quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Happy New Year



Happy new year

Happy new year

May we all have a vision now and then

Of a world

where every neighbour is a friend

Happy new year

Happy new year

May we all have our hopes, our will to try

If we don't
we might as well lay down and die

You and I...
Não que eu espere que alguém veja isto a tempo, à hora indecente a que estou a postar os meus votos, mas pronto, a culpa foi dos saldos... e de ter andado à procura da estúpida roupinha interior azul. Espero que azul petróleo e preto também sirva, porque não havia mais nada! E não, não vou mostrar!
Anyways...
Deixemos os balanços, os kgs a mais e a lista de resoluções para outra altura, que é hora de alegria! Peguem nas passas e ergam a flute bem alto, e brindemos ao novo ano.
Um 2009 cheio de coisas boas é o que desejo a todos!
( a todos, vocês! As pessoas de quem não gosto assim muito, muito, ou as que são umas autênticas bestas, podem ter um ano miserável, que não fico especialmente chateada... não fica bem dizer? Temos pena! )

domingo, 28 de dezembro de 2008

Espírito de um Natal passado...

À semelhança do que aconteceu no ano passado, a Gata Verde teve uma ideia muito gira para um post e fez-me andar a remexer nos baús para achar uma foto de Natal da nossa infância. Já lha enviei, mas entretanto não resisto a colocá-la aqui também, como símbolo de Natais passados e muito diferentes.

Aqui estou eu no meu primeiro natal, com nove mesitos e já a querer armar-me em esperta e andar, enquanto o meu primo B., com oito meses, continua placidamente sentado. (O meu primo B. pertence ao lado louro e de olhos azuis da família, que como rapariga sortuda que sou, nao herdei, claro está. Eu sou do lado do cabelo preto e olhos castanhos, mesmo. Ca nervos!!!!)

A foto é na minha casa em Paris, naturalmente.

E é inevitável relembrar os meus natais brancos em França. Com um sorriso nostálgico penso na inocência com que preparava o café que ia deixar para o Pai Natal se aquecer. Tínhamos uma casa engraçada, em Paris, com uma escada em caracol que ligava a cozinha à sala, a chamada 'loge', onde eram tratados os assuntos do prédio com os moradores (os meus pais eram concièrge, e os nossos aposentos eram contíguos a uma 'recepção', digamos assim). De maneira que, passava o serão do dia 24 a subir a escada para ver se o café ainda lá estava, sinal de que o pai Natal teria ou não passado. Ia deitar-me nesta excitação, e acordava na manhã seguinte com uma excitação ainda maior. Subia a escada a correr, em pijama e descalça (vício que ainda hoje me acompanha) e abria a chaminé. E ohhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!!! Uma chaminé cheia de presentes!!!! E lembro-me de estar sentada no chão, a olhar embevecida para os livros (o meu presente favorito), e a minha mãe a rir-se no cimo da escada, e a ralhar moderadamente por eu me ter escapulido da cama tão cedo e andar sem chinelos. A minha mãe ainda hoje me chateia a cabeça se me apanha descalça em casa. Aliás, só para não a ouvir, assim que a campainha toca, lá vou eu calçar-me à pressa. Estou aqui sentada no pc e, guess what? tenho os dedinhos ao leú. Estão gelados, mas estão livres!

E pronto, um ar dos nossos natais em França...agora que passou mais um por cá. Se um dia tiver filhos hei-de dar-lhes natais como os que eu tinha. E ai de quem me diga às crianças que o Pai Natal não existe!!!!

E hei-de ensinar-lhes esta canção, também!

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

We wish you a Merry Christmas






Isto este ano está lindo, está!....









Esta fez greve!







Este só fala inglês...












Temos aqui um armado em vedeta...













E a outra que pensa que manda, a tal da Maria Safira, a das ideias tristes, diz que não consegue escrever porque tem os dedos estraçalhados depois da sessão fotográfica. Não sei porquê, só lhe dei uma patadinha ao de leve...


Por isso, sobro eu...prrrr....prrrr....prrrr....



Estou aqui cheia de espírito natalício, como se pode ver pela graça da minha pose, e não estou nada a fazer um frete monumental, é só impressão...

Hein? O quê? (a outra está ali a espernear qualquer coisa que eu tenho de dizer...) Ah, é p'ra desejar Boas Festas?

Deves pensar que não tenho mais que fazer...prrr prrr

Hein? Vais tosquiar-me com a tesoura de podar a roseira???Euhhhh...é um bom argumento! Ora vamos lá:


O Gatil da Safira deseja a todos os seus visitantes umas Festas Felizes!


...Bom Natal!...

...muitos presentinhos...

...paz e amor...

...azevias e filhós com moderação...

...mais o 'Música no Coração'...


(e, por favor, não vejam o Pirata das Caraíbas III, que aquilo pode causar danos cerebrais permanentes!!!)

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Só para que conste...

Não morri!
Mas ando um bocado atarefada...mas ainda posto os meus votos este ano! Espero.
Era só isto, que o patrãozinho deve estar a voltar do almoço de 3 horas. Não que eu repare nestas coisas...

Olhem, aproveito e mudo a música!
Mas não há foto, que não tenho tempo...

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Estou chocada!

Andava à procura do 'Please come home for Christmas' interpretado pelo pedaço de mau caminho Jon Bon Jovi e dou com isto

Ando eu a pedir o homem na chaminé e ele anda-me enrolado com a palerma da Cindy Crawford num vídeo para uma música de Natal? Não acho isto nada normal. Onde é que está o respeito? Hum??? Nos melos, ela com a barriga à mostra e mais não sei quê, e ele a oscular-lhe o queixinho e a cantar uma canção de Natal?
Não acho bem, pronto. Ainda para mais com aquela perua. Como se ela fosse mais gira do que eu, parva da mulher!
Raios partam os homens e as super modelos!
Bah!
Venha o blusão da Mango, Pai Natal! Obrigados.




domingo, 14 de dezembro de 2008

Quem não tem cão, caça com gato...literalmente!

Porque sou contra o conformismo, e porque não me apetece gastar dinheiro a comprar figurinhas, este ano é mesmo assim:


Grande plano (sem metade de 'José', que não coube)




'Maria' e 'José' usam manto drapeado do 'Gato Preto' e laços de sisal.

'Jesus' encontra-se dentro de cesto da roupa forrado com pano vindo de Moçambique (dá jeito ser amiga dos Comandantes), cujo padrão não se enquadra exactamente no espírito da coisa, mas que fica bem com a árvore de Natal. Repousa não sobre palhinhas, mas sobre ráfia reciclada da embalagem da última vez em que me ofereceram flores. Quase não se nota o bolor...
Chamo a atenção para a chegada antecipada de 'Gaspar', 'Baltazar' e 'Belchior'(sem uma orelha graças ao Boris), que estão já a adorar o 'menino' porque os gatos andam muito depressa. E não têm incenso, nem ouro, nem mirra, porque os trocaram por Sheba no caminho.
Pronto, já estou a ouvir as sirenes...vêm aí os senhores de bata branca...
See you!!!

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Carta ao Pai Natal


Querido Pai Natal

Eu sei que no post anterior disse que não estava nada com espírito natalício, mas entretanto reconsiderei, e decidi comunicar-to directamente. Espero que saibas usar a internet, Pai Natal
Não te assustes, que escrevo estas singelas linhas sem espírito pedinchão, embora não cuspa na sopa se quiseres largar-me o Jon Bon Jovi chaminé abaixo. Nesse caso, peço-te que me avises, para eu colocar umas almofadas, porque odiaria que o homem me partisse o cóccix.

Espero que não andes muito estafado, Pai Natal. Sabes porquê? Porque queria pedir o teu conselho avisado para tentar decidir se gosto mais do blusão de cabedal castanho da Mango (tamanho M, que a ginástica alargou-me os ombros) ou se devia considerar deixar a ostentação de parte e investir na minha educação, o que conseguiria com a série de 4 DVDS sobre os Impérios de Napoleão, que vi ontem no Corte Inglês. Estava muito perto da zona das séries televisivas e confesso que também não dizia que não à terceira série do ‘Boston Legal’.
Ah, Pai Natal, deve ser uma altura má para ti, eu sei, e felizmente que tens os duendezinhos todos a ajudar, razão pela qual não me custa estar a massacrar-te com esta troca de opiniões inocente. Mas custa-me tanto passar pelo Cantinho do Pintor e ver aquelas maletas Van Gogh, recheadas de material (os óleos, Pai Natal, os óleos), ali abandonadas...ah, poderia fazer coisas tão bonitas se tivesse uma maleta dessas, Pai Natal. Já viste os sorrisos que poderia pintar nas telas e nas caras de quem as recebesse? Que bom é dar e receber, não é Pai Natal?
Sabes que faço um bolo de especiarias extremamente bom, Pai Natal? E que tenho um Cognac maravilhoso (cuja proveniência não posso aqui divulgar, e não insistam porque não posso dizer que foi o chefe que me deu)? Já viste Pai Natal, se por acaso passasses lá em casa com alguma destas sugestões, assim coisas que ninguém quisesse e a que não soubesses o que fazer, podias aligeirar o teu saco, descansar e retemperar forças antes de seguires a voar nos céus, no teu trenó não poluente. Eu também sou muito amiga do ambiente, Pai Natal, e este ano reciclei tudinho, como uma linda menina.

Pronto, como vês, escrevi desinteressadamente, só mesmo para dizer olá, e perguntar pelo Rodolfo. Espero que lhe tenha passado a alergia no nariz...

Grande beijo, Pai Natal
Safira

PS: Também não ficaria aborrecida se enviasses uma embalagem de Mucosolvan ao meu vizinho de baixo, que o pobre não consegue dormir com a tosse cavernosa. Eu sei disso, porque também não durmo, mas não estou nada chateada porque é uma época de alegria e temos de amar os nossos irmãos todos. Mesmo que eles cheirem a peixe e tabaco...
Há pessoas que não têm o hábito de usar perfume, não é? Oh, que coincidência! agora que falo nisso, gostei imenso do novo ‘Euphoria’ do Calvin Klein. Já cheiraste, Pai Natal?

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

X-mas Spirit em baixa, mas a malta está a tentar

É provável que este ano não faça árvore de Natal.

Com o Boris na idade do armário,





passaria provavelmente metade da vida a apanhar bolas, grinaldas e quiçá a própria árvore do meio do chão e, convenhamos, tenho mais que fazer!

Também não vou por as velinhas de pai Natal, e o centro de pot pourri cheio de pinhas e pauzinhos de canela, mais ou menos pelas mesmas razões. Nem a meia na chaminé, mas porque não tenho onde a prender, a não ser que alguém me faça o obséquio de dizer como se espeta um pionese numa pedra de mármore (nota mental: antes de gastar dinheiro, ver se a porcaria que se comprou pode ser usada...).

Em suma, e a não ser que algo mude drasticamente (i.e, que o Boris deixe de saltar por todo o lado, ou que inventem arvóres e decoraçãos em cimento armado) Santa Claus vai ficar desapontado com a recepção que lhe vou fazer. Mas até temos pena. Temos pena porque até fomos boazinhas este ano, e o nosso sapatinho devia ficar cheio a abarrotar. Aliás, fomos tão boazinhas que estávamos a pensar por umas galochas em vez de um sapato.

Mas até mesmo as galochas seriam insuficientes para o meu primeiro presente de Natal, oferecido pela minha prima que veio de Paris passar estes dois últimos dias chuvosos comigo, e que personifica como um presente* deve ser. A saber:

- Ser oferecido com gosto, pressupondo que se perdeu tempo a pensar na pessoa

- Ser adequado: ter a ver com a pessoa, ou com o momento que a pessoa atravessa

(panos de cozinha, bibelots parvos, tolhas de banho e electrodomésticos de cozinha, não são um bom presente para mim. Por favor, abstenham-se! Mana, se leres isto, passa palavra, por favor)

O presente da Élia ( que me trouxe mais milhentas coisas, entre elas uns DVDS preciosos de comédia francesa), tem tudo isto. Já explico o que é. Deixem-me só dizer que cometi uma incorrecção ao dizer que foi o meu primeiro presente. Na verdade, foi o último. O que ela me deu no limite do acesso para a porta de embarque, já nas cenas habituais de despedida, para grande divertimento de outros passageiros que devem ter achado estranho duas mulheres já crescidas na choraminguice (sou muito má em despedidas, mas ainda me ri porque o jovem segurança lhe perguntou se estava tudo bem ao ver o seu ar desgraçado. Eu, como nao tinha bilhete, bem podia morrer ali que o tipo não se ralava nada). Com a recomendação de só o abrir em casa, meti-o na mala, para abrir mais tarde. E saiu-me isto:





E isto o que é? Pois que é uma caixinha de 'Daily's Fortune',. Assim tipo um bolinho da sorte chinês, mas sem o bolinho. E para que serve? Para enfoque. Para não se perder a perspectiva. Supostamente, terei de tirar todos os dias um envelopezinho, abri-lo e ler a minha frase de enfoque para o dia. Isto valerá o que vale, mas se formos a ver pela amostra, a coisa não é descabida de sentido. A minha frase de enfoque de hoje, já traduzida da língua de Astérix é a seguinte:


Seja fiel na amizade.


A vida passa, mas os melhores amigos permanecem para sempre.


É um facto. E, como com todos os factos, assimilamo-lo e guardamo-lo num recanto qualquer do cérebro, regra geral só voltando a pensar nele se confrontados. Isto será então um 'daily reminder' para ser positiva e ver a vida como um copo meio cheio e apreciá-la menos como um facto e mais como uma energia.

Assim sendo, Santa Claus, gosto muito de ti, mas acho que já não precisas preocupar-te muito com o meu sapatinho. Apesar de granducho, acaba por já ter pouco espaço para coisas que não tenha e de que precise muito muito muito para viver. As pessoas que me rodeiam encarregam-se de mo ir enchendo de coisas essenciais volta e meia, mesmo que eu nem sempre consiga ver isso da melhor forma e precise de abrir envelopinhos todos os dias para pensar nisso. Tenho 500 dias para encasquetar a filosofia, Estou confiante que deve chegar!

Mas, como não ranhosona, vou imbuir aqui o tasco de espírito natalício e escolher umas músicas de Natal até que a quadra passe. E se alguém quiser cantar Christmas Carrolls à minha porta, como fez o mocito do 'Love actually', na minha cena romântica de eleição, pois que estejam à vontadinha. Especialmente se tiverem a cara que ele tem! ;)

* o autor pressupõe a diferença intrínseca entre 'presente' e 'mimo'. Dar um presente é um acto íntimo. Um mimo é uma atenção, que requer um estudo menos elaborado, embora seja conveniente conhecer minimamente os gostos da pessoa que se quer presentear. Incluo nos mimos, os chocolates, os sabonetes, os gadjets, etc. São presentinhos só para dizer 'pensei em ti'. Um presente diz muito, muito mais. Mas gosto dos dois, sim? Estejam à vontade!

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

E se ele estivesse barrado a ouro, também o deixavam ficar?

Passei esta manhã por um cãozinho morto em cima do passeio. Não na estrada, não na berma, mas em cima do passeio.
Carregada de sacos, e com Sasha pela trela, abeirei-me apenas para confirmar que nada podia ser feito pelo pobre animal e não tive outro remédio que não seguir em frente. Não conseguiria levantá-lo sozinha, não tinha nada onde o pudesse embrulhar, nem saberia onde po-lo. O contentor de lixo nunca me pareceu adequado. Só recorri a um, uma vez, porque não tinha como sepultar o gatinho que retirei ainda morno do meio da estrada onde o filho da puta que o matou o deixou a agonizar. Perdoem-me o vernáculo, mas estas coisas transtornam-me. Todos os animais que perdi foram sepultados o melhor possível, e o respeito que por eles tinha em vida nunca se alterou na morte. Antes pelo contrário.
Senti-me cobardemente grata por não poder ignorar mais os puxões da Sasha e deixei-me arrastar para a frente, mas a remoer. Não suporto ver animais mortos e não consigo ignorar o facto. Nos despojos da vida ceifada não eram visiveis quaisquer sinais de violência; não sei o que causou a morte ao pobre animal, não o conhecia das redondezas, mas a sua imagem acompanhou-me o dia todo. Sei que não merecia com certeza ficar no meio do passeio à chuva, como um objecto sinistro e inanimado. Sei que merecia ter um dono preocupado, que o mantivesse seguro. Sei que merecia que alguém quisesse saber da sua sorte. Mas resignei-me a admitir que naquele momento não podia fazer nada, e segui, confiante que o caso seria resolvido (sem no entanto querer perder muito tempo a pensar nos detalhes do sítio onde acabaria o cãozito, por calcular onde seria e achar a ideia insuportavelmente deprimente). É como se diz 'it's a dirty job but somebody's got to do it'. Só não queria ter de ser eu, confesso, porque vivo estas coisas com demasiada emoção. É assim, e quem achar que é estúpido pois que esteja à vontadinha. A mim pouco me importa.
À noite, quando voltei para casa, ou seja mais de doze horas depois, o animal continuava no mesmo sítio. Não queria acreditar! Em toda a populaça que aqui mora e por ali passa diariamente, não houve ninguém que tomasse a iniciativa de fazer coisa alguma. Está ali um cão morto. Ah, pois está... Basicamente isto. E o bicho não é pequeno, é um cão de meio porte e está ao lado da farmácia e em frente das floristas. Raios, está quase na passadeira e a ocupar um dos raros e cobiçados lugares de estacionamento. Não é que passe despercebido! Não acho normal não ter havido uma das almas que passa ali o dia inteiro que fosse capaz de pelo menos tapar o animal e fazer a porcaria de um telefonema para a Câmara Municipal para o irem buscar para incineração.

Pessoas destas, ineptas, sem qualquer tipo de lucidez pro activa, agoniam-me.

Pessoas destas, provavelmente passariam por uma pessoa morta na rua e seguiriam, fingindo não ter dado conta.
Porque não quero ser este género de pessoa, amanhã de manhã, se o animal ainda lá estiver, esta que vos escreve vai pegar no que encontrar aqui em casa e vai tentar amortalhar o pobre bicho para, pelo menos, lhe esconder o corpo dos olhares indiferentes desta gente horrorosa, que o esteve a ver morto no passeio todo o dia e achou banal.
E depois querem que uma pessoa ande bem disposta...e há condições, tendo de viver num mundo laxista como este se está a tornar??

O meu 'John Doe' canino era parecido com o desta foto, e assim lhe presto homenagem. À falta de mais alguém que se rale...

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

O que tu queres sei eu...

Dia de sol e frio cortante, daqueles como eu gosto.
Saio do Metro no Campo Grande. O Estádio do Grande ergue-se orgulhoso à minha frente. Sorrio, e vou contornando, chapinhando alegremente nas pequenas poças que reflectem as cores do arco íris. Ainda não são nove da manhã e eu não estou no escritório! Vou para a Medicina do Trabalho, e é com satisfação que antevejo as cerca de duas horas que vou passar em medições, pesagens, exames respiratórios e quejandos. Sempre são menos duas e uns pós que passo lá no sítio do demo.
Tenho o meu plano delineado: vou queixar-me muito ao sr. Doutor e fingir-me muito desgraçada, para ver se em vez do 'apto' me aparece um 'condicionado' na ficha, e se tenho de ser assim tipo, reformada mais cedo!
Corre tudo dentro do normal. A técnica de análises observa-me os braços e pergunta-me em qual prefiro. Digo' Tanto faz' (não fiques é três anos a apalpar-me as veias, que não suporto), e ela põe-me o garrote no direito. Inicio o meu ciclo de concentração, encosto-me e respiro fundo. A agulha aproxima-se e eu fecho os olhos. Mas não acontece nada. Abro um olho. A moça olha dubitativamente para o monstro inchado de azul e decide que não gosta daquela veia gigantesca. Muda de braço, e diz 'esta é melhor'. Eu olho, e não há veias à vista ali, mas ela deve saber o que faz. Digo um oração rápida, apelando aos santinhos do anti trombolho, para que o meu braço não se torne num. Resulta. Saio com os dois braços funcionais, rumo à espirografia.
A espirografia mede a nossa capacidade pulmonar. Fixe. Soprei três vezes e aquilo não passava do 'suave'. Tem de soprar com mais força, diz a mocinha. Eu soprei com força. Pois, mas tem de ser mais. Peço desculpa por não consiguir arfar como um cavalo, mas repito até estar no 'normal'. Saio dali cansadíssima, e ainda sem pequeno almoço. Questiono-me se é normal fazer um exame até que dê normal, mas como não sou médica, sigo para a consulta.
Desta vez não é a médica despachada que me diz olá e adeus num instante. Não, não, não. Hoje calha-me um mongo by the book, que me debita as perguntas todas que o seu monitorzinho lhe manda e não se ri das minhas piadas, que eu mando para o ar, na tentativa de o fazer entender que não tenho culpa se ele não conseguiu entrar para neurocirurgia, mas que tenho mais que fazer que estar a contar o meu historial clínico desde o fim dos anos setenta! Até porque já está na minha ficha. A conversa ganha interesse quando ele me pergunta se tenho queixas físicas decorrentes do meu trabalho. Recosto-me e pergunto-lhe quantas horas é que ele tem. O 'Trombas' não se ri. Suspiro, e debito-lhe laconicamente: stress, opressão, dores de cabeça, taquicardias, choro convulsivo on occasions e agora também estou pitosga. Pergunta-me: e o que pode fazer para alterar o estado das coisas? Olho para ele e digo: se calhar mudar de emprego, não? DAHHHHHH!! HELLO!!!!!
Confesso que o trombas me irritou deveras. Mandou-me também tomar fontes de um ácido qualquer, de nome irreproduzível, e quando eu lhe perguntei onde é que eu encontrava o estúpido ácido olhou para mim como se fosse de Marte e, como se eu tivesse dois anos, repetiu: então, onde é que encontra o ácido n sei das quantas? Ora eu, que gosto pouco que me façam de parva, voltei a dizer-lhe que não fazia ideia, e que se o ácido tivesse outro nome que eu pudesse reconhecer sem um compêndio de medicina talvez fosse mais fácil. Ignora-me e responde-me: nos citrinos, não é? Concluí que o tal ácido devia ser o cítrico na sua fórmula amaricada e desejei mentalmente que lhe caisse o candeeiro na cabeça.
Depois de sugerir veladamente que talvez não fosse pior ser seguida (por quem, não sei, mas palpita-me que devia estar a referir-se à minha saúde mental, o grande estupor) mandou-me para o exame de visão, no gabinete 15.
Passados 10 minutos ouço chamarem o meu nome no outro lado do corredor, muito muito longe do 15. Pego nas dez mil tralhas que carrego sempre comigo só Deus (e a minha mãe) sabem porquê, e apresso-me a percorrer o corredor, maldizendo o médico que nem um nº de gabinete sabe indicar em condições. Entro numa sala com biombos e aparece-me um homem de bigode e bata branca, que me diz:
- Bom dia! Ponha as suas coisas em cima dessa mesa e dispa-se da cintura para cima.
Excuse me????
Fico a olhar para ele...euh...tenho de me despir para um exame de visão?
E ele diz: não, vai fazer um electrocardiograma
E eu: quem, eu? Olhe que não.
E ele: sim, sim
E eu: Não, nao. não tenho isso na minha grelha, e saco do meu papel onde não estava nada que envolvesse tirar a roupa.
E ele: tem, tem. E saca da dele, onde dizia que sim.
Já eu me imaginava a ser barbaramente violada por trás do biombo, quando felizmente aparece uma enfermeira que constata que pos a cruz no sítio errado. Pego nas minhas coisas e fujo a sete pés do rebarbado. O que tu queres sei eu! Ainda se fosses giro...vai mas é pregar eléctrodos no barrigudo que está lá fora!
Haverá alguma coisa banal que não se transforme num acidente cósmico quando é comigo? Não sei, pergunto, assim desinteressadamente....