organização de eventos de encontros que ‘não conseguem estabelecer um relacionamento estável, uma vez que a par da emancipação feminina, as mulheres ganharam cada vez mais independência e dão menos importância ao compromisso a longo prazo’. Concordo no princípio de que a emancipação complicou o esquema tradicional masculino, mas discordo na conclusão. As mulheres não dão menos importância a compromissos de longo prazo. Querem é, logicamente, escolher bem. O que implica, como eles fazem, usar o período para testes de mercado até ao fim antes de encontrarem o melhor produto. Quem quiser ser escolhido, tem de fazer por isso. As simple as that. Já não estamos dispostas a ser só:
a) a fada do lar
b) a mãe dos filhinhos
c) a mãe do pai dos filhinhos
d) a lavadeira e engomadeira
e) o saco de pancada
f) a cozinheira para os jantares de amigos, que fica a lavar a louça enquanto eles jogam ás cartas…

Nope. Isso foi há cinquenta anos!

Hoje, queremos muito mais do que isto. Porque também sabemos dar muito mais do que isto. Somos exigentes? Não. Somos normais. E temos pena!

15 comentários:

  1. jornalistas... andam a estragar as hipóteses às moças e a encher os consultórios de psicoterapeutas... tsk, tsk...

    bjinhauuu

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  2. Gostei muito deste texto. Já tinha lido o título da revista e pensado se valeria a pena comprá-lo, mas mais ainda do que a síntese do mesmo, gostei da crítica ao seu teor.

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  3. Safira, se eu fosse uma sonhadora em excesso, consideraria todas essas exigências um exagero. como não sou acho esses pré requisitos os absolutamente necessários.
    Beijinhos e bom f.d.s.

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  4. Eu cá acho k sem esses requisitos básicos é impossível a coisa bater certo.(Já agora se a tudo isso juntarmos uma carinha laroca e um corpito jeitoso, melhor ainda, certo?Sorry boys...)

    Bjokas

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  5. Quer dizer, eu sou exigente a comprar uma casa, um carro, uma peça de roupa, sou exigente com o que como e o que bebo, com o trabalho que faço, com o ginásio que frequentyo e depois levava para casa um badameco qualquer só para dizer que tenho gajo...

    Olha que fo*****

    Eu pedia que me devolvessem o dinheiro da revista !!!

    :)

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  6. Rocket: amigo, espera pela parte II. Gets better!
    Xiiii, psicoterapeutas...uma chulice inconsequente. Só aguentei dois meses e porque o gajo era podre de bom! ;)
    Beijos

    Redonda: eu se fosse a ti, comprava: há um roteiro para 'avistar' os espécimes. Eu vou publicar na parte dois, mas se não quiseres esperar... ;)
    Beijinhos

    D. Antónia: Concordo. Eu sou sonhadora, mas os requisitos de sonho não estes. Acho que os traços de carácter básicos para uma pessoa decente nem sequer deviam ser considerados requisitos, mas sim premissas. Considerando que fulano(a) de tal é inteligente, honesto e trabalhador, diga mais duas ou três coisas que considera fundamentais na pessoa que quer a seu lado. Depois aí, já é gosto pessoal. Agora considerar aquela listinha como requisitos exigentes...
    Beijocas

    Zabour: ha ha ha, pois claro, uma carinha laroca e um corpo jeitoso. Porque não?
    beijos

    Maria Manuela: pois, não vês que assim eles não têm trabalho nenhum e podem continuar a ser só 'médios' porque 'para quem é, bacalhau basta'?
    Beijos

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  7. A parte II deve ser:
    "Mulheres querem gaijos com a cara do Brad e o corpo do Reynaldo..."

    ;))

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  8. LOOOOL,eu cá concordo com a Zabour, se vierem com carinha laroca e corpinho jeitoso, e porque não!! LOOL! Brincadeira.
    As mulheres não ficaram mais exigentes, não. Passaram foi a ter hipótese de optar pelo que consideram ser melhor para elas...

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  9. Gata: olha que não ficavamos mal servidas, não senhora! ;)
    Beijos

    Vani: é que é isso mesmo. E o facto de podermos ter mais voto na matéria, e já não depender de um casamento para sobreviver, baralhou-lhes um pouco o esquema.
    Beijocas

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  10. não safira, não temos pena nenhuma.

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  11. Ai, ai...

    O que mais é que se pode acrescentar a este texto? Pouco ou mesmo nada.

    É verdade que com a emancipação das mulheres, nos tornámos mais independentes, mais exigentes e também menos tolerantes. Se antes a mulher tinha que aceitar o noivo que lhe arranjavam ou sujeitar a ficar com o 1º que lhe aparecia à frente, hoje em dia as coisas são diferentes. Também não sou a favor de relações ditas ocasionais e fugazes. Acho que nos devemos envolver com quem nos agrada, com quem nos sentimos bem. E sim, para mim integiência é um factor importante e participar nas tarefas domésticas também. Assim como o humor. O "sucesso" é uma coisa relativa. E o estatuto económico funciona, como escreves, como um bónus. Não é um factor imprescindivel.

    A época de que a mulher servia apenas para estar em casa como um adorno, para tratar das tarefas domésticas, dos filhos, dos maridos e tal já lá vai.

    A mulher de hoje quer mais. Quer trabalhar para ter a sua própria independência. A mulher continua a querer ter um relacionamento estável e duradouro com um homem.
    Com a simples diferença de que deverá existir igualdade de deveres e obrigações. O que se passa é que a mulher trabalha, chega a casa e ainda tem todas as tarefas do lar por conta dela. Às vezes até penso que a questão da luta pela igualdade se virou contra nós. É que sim, há igualdade de direitos (se bem que claro nos temos SEMPRE que esforçar mais que os homens) mas não de obrigações.

    E sim, a mulher desilude-se. Tem direito não? Não digo que se desiluda e termine uma relação ao 1º deslize dele... mas todos e todas temos os nossos limites. E se achamos que não estamos bem, que não somos felizes e que não podemos fazer o outro feliz, então talvez seja melhor pôr um ponto final à situação. Claro que depois às vezes vem a culpa e o arrependimento. Mas penso que devemos sempre fazer o possível por estarmos melhor e mais felizes, mesmo que paire sobre nós uma nuvem do passado.

    Bom... e parece que me alonguei novamente...

    Beijinhos

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  12. mas isso és tu, que já passaste a barreira dos 30, a falar!
    vai dizer isso a uma miúda de 20 e pouco e dá-lhe a escolher entre o tipo de homem que aqui falas e um que tenha um corpo que seja "dinamite" (mesmo de rastilho curto)!

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  13. Maga: eu até tenho...tenho pena deles que têm de trabalhar mais agora! Tadinhos... ;)
    Bjs


    Carracinha: Ui, ui, ui, que estavas inspirada, rapariga! ;)
    Concordo com tudo o que dizes, claro.Eu acho que a mulher se desilude mais com questões de sentir-se menos importante na relação do que com algum requisito mais rebuscado. Penso que se o homem não demonstrar que porra, também sente que tem sorte de ter uma mulher a seu lado e mostrar o seu orgulho ao mundo, ela inevitavelmente, desencanta-se.
    Penso eu de que...
    Beijinhos

    Vício: Obrigadinha por me chamares entradota...;)
    És capaz de ter razão, sim senhor. Mas sendo assim, o inverso também se verifica. Vai lá dizer a um trintão que há uma gaja trintona inteligente e bem formada, mesmo gira que seja, e que há uma bimbette de 19 anos no mesmo sítio e diz-me lá a quem é que ele se dirige...
    é o mundo que temos...
    Bjs

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  14. só se ele for parvo é que escolhe a bimbette! ;)

    para te chamar entradota estava a dizer o mesmo de mim! pelo teu perfil só tens mais 1 ano que eu!

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  15. Vício: ahá!!! renasce a esperança. É que eu, de bimbette, não tenho nada...
    Beijocas

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