Ontem foi Nádia, que seguramente se cansou das vistas do seu imenso terraço e decidiu ir explorar o terraço do vizinho. Correu-lhe mal...deve ter escorregado nas telhas e despencou para o quintal. Não o nosso, onde seria fácil ir buscá-la, mas o do vizinho que, claro, não estava em casa.
Claro que só cheguei a esta conclusão depois de me descabelar à procura dela, mas o facto era incontornável: Nádia estava, como Chuck Norris (esse portanto da sétima arte), Missing in Action. A hipótese de uma ave de rapina a ter agarrado ocorreu-me, porque aquilo enroladinho passa bem por um coelho sem orelhas, mas pus a ideia de parte porque seria dar pouco crédito às aves de rapina. Era assim por demais evidente que a vadia tinha despencado lá para baixo. Como não vi o seu cadáver mutilidado perto de Nero Augusto, nem empalado no pinheiro, fiquei mais descansada.
Suspirei, peguei na lanterna (sim, que eu trabalho em Carnaxide, remember, chego a casa já de noite!) e lá me resignei a ir de novo fazer figura de parva rua fora com o meu pscchhh psccch, pschhhh anda cá bichinha' (anda cá anda, que já vês como elas te mordem, grande cabra...) pscchhh pscchh...
Tive sorte. Assim que apontei a lanterna ao portão do vizinho, vi Nádia sair ufana da casotinha do gato (o persa do vizinho, esse vaidosito que também tem um focinho onde só apetece dar bolachada). Parecia estar inteira. Menos mal, que sempre é menos uma despesa. A questão era mesmo tirá-la dali. Podia telefonar ao vizinho...mas não gosto especialmente dele. Além disso, já lhe pedi para ir resgatar o recém despencado Gato Gil aqui há tempos, e não me apetecia levar com o olhar 27, também conhecido pelo 'coitadinha, perdeste um gato outra vez, foi?'.
Tinha lido em tempos que os gatos, quando encurralados, só precisam de ter algo a que se agarrar para conseguirem escalar para a liberdade. Ora isto pode ser válido para muitos gatos. Para Nádia não. Por isso, quando fui a correr buscar uma colcha e lha passei por cima da grade, na esperança de que ela se agarrasse e começasse a subir (isto tudo com a cara metade a olhar dubitativamente para o meu plano, embora estoicamente a manifestar o seu apoio, tentando ignorar o ar absolutamente ridículo de uma gaja a abanar uma colcha amarela pendurada num portão e a fazer pchhhh pchhhh como se o mundo acabasse daí a cinco minutos), Nádia limitou-se a olhar bovinamente para mim. Nádia, além de higienicamente desafiada (porca, vá) não deve muito à inteligência. Ou então é só cabra para mim.
Donde... tive de partir para o plano B. E o plano B foi isto:
Material:banco de cozinha+corda atada à pega da transportadora dos gatos
Modus Operandis: Eu, de salto alto, em cima de um banco de cozinha encostado ao portão do vizinho - note-se bem, que uma pessoa por estar empoleirada em cima de um banco a invadir o espaço aéreo do vizinho, sem sua autorização, pode perfeitamente estar compostinha -, atiro a transportadora por cima do portão de modo a que aterre perto da imbecil. Depois, espero ali em suspensão durante uns dez minutos que a imbecil se decida entrar. E quando finalmente, graças ao Altíssimo, a coisa peluda se decide instalar lá dentro, começo a içar. Alguns puf puf depois e missão cumprida!
MacGyver, já eras!
Nádia, adivinha lá?... ESTÁS DE CASTIGO!