sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Salto Quântico

Quando era miúda adorava fazer composições. Nunca tive o dom da síntese - como por certo já terão percebido pela extensão absurda da maior parte dos meus textos (e, lamento, este não será excepção) - e escrevia autênticos testamentos que eram geralmente lidos no quadro, para divertimento de muitos coleguinhas, e invejice de outros pobres de espírito (Patrícia, continuas parva!) (e estás feia!) (toma!)

Os temas eram variados, mas havia sempre os incontornáveis ‘quando crescer quero ser...’ e ‘se pudesse viajar no tempo seria...’.

Sendo que, quanto ao crescer, a partir de agora só se for para os lados, detenho-me uns minutos sobre o ‘se eu pudesse viajar no tempo seria...’.

A parte absolutamente fútil da minha pessoa levar-me-ia a responder, de caras: dama de companhia na Corte de Luís XIV. Mas nobre, claro. Nada de aia vinda do poveco. Porque não a própria da Rainha, perguntarão vocês. Bem...primeiro porque a pobre Marie-Thérèse não brilhava pelo seu intelecto, e depois porque era chifruda. Não estou cá para aturar um homem que durma com outra(s), ainda que seja Rei de França. Era o que mais faltava!
E depois porque é muito mais giro ser coquette e espirituosa e ter os imbecis dos príncipes, duques, condes e viscondes todos a suspirar pela discreta e elegantérrima Duquesa (gosto mais do título de Condessa, mas os Duques são mais ricos), do que ser Rainha e só ter salamaleques interesseiros. O poder tende a atrair gente engraxadora e isso é uma coisa que eu não suporto, e a ter de incarnar a babaca da Marie Thérèse, que possuía a retórica de um rato do campo, não lhes poderia dar as tiradas sarcásticas que eles mereciam e, por conseguinte, ficaria frustradíssima. E para ficar frustradíssima, deixo-me estar no escritório e poupo a desagregação molecular de uma viagem ao passado!

Confesso que gostaria de ocupar grande parte do meu tempo em Versailles. Desfilar, de queixo elevado, nesta galeria, vestida de ríquissimos veludos brocados (admitamos que seria inverno, porque o veludo no Verão é capaz de ser muito quente), com os cabelos presos com travessas cheias de pedrarias, e joias maravilhosamente discretas, para não ofuscar a minha estonteante beleza natural.
Galerie des Glaces - Palais de Versailles
Ser passeada de barco no lago (obviamente não seria eu a remar que se me romperiam as finíssimas luvas )
Frequentar os bailes e deslizar graciosa pelos salões engalanados.
Bordar, pintar, ler os clássicos e dar passeios a cavalo pelos verdes bosques circundantes.
Em suma, experimentar o Absoluto ócio. Isso é que eu que gostava. Muito!
Futilidades à parte, sempre gostei do tempo dos Mosqueteiros. Havia Honra. Havia Glória. Havia Esforço. Havia Dedicação. Hum...isto soa-me familiar. Oh Céus, já se elevava o meu Sporting naquela altura!!!! Sempre achei que D’Artagnan, a gostar de futebol, seria Sportinguista. De verdade: o pobre homem também esperou a vida toda pelo seu título de Maréchal de France que, tragicamente, no fim do sexto volume de ‘Le vicomte de Bragelonne’, do meu bem amado Alexandre Dumas*, lhe foi entregue quando agonizava, trespassado pelo fogo da artilharia inimiga. Ou nem sei se não terá o estafeta chegado tarde demais, o que justificaria o profuso choro que me lembro ter pautado as últimas linhas que li.

Brincadeira (que surgia espontanea e inesperadamente) à parte, nesses tempos, os bons eram mesmo bons. Honrados, com princípios, corajosos e honestos. Podiam cheirar mal, mas eram ´comme il faut'. Hoje cheiram todos muito bem, mas na maior parte... são umas bestas.

* Não foi só o Tolkien que escreveu uma trilogia: A história de D’Artagnan começa efectivamente com ‘Les Trois Mousquetaires’, mas continua em ‘Vingt Ans après’ e termina com ‘Le vicomte de Bragelonne’. Se bem me lembro, já lá vão uns anos valentes, este Vicomte era o filho de Athos e Milady de Winter ( essa grande cabra!)

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Eu só queria beber o meu chocolate quente em paz...

No outro dia decidi convidar a minha mãe e a minha irmã para tomar um chocolate quente numa pastelaria ali perto de casa.

A dada altura, enquanto eu estava junto da caixa a pagar, ouço-as em dissimulada risota, o que, invariavelmente só pode significar uma de duas coisas: ou estão a gozar comigo, ou estão prestes a fazê-lo.
Com o mode em red alert, regresso a mesa e com seráfico sorriso, grunho:
O que é que foi? Vá!!
A Mana: nada, nada, estava a pensar numa coisa que me disseram...
E a minha mãe vá de olhar para o ar, e a minha irmã vá de se matar a rir. A coisa prometia...

Recostei-me calmamente, o sobrolho esquerdo franzido em not amused inquirição.

Por entrecortadas frases, pontuadas de gargalhadas e faltas de ar, consegui que o monstrinho me pusesse a par. E o que gostei da revelação!

Parece que o chefe dela – com quem, de todo, não privo, e a quem não creio ter alguma vez endereçado palavra– acha que eu seria ideal para um amigo dele que andará pelas ruas da amargura. Parece também que o rapazito amargurado, apesar de pouco atraente, é culto e muito atinado, mas que precisa de uma mulher mais velha (note-se a delicadeza do animal chefe!). E que tinham – a minha irmã e ele - de nos arranjar um encontro.
Toda a gente sabe que eu ABOMINO estas palhaçadas. Como tal, o meu grau de pré apoplexia foi em crescendo desde a frase 'o meu chefe tem um amigo...' até ela acabar a exposição da coisa. Limitei-me a olhá-la fixamente, em mode ‘não posso crer que me estás mesmo a contar isto’ e a tentar afastar da minha mente esta imagem:




...mas consegui controlar-me e quando reganhei consciência ainda a ouvia a falar:


Ela (a tentar redimir-se): eu sei que não queres...ha ahahahah
Eu: que perspicaz da tua parte!
Ela: mas foi tão engraçado...hahahahah...
Eu: é, estou aqui que não posso de tanto rir!
Ela:...a tua cara...hahahhahaahhaha


E vá de rirem as duas.

E é isto a minha vida...

Da Mana tratarei oportunamente (não há Acqua di Gio este ano, que é para aprenderes!). Agora só tenho de descobrir que carro é que conduz o chefe, e redecorá-lo com uns riscos a mão livre. Tenho uma chave de fendas muito jeitosa para o efeito. Depois pode pedir ao amigo amargurado que o ajude a polir!

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Spleen

E porque tudo o que tem um início tem de ter um fim, este post completa um círculo.
No post passado anunciei subrepticiamente ao mundo mais uma da minhas neuras. No equilíbrio precário em que vivem as pessoas de humores voláteis, de que eu me autonomeei embaixadora, qualquer catalizador serve para mergulhar nas profundezas do spleen.
‘Spleen’ é uma palavra que vi pela primeira vez num belíssimo poema de Baudelaire. É usada, em francês, para definir um estado de melancolia, nostalgia, tristeza ou profundo tédio. E ainda para definir as saudades da terra natal.

Foi um profundo ataque de Spleen que me assolou quando fui ver o filme ‘Paris’. Recomendado por um amigo mais atento do que eu, que ainda por cima me enviou o Trailer, (obrigada N.), o que me deixou logo de coração palpitante e olhos marejados. Traduzi a sinopse ( a original) mais abaixo para quem quiser ir espreitar, e recomendo, claro, para quem gosta de cinema francês. Mas para o cinéfilo incauto será só mais um filme, com planos bonitos de Paris, um argumento interessante e uma surpreendente Juliette Binoche, de quem nunca gostei muito, e que, pasme-se!, me conquistou por completo. Ela, ou a sua desencantada personagem. Talvez seja mais honesta esta frase. É um filme repleto de dramas pessoais, muito ‘normal’para quem o vê só com olho clínico. Para quem, como eu, o absorve com os olhos da alma, a história já é outra. Embirro solenemente com as pessoas que dizem que só se percebe o que é ser mãe quando se é mãe, mas não posso deixar de fazer esse paralelismo com Paris. Só percebe o que é Paris quem lá viveu. Paris entranha-se e não nos abandona mais.
Por isso entrei na sala já de lenços de papel no bolso.
Por isso desatei a chorar assim que apareceu o primeiro edifício.
Por isso tive de abafar um soluço profundo ao ver o plano em que a neve cai sobre a cidade.
A minha cidade...

O filme foi o pretexto de que o meu spleen omnipresente precisava para se manifestar. Às vezes é preciso deixá-lo respirar um bocadinho e acalmar-se, antes de o voltar a empurrar para o seu lugar secreto. Agora já está quietinho... embora mais apertado, que o lugar secreto já tem dificuldade em contê-lo...
Ia mandar beijinhos franceses para todos, mas lembrei-me (a tempo!) de que french kissing indiscriminado soaria a badalhoquice!
Assim sendo, cordiais saudações! ;)

É a historia de um parisiense que está doente e que se interroga sobre se vai morrer. O seu estado dá-lhe um olhar novo e diferente sobre todas as pessoas que ele cruza. O facto de encarar a morte subitamente fá-lo valorizar mais a vida, a vida dos outros e a da cidade inteira.
Vendedores, a dona de uma padaria, uma assistente social, um dançarino, um arquitecto, um sem abrigo, um professor universitário, uma modelo, um camaronês clandestino...
Todas estas pessoas, opostos à partida, encontram-se reunidas nesta cidade e neste filme.
Podem pensar que eles não são excepcionais mas, para cada um deles, a sua vida é única. Podem pensar que os seus problemas são insignificantes, mas para eles, são os mais importantes do mundo.
Cédric Klapisch

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

O Palhaço

Não, não vou falar de ex namorados nem de chefes (ai , caroço, que não posso dizer isto aqui!!!! ;)))

Não sei porquê, hoje lembrei-me da minha tia Lurdes (que não era bem minha tia, mas é uma longa história) e de uma prenda nos longínquos anos 80. Em vez de um livro, desembrulhei (contrariada, claro) um disco infantil. Um 33 rotações. Desenganem-se os que pensam que se tratava dos Onda Choc ou Ministars ou do último êxito dessa grande referência musical da minha infância, a Suzy Paula. Não. Era um disco para o qual eu olhei com profundo desdém, e que atendia pelo nome de 'Operários do Natal'. Devem estar com a cara com que eu fiquei, especialmente porque até estávamos em pleno verão! Ainda assim, não desarmei, e com o sorriso branco-cru-a-atirar-para-o-amarelado, virei-o para ver os títulos e tentar perceber o que não tinha percebido pela capa, que carinhosamente reproduzo (afinal, parece que não fui eu a única a receber o disco, há por aí mais blogues com esta referência)
cheia de bonecos estranhos, que para mim não tinham qualquer relação aparente. Os títulos também eram sugestivos:

Os amigos

O lenhador

O carteiro


A costureira

O palhaço
Também me lembro da tia Lurdes me dizer para não mostrar muito aos meus amigos, porque os operários eram todos comunistas e podiam pensar que eu também era. Ora eu, com oito ou nove anos, ligava tanto a isso que tive de lhe perguntar o que a palavra queria dizer. A explicação foi tão boa, que ainda hoje não entendo muito bem o conceito, mas isso são outros quinhentos.
Comecei a tomar gosto pelas músicas, e depressa as sabia na ponta da língua. O 'Operários de Natal' tocava alternado com o 'Fungagá da Bicharada' numa cacofonia non stop, a que se juntaram mais tarde os Onda Choc (claro que ofereceram o disco à minha irmã, trauma que nunca superei) e os seus fabulosos covers dos hits internacionais do momento.
Anyways... retenho ainda hoje as letras de muitas das canções dos ditos operários. Letras simples, para crianças, mas com a participação do grande Ary dos Santos, Fernando Tordo, Carlos Mendes e Paulo de Carvalho, era de esperar que surgissem algumas pérolas.
Tenho-me lembrado muito desta:
'Quem se ri com os palhaços
desconhece que hora a hora
num palhaço que se ri
há sempre um homem que chora'
Nunca gostei de palhaços, no sentido de que nunca lhes achei muita graça. Berravam que era um disparate, assustavam-me com as buzinas estridentes a 'destempo' e os sapatões que esguichavam água, e sempre os achei muito pategos e pouco divertidos. Talvez por centrarem a graça na exploração do ridículo, que é uma coisa que não me excita por aí além. Sempre fui muito 'esquisitinha', assumo. Nunca gostei de palhaços, mas fui sempre sensível ao homem (ou mulher) por trás da boca de Joker e narigão vermelho, a desmaquilhar-se no seu camarim e a sair para o mundo real, onde a vida tem certamente menos graça e onde o público não é uma massa anónima que o aplaude mas um semelhante que o olha com indiferença, senão mesmo com desdém. Se formos ver, hoje em dia, o termo 'palhaço' tem mais de insultuoso que outra coisa. Que o digam os árbitros de futebol...
Não sei, no fundo sempre tive a ideia de que os palhaços são pessoas de carne e osso um pouco tristes. Por isso gosto daquela quadra dos operários. E, de vez em quando, lembro-me dela, quando nos dias de neura ainda consigo armar um sorriso, e dizer meia dúzia de piadas para alegrar alguém, ou apenas para me manter do 'lado de cá' da sanidade. Não gosto do palhaço, mas tenho muito respeito pelo homem que lhe vai dando vida. Lá diz o ditado: quem vê caras não vê corações, que é como quem diz, os palhaços também choram!
Chorar para dentro também é arte.
Este post foi claramente 'palhaçada' minha...mas já na fase ascendente pós-neura. Passou quase despercebida, certo?
My point exactly...

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Até a Vénus de Milo perdeu a cabeça...



...com o sorteio da Taça! SCP-FCP??? Já???


Está uma pessoa placidamente a começar um post sobre as suas desventuras artísticas e estala a bomba! Mas que droga! Enquanto isso, outros há que jogam com Desportivos das Aves e afins...Tá mal!


Agora já fiquei irritada e já nem me apetece muito dissertar sobre o meu primeiro desenho. Mas como já inseri a foto mesmo...


Ora a minha primeira aula foi, por assim dizer, traumática. Senti-me muito burra. Não fosse eu uma pessoa habituada a sofrer e teria fugido a sete pés ao dar com todos os colegas de braço esticado e lápis em riste, a tirar medidas 'à pro'. Eu, como de pro não tenho nada, nem nunca tive aulas de desenho na vida, não me armei e continuei a tirar as medidas a olho. E a fazer as sombras com o dedo. O que, vim depois a descobrir, nunca se faz! Começou bem!


Mas nem tudo foi mau. A composição do desenho ( a Vénus ao centro sobre o pedestal com um pano não engomado, a sua sombra à esquerda, e a sombra de outra estátua à direita) parece ter agradado e não tive reparos às proporções (apesar de achar que não estão perfeitas ali para o ombro direito) ao passo que os coleguinhas do lápis em riste levaram o reparo do prof: 'reparei que toda a gente estava a tirar verticais e horizontais com o lápis. Pena foi que isso não se tivesse reflectido depois no papel' (eu sei que é feio, mas sabe tão bem: bem feito! Para não se estarem a armar!).


Recapitulando: Para além de ser a única que parece nunca ter tido aulas de desenho, não domino as técnicas do sombreado e levei na cabeça (embora delicadamente) por 'sujar' o trabalho ao botar o dedo para sombrear. Ainda assim, a directora disse que 'tá giro'. Giro não é sinónimo de bem feito, mas também não quer dizer 'é um vómito, vai para casa!'. Portanto, apesar de achar que a vida me vai correr mal hoje de novo, persisto. Hoje temos de desenhar uma estátua masculina com as 'suas vergonhas' ; temo o pior que na Antiguidade 'aquilo' não era muito grande e eu ao longe vejo mal!

Não vi todos os desenhos, mas vi uns mais feios que o meu, e outros muito, mas muito mais giros. O meu orgulho sofre horrores no meio daqueles inspirados todos... Raios!!! E há lá uma moça que desenha que é um sonho. É quase ofensivo o que a miuda desenha! É desesperante saber que nunca conseguirei desenhar assim. Mas que se lixe, só o gozo que me dá estar na FBAUL vale o desgosto de ser apenas mediana...Enfim, pode ser que melhore se trabalhar assim muito, muito,muito, muito, muito, muito, muito...e ainda mais um pouco depois disso!
Não faz mal, que o Van Gogh e os outros impressionistas também passaram horrores antes de serem reconhecidos! O que não nos quebra torna-nos mais fortes. Assim espero!
E viva o Sporting! (não sei, pareceu-me adequado)

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

A Besta

Andei largos anos a pensar que o berbequim era o utensílio mais difícil de usar. Até ontem. Ontem, tive a noção real de que o Inferno existe também fora do escritório e que os pequenos servos de Satã se escondem sob as mais insuspeitas formas. Ontem, vislumbrei o desespero. Ontem, quis defenestrar-me (só não o fiz porque ainda não tinha lanchado e porque nutria a secreta esperança que o Penafiel ganhasse na Luz...).
E perguntam vocês: que raio andou ela a fazer?
Nada. Absolutamente nada. Essa é que é a grande ironia. Gostaria de ter feito, mas o Demo estava a gozar comigo. O Mafarrico tirou a tarde para me infernizar. O Chifrudo enviou o seu instrumento do Mal para me levar à loucura.

O Diabo - só pode ter sido ele a soprar-me esta ideia estúpida ao ouvido - fez-me comprar isto no Lidl ( mas a preço muito jeitoso, diga-se em abono da verdade):


E eu, que ando numa fase de querer saber fazer tudo (menos mecânica automóvel ou física quântica) e não percebo, a bem dizer, nada destes engenhos de fada do lar, achei que era boa ideia saber usar uma máquina de costura, e que isso faria crescer as minhas hipóteses de sucesso junto do sexo oposto:‘vê, querido, que bem sei casear em zigue zague’. O que, como toda a gente sabe, é uma coisa a que os gajos não resistem!

Passei horas infinitas a tentar vencer os caminhos de Satanás, mas não logrei domar a Besta. Não fiz nada deste engenho das Profundezas Sulfúreas. E Dante pode ir passear com o seu ‘livrinho’, porque o Inferno dele é um conto infantil comparado com a tortura infligida ao meu cerebelo ao tentar seguir o manual e compreender a terminologia das 37 infernais pecinhas referenciadas.

Capitulei e fui buscar reforços. Chegou a minha Mãe... e depois foi Inferno a dobrar. Eu queria seguir o manual e ela, exímia costureira, ia-me buzinando informação e mexendo em tudo, e fazia coisas enquanto eu estava a ler, e quando eu chegava à linha dois já ela tinha passado para a outra folha... Passo os detalhes sobre a discussão acesa e as ameaças de mummy, já farta de me ouvir reclamar, e que começaram do agastado ‘daqui a bocado fazes sozinha’ ao ‘daqui a nada levas um estalo’ (mana pode testemunhar, pois foi aí que ela deixou de gozar comigo e ficou de prevenção para o caso de haver cenas de pugilato infanticida).

Moral da história: a máquina voltou para dentro da caixa. Tento de novo quando tiver comprado o Xanax!

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

O galo deu-me uma folga

Subi a rua a olhar para o relógio. Ainda faltavam dez minutos. Sem espiga…
Nunca fiando no meu sentido de orientação, interrompi educadamente a conversa de duas senhoras para lhes perguntar onde ficava o edifício. ‘Ah, é já ali, de onde estão a sair aqueles jovens’. Avancei, pelo meio dos jovens, com um misto de orgulho e apreensão, invejando-os secretamente por fazerem parte real do mundo para lá da escadaria.

A sensação de subir as escadas da entrada da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa foi como levar um murro no estômago. Sem a parte da dor. Só do impacto. Violento.
Hoje realizei um sonho de que nem tinha consciência.

Perdura o sorriso parvo que se instalou no meu rosto ao ouvir a coordenadora do curso - e directora da Faculdade - dar as boas vindas e dizer às vinte alminhas sentadas na sala clara e atravancada de rabiscados estiradores: ‘vocês são alunos das Belas Artes’.
O 'vocês' inclui-me a mim. Eu também sou, pelo menos até ao fim do primeiro módulo do Curso Livre de Desenho da Figura Humana. Calhando, até ao fim do terceiro módulo, lá para Junho de 2009.

Can you believe it? Eu ainda estou em choque, confesso. Absolutamente aterrada, porque há dias em que desenho como um porco maneta, mas deslumbrada com a perspectiva de aprender com quem percebe mesmo muito do assunto. Calhando, saio de lá a desenhar como deve ser…ou pelo menos melhor do que o porco!


Segunda feira começa a sério…
Um cheirinho do primeiro desafio, a amiga Venus de Milo...

(...só que a nossa não tem cabeça nem pernas. Coitada...)

Hoje foi só apresentação e visita guiada das instalações.

A faculdade está instalada num antigo convento do século XIII, que resistiu ao terramoto de 1755. Seguimos o assistente Viriato pelos corredores povoados de esculturas e paineis esculpidos, e descemos até aos acervos (ou asservos? não sei bem, mas não me apetece ir procurar), onde está guardado o espólio de esculturas. Tivemos direito a visita guiada e a breve explicação técnica sobre o processo de moldagem do gesso. O Viriato, nosso assistente, tem um fraquinho pela escultura, e um grande amor pelos seus ‘bébés’, mas reconheci-lhe o desencanto de quem quer fazer mais e não pode, de quem perdeu a fé num sistema que permite que dezenas de gessos se acumulem numa catacumba húmida, sem qualquer serventia e sem qualquer respeito. Fiquei chocada. Tinha ideia de que o património era mais bem tratado, especialmente estando sob a tutela de quem o estuda, e de quem tinha por obrigação dar-lhe um tratamento mais condigno. Houve quem comentasse ' Portugal no seu melhor' e estou inclinada a concordar.

Depois, fomos em pequenos grupos de cinco, até uma aula a sério, já com um modelo vivo (e vestido de ar. E que bem vestido estava, raio do moço…) e ainda deu para espreitar a papelaria, onde milhares de tubos de óleos e acrílicos gritavam ‘Safira, leva-me para casa’. Palpita-me que lá vou gastar uns trocos. Palpita-me que vou ter de pedir aumento ao patrão. Palpita-me mais ainda que ele me mande pastar...o patronato anda forreta ultimamente. Damn it!

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Já não se fazem mães como dantes...

Diálogo entre a minha excelente pessoa e a minha digníssima progenitora, no outro dia, enquanto víamos a roda da sorte:

Eu: epá, não arranjavam uma mulher mais feia para assistente?

Progenitora: mas quem?

Eu: Ó Mãe, aquela coisa que tá ali, horrorosinha e parva.

Progenitora: Mas o que tem a moça?

Eu: ai, sei lá, é tótózinha. E é aquele cabelo horroroso...

Progenitora: E já viste o teu?

Eu (depois do choque): E o que é que tem o meu cabelo???

Progenitora: Tá horroroso, parece que foi lambido por uma vaca!


Os astros que conspiram contra mim já conseguiram comprar a minha própria mãe. Ok...

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Não há nada a fazer...

Ontem cheguei à gym atrasada.
Pego no step e coloco-o no chão sem ver o que estava a fazer, para tentar apanhar o ritmo.
Ouço a Paula (prof) dizer: 'Patrícia, tens o step muito alto', mas continuo na minha, principalmente porque não me chamo Patrícia. Só quando ouvi: 'epá, Amy, tu não és Patrícia?' é que percebi que era comigo...
Resultado, disse-lhe que mais valia chamar-me Amy, mesmo...que pelo menos sei que sou eu.
E ela ficou tão feliz que, no relaxamento, anunciou à turma 'agora vou por uma música de uma cantora muito parecida com uma aluna minha' e relaxámos ao som de 'Rehab', que é uma canção altamente inspiradora para mente e corpo são.
Não sendo assim tão parecida com a Amy, começo a achar estranha esta fixação. Das duas uma: ou a moça gosta mesmo da música da outra, ou acho que me devo começar a preocupar a sério com esta atenção toda.
Que seria bemvinda se fosse de um monitor gajo. Assim sendo, de facto, MEDO!!!!

Perfect day






Oh it's such a perfect day....




I'm glad I spent it with you...






Such a perfect day...



you just keep me hanging on...



Tenho a certeza de que o Lou Reed não dedicou esta canção a um labrador amarelo, mas eu cá gosto de ser diferente...

terça-feira, 7 de outubro de 2008

A lei da compensação

A minha prima enviou-me uma foto tirada este verão, na Lagoa de Albufeira. Nela pode ver-se aqui a vossa amiga, com os três miúdos dela: um gémeo de cada lado e o bebé ao colo. É uma foto feliz, que coloquei ao lado das outras fotos em que estou com os bébés da família ou dos amigos ao colo. Tenho dezenas de fotos com crianças...alheias. Estão todas giras, modéstia à parte, até fico mais risonha com os pequenos traquinas por perto, mas a verdade é que não pude evitar uma pontinha de tristeza por ver que acabo por pedir emprestadas as crianças dos outros para experimentar um pedacinho dessa coisa aparentemente banal a que chamam maternidade.

Por esses dias da foto, também raptei os gémeos da prima para um passeio cultural ao Farol do Cabo Espichel. Retenho da visita, mais do que a história do farol desde o início dos tempos (e que demorou quarenta e cinco minutos a ser debitada pelo simpático senhor) o sentimento inusitado de orgulho parvo por estar encarregue daqueles dois miudos de dez anos. Durante duas horas, fui eu quem lhes deu a mão, quem lhes respondeu às perguntas (especialmente o 'falta muito?' e o 'quando é que o senhor acaba?'), quem lhes repetiu dez mil vezes 'portem-se bem', quem fez de rei Salomão quando um tirou a máquina fotográfica do outro e desatou a fugir com o ultrajado a berrar atrás dele, quem os pôs a ambos de castigo por não terem parado senão à décima quarta advertência, e quem se certificou que os cintos estavam bem apertados antes de arrancar com o carro. Nunca faço isto, porque tenho poucas oportunidades para tal. Mas quando faço, modéstia à parte, faço bem. E por fazer bem, acho a vida um bocado injusta. Mas também já decidi não perder muito tempo com estas considerações absolutamente estéreis, e, depois do minuto e meio de blues, fui fazer outra coisa e esqueci o assunto.

Mas o Homem lá de Cima deve ter ficado a pensar nisso e deu-me um pequeno prémio de consolação. À tarde, levei o Boris ao vet para a vacina anual. A veterinária é louca pelo Boris, sempre foi, desde que ele era uma coisinha tinhosa que achei no meio da rua. E a verdade é que ela e a auxiliar agarraram-se ao gato como se ele fosse o Messias felino e elegeram-no o gato mais bonito do consultório. E depois da pica, que ele tolerou como um valente, sem fitas nem protestos, foi elevado a gato perfeito. E eu fiquei contente. E orgulhosa, pois então. Não tenho filhos, mas tenho o gato mais bonito aqui do sítio. Pronto.


E fiquei tão bem disposta que, mais tarde, na aula de ginástica, ri-me ao ouvir a prof. Paula a corrigir-me a postura com um sonoro 'Ó Amy, o pé é flectido, ok?'...
aahhh (suspiro conformado e, vá, ok, até acho piada ;))

domingo, 5 de outubro de 2008

Hoje está um glorioso dia de sol...



Mas, como eu sou uma rapariga bafejada pela sorte, o momento mais glorioso do meu dia há-se ser mesmo a próxima dose de cêgripe! Estou é a precisar de uma coisa destas:








A não ser que o Sporting ganhe. Isso também seria um momento deveras excitante! E quem sabe mais eficaz no combate a este estúpido estado gripal...

...que vem, como sempre, na altura ideal. Não podia ficar doente no tempo do patrão. Não. Tinha de ser no meu. Amanhã estou de férias e vou estar de choco. Não é para todos, só mesmo para os felizes eleitos do GCGA (Grande Círculo do Galo Absoluto) de que sou, como é sabido, membro honorário há largos anos.

E como não posso sair sem arriscar uma pleurisia (arriscarei mais logo para ir ver o jogo, mas como vou enrolada no meu cachecol leonino, não deve haver problema), vou-me entretendo por casa a fazer vídeos sádicos. Teria muito gosto em partilhar convosco o excelente 'Os últimos instantes da varejeira Alice' mas tem 17 megas e, obviamente, não consigo fazer o estúpido upload. É pena, Boris esteve particularmente cooperante e consegui uma filmagem de grande qualidade das suas frenéticas investidas sobre a pobre mosca. O audio dos zumbidos de agonia ficou perfeito...

Bom, está decidido: amanhã, nem que esteja com 40º de febre, vou pedir a instalação do MEO com internet supersónica, que já não se aguenta a connect box da vodafone. ME AGUARDEM!

E agora, com licença, que vou voltar para o choco :(


(curioso, tinha vindo escrever um post sério, mas saiu-me isto...se calhar o cêgripe e o vinho que bebi ao almoço deram-se melhor do que eu esperava...)

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Porque no te calas?

Vou ter de ser rápida.
Não só porque a internet à borla é só das 9h às 16h, mas também (e especialmente) porque os espasmos musculares dos trícepes e bícepes estão a aumentar de intensidade e já tenho alguma dificuldade em elevar os braços acima da cintura.

Não, não me envolvi em nenhuma cena de pancadaria, até porque hoje é o dia da não violência. É pena é que nem toda a gente tenha aderido ao movimento pacifista. A minha nova professora de ginástica, por exemplo. Sim…recomecei no ginásio. Estou um caco, e ainda só passaram duas horas. Desconfio que não me vou conseguir mexer nos próximos 15 dias.

Mas foi uma aula refrescante: temos miúdas novas e são todas menos giras que eu (;)) e as mais giras não estavam lá (yes!). Temos também um menino, que se fosse esperto tinha-se inscrito na turma do ano passado, das miúdas dos tops giros e rabos de aço. Assim sendo, tenho muita pena dele… E até parece simpático, mas não sei muito bem o que é que anda a fazer numa aula de ginástica localizada. Não vou especular…

Também descobri que a minha nova professora é uma ‘engraçada’. No meio dos abdominais, combinados com elevação de pesos (2kgs em cada braço, donde os espasmos), chega-se ao pé de mim e diz-me algo de extremamente inovador:
Ela: ah…que giro, és tão parecida com uma cantora que anda aí na berra…
Eu (com os pesos para cima e para baixo e a barriga contraida, a revirar os olhos, pensando 'mas alguém te perguntou alguma coisa, amiga? Hum?'): yeah, yeah, sim já sei, a Amy (Whinehouse).
Ela: ah, já te disseram.
Eu: Só umas dez mil vezes… mas não é lá grande elogio, pois não?…
Ela (atrapalhada, e com medo que lhe desse com um dos pesos na tola): ah, não, mas tens muito melhor aspecto!

Fiquei a pensar com os meus botões que neste momento até uma rã perneta tem melhor aspecto que a Amy, mas resolvi calar-me, até porque é difícil falar com os abdominais contraídos e a mente concentrada para evitar uma fractura exposta do cotovelo por causa dos estúpidos pesos.

Mas fiquei um bocado irritada. Não ouço ninguém dizer que sou parecida com a Cindy Crawford, por exemplo. Acho mal…As pessoas têm a mania da sinceridade e mais não sei quê, mas e o nosso ego? Que chatice!
Mintam, pá! Ou então, calem-se!

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Tcharam revisited ;)

Agora já dá...

Podem ampliar e já aparecem os quadritos em versão mais detalhada.

O truque foi fazer um scan e gravar como jpeg em vez de pdf.

PS:Obrigada, Maria João!