terça-feira, 30 de junho de 2009

Ironias vespertinas

Vi este lindo anúncio preso no parabrisas da minha viatura quando me sentei ao volante para voltar para casa.
Não sei se este senhor me viu ontem a andar de autocarro no meio do povo, ou esta manhã a tentar reanimar a coisa defunta durante 17 minutos -o que consegui a duras penas-, o certo é houve aqui fina ironia do destino, pois desde ontem que ando a rogar pragas ao bólide caprichoso que me calhou em sorte. Não consegui, por isso, evitar um sorriso, e até dei desconto ao depreciativo 'até com mais de 10 anos'. Depreciativo porque o meu bólide infernal tem 11. E meio... pronto, ok, é velho!
Acontece que a minha viatura, para além de jurássica, também é fina: não trabalha com nevoeiro. Vendo pelo lado positivo, seria pior se eu morasse em Londres. Mas convenhamos que é moderadamente chato entrar no carro para ir trabalhar, dar à chave e rrrrrr....rrrrrr...tttttttt---pffffff....ttttt...pfffffff....pffff. E depois silêncio. Ocasionalmente quebrado por algum vizinho solícito: 'então, não pega?' (Não amigo, sou só eu que gosto dar à chave em vão para ver se consigo queimar a cabeça do motor). 'Isso é a bateria!' (não, sua mula, é mesmo o sistema eléctrico que é alérgico à humidade).

Após cinco anos destas fitas já lido bem com esta intolerância ao nevoeiro, isto é, já não dou pontapés nos pneus nem digo palavrões, e também já sei os horários dos autocarros e até acho piada quando chego atrasada e digo apenas: 'tá nevoeiro...' e toda a gente já sabe que não é suposto falar mais do assunto (o que não os impede de rir à socapa). Mas, epá, num habia nexexidade... é muito pouco fashion ter um carro que nos expõe ao rídiculo e nos deixa penduradas ao ritmo das indisposições de S. Pedro. Já para não falar do cabelo que frisa todo até à paragem do autocarro. Além de apeada, ainda fico a parecer um cogumelo mal parido.
Por isso, Mégane do Demo, ou te pões fino, ou vais para a prensa!
Imagino que terei saudades tuas quando estiver num carro novo (com sorte alguém me oferece o Mazda), que trabalhe nas quatro estações do ano, cujo ar condicionado funcione quando carrego no botão - e não quando o rei faz anos-, e cujo pisca da direita não tenha vida própria. Acho que vou ter imensas saudades tuas, Méganezinho... sim, sim!
Banda Sonora: When I'm sixty four - The Beatles
(espero trocar de carro antes...)

sexta-feira, 26 de junho de 2009

The king is dead, long live the king

Estou chocada. Estou chocada e estou triste, essencialmente. Grande parte das minhas memórias de adolescente estão ligadas à música de Michael Jackson. Não seria uma fã furiosa, mas passei muitas horas a cantar e a dançar os temas incontornáveis, que ainda hoje me fazem parar na estação de rádio que os estiver a passar. E, pese embora a fase mais obscura e excentricidades do homem, nunca deixei de o ver como um menino frágil e infeliz.
Também estou triste, mas não chocada, porque se confirmou o final doloroso de Farrah Fawcett, a loura bombástica que enchia o ecra nos 'Anjos de Charlie'. Nos tempos idos da minha infância, juntamente com as minhas primas, brincávamos aos 'Anjos de Charlie' e, apesar de eu sempre ter preferido a 'Sabrina', a mais discreta, achava a 'Jill' muito mais gira, e nutria secreta e irracional irritação pela prima a quem cabia o disfarce.
Acordei hoje com as duas notícias, e agora o mundo está diferente de novo. Reminiscências do meu baú das memórias desfilam inconscientemente na minha cabeça. Tendemos a acreditar que tudo é para sempre, embora saibamos que não. Tendemos a tornar os famosos e mediáticos em pequenos Deuses imortais na nossa cabeça, E volta e meia somos dolorosamente trazidos de volta ao mundo real. Sermos assim relembrados da sua mortalidade (e da nossa) é, no mínimo, perturbador.
Banda sonora: I just can't stop loving you, uma das minhas favoritas de Michael Jackson

terça-feira, 23 de junho de 2009

Nearly death experiences...

Três em três dias:


Hoje (agorinha mesmo): a maratona de visitas que tinha em atraso.
Estou que não posso, são duas da manhã e ando nisto há mais de três horas e começo a pensar que esta coisa da blogosfera é um full time job, se for para ser feito em condições. Além disso, tenho o olho direito prestes a explodir (deve ter algo a ver com os óculos, mas se o médico diz que as lentes estão bem prescritas, quem sou eu... e o facto de ter um derrame recorrente tb deve ser só mariquice minha, com certeza)
Hoje (ontem, mas como ainda n me deitei ainda é hoje): chegar 15m atrasada ao escritório depois de não ter metro em sete rios e ter de dar a volta a meia cidade para apanhar a estúpida linha amarela para mudar no marquês, e, já de humor cão e pouca vontade de ali estar, entrar no gabinete e dar com Dalila a boiar no aquário. Não quero falar sobre isso, na verdade. Há melhores formas de começar o dia do que a pescar um peixinho morto, especialmente quando é o nosso fiel companheiro anti stress há mais de um ano. Apetece-me praguejar violentamente, contudo, a bem de preservação do (pouco) nível intelectual deste espaço, não o farei.
Ontem (ou seja, anteontem): Subir a escada e dar com o meu vizinho a descê-la, em chinela e calção. Nada mais. Nem tshirt, nem blusa de cavas, nem uma malha de rede que fosse. Nada. Nada que me poupasse à visão dantesca do seu grotesco bandulho a bambolear, ora para a esquerda, ora para a direita, ao compasso de cada pé a apoiar-se nos degraus. E se fosse só isso, a malta ainda fechava os olhos e respirava fundo, imaginando.se numa praia em Aruba, rodeada de sósias do Jon Bon Jovi, para excomungar o monstro abominável que insidioso invadia o nosso campo de visão. Tentei, mas tive de desistir da parte do respirar fundo: o cheiro a cigarro está já tão entranhado naquela pele tisnada e coberta de velo, que à primeira inspiração, em vez de Aruba, veio-me logo ao espírito o parque industrial do Barreiro. Claro que ficou-me logo lixada a imagem dos sósias do Jon e já só me lembrava do 'Bob', o tipo que aparecia à Laura Palmer e a nós, desgraçados espectadores do 'Twin Peaks' e que ainda hoje me faz um medo do caraças, de feio e sinistro que era. Ainda assim não trocava pelo vizinho, o que vos deve dar uma pequena amostra da peça.
E é isto que eu tenho de aturar. Não basta estar refém dos estúpidos grelhados fedorentos dessa besta, ainda tenho de vê-lo a passear-se semi-nu pelo espaço comum, como se o mundo ansiasse pela sua forma esférica e fedogosa em display. Não sei se o mundo estará a ansiar por isso; eu claramente não estou, e qualquer dia salta-me a tampa e vai grelhador, bandulho proeminente e tudo para o maneta. E isto porque sou uma senhora, senão era outro o sítio onde eu lhe proporia que passasse muito tempo. De preferência, na companhia de um Ganense chamado Jaimão.
Posto isto, deixo o 'perfect day' apenas como fina ironia...

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Foi bom, mas acabou-se!

Ah e que perfeitos têm sido estes dias de sossego, com tanta preguiça neste corpinho. Adoro o ócio e não fazer nenhum. Pronto, já disse, so shoot me!

Gostei tanto de estar sossegadita a recuperar das férias que temo o pior quando regressar ao escritório amanhã. Na melhor das hipóteses tenho um ataque de choro; na pior corto os pulsos com o saca agrafos (não sei onde meti a tesoura). Seja como for, não prevejo nada de bom.

Mas isso será só amanhã. Hoje o que quero partilhar é muito mais interessante. Não, não, ainda não é o resumo da minha epopeia Bávara, Austríaca e Checa, que ainda não consegui escolher as fotos mais ilustrativas de entre as 800 que tirei.

O que quero partilhar é mesmo o grande amor que os meus gatos nutrem por mim. Fizeram-me uma recepção digna de uma rainha (que toda a gente sabe que eu devia ser, em vez de estar por aqui a apodrecer com a plebe nos transportes comuns) e prepararam-me uma surpresa logo na primeira noite. São uns queridos: fizeram questão de que eu não me apercebesse de nada até às cinco da manhã, altura em que uns barulhos mais furiosos me despertaram. Mandei-os calar, estremunhada, mas os monstros não paravam quietos. Acendi a luz. Vi o Gil enrolado no tapete, com o Boris a olhar para ele (a Nádia não se mistura com os arruaceiros, claro está). Enxotei os dois, estiquei o tapete e dei com esta coisa:
O que vale é eu estava estremunhada e achei que não estava a ver bem, e por isso não mandei um sonoro berro. Depois percebi que já estava morta, e já não gritei, mesmo. Peguei em dois lápis de contorno dos olhos e transportei o cadáver à Mikado até ao lavatório, para observação, fotografia e posterior remoção asséptica, que é como quem diz, mandar a coisa cano abaixo.

Tenho duas teorias:

a) ou era uma minhoca gigante (ando furiosamente a repetir 'era uma minhoca gigante' cem vezes por dia)

b) ou era uma cobra bébé

Qualquer das duas é assaz repulsiva, sendo que o meu problema principal, a ser a teoria b), é saber onde raio anda a mãe e se estará chateada!

Ando há quatro dias a espreitar por baixo da cama, a sacudir chinelos e a olhar para a sanita antes de me sentar. Não sei, parece-me estranho estas coisas subirem a um terceiro andar. Se fosse uma osguinha, tranquilo, agora bicheza rastejante desconhecida já não acho tão bem. Onde raio é que os gatos me vão desencatar estas coisas, alguém me faz a fineza de dizer?

Já me largaram um pardal morto debaixo da cama, agora esta coisa nojenta no tapete. E o que se segue? Um boi almiscarado na banheira, não?

Só comigo...

sábado, 6 de junho de 2009

Fofoquice

Boris, o intriguista: Achas normal a dona ir de férias e não nos levar?
Gato Gil, o pacificador: prrrr...prrr....acho...o que não acho normal é estares tão colado a mim.
...
Boris, o insistente: mas não achas mal?
Gato Gil, o sem pachorra: Homem, não acho pior do que o teu hálito no meu focinho. Vai dormir, que é cedo, e deixa a moça ir de férias em paz. É só um bocadinho, sim? A dona depois volta cheia de pica e folgada para escrever aqui mais vezes e visitar os blogs amigos com preceito, boa?

quinta-feira, 4 de junho de 2009

É uma vergonha...

... ser a última a publicar, mas mais vale tarde que nunca.




PARABÉNS VANI!!!

É verdade, a nossa Grafonola paralelepípeda completa hoje mais uma primavera e aqui o gatil não queria deixar passar a data em branco, apesar da manifesta falta de inspiração.

Vani, moça, tu desculpa, mas isto não tem andado fácil. :)

Já agora, e porque não sei quando é que apanho o chefe fora da sala de novo para poder dar aqui uma fugida, aproveito o título do post para manifestar a vergonha que por vezes sinto em viver neste país. Não acho normal que se apupem cantores líricos como se de saltimbancos de rua se tratasse. Não acho normal pagar horrores para me ver no meio de grunhos, que não sabem comer e não gostar, mas calar, e humilham quem esteve ali três horas a dar o litro.

Falo da representação de 'D. Giovanni', ópera do nosso estimado Mozart, que teve ontem lugar no Teatro Nacional de S. Carlos. Ia com muita expectativa, e francamente, não gostei. Odiei a encenação, os décors e a roupagem dos cantores. Não creio que resulte muito adaptar uma ópera clássica aos tempos de hoje, e de facto custou-me ver um Leporello, que eu imaginava com roupagem do séc. XVII, meio bouffon, vestido com um casaco freaky e cor de laranja e boné com a pala para trás. Custou-me ver uma Sevilha de 1600 e picos transformada em réplica da zona J e acho que os artistas mereciam melhor. E acho que fizeram o que puderam. Não achei que estivessem fabulosos, mas gostei do Leporello e da voz de D. Ottavio (embora tivesse pouca expressão dramática no olhar e postura) e de Zerlina (que reconheci como a Musetta de 'La Bohème' ).

Não gostei do espectáculo, mas ainda assim fiquei chocada quando no final se ouviram BUHHHHHHHH BUHHHHHHHHHHHH e batidas de pés no chão. Odiei que tivessem vaiado individualmente dois artistas, quando fizeram a sua vénia. Se calhar é muito comum, mas eu, leiga que sou nestas matérias, acho que, comum ou não, é grosseiro. Depois admiram-se que Portugal seja olhado de lado e os seus habitantes sejam considerados uns saloios. A cara de choque de Kevin Short (Leporello) e o beijo de apoio que deu à Katherina (Elvira) depois da vaia monumental que esta recebeu, fizeram-me corar de vergonha mesmo estando na segunda fila a aplaudir furiosamente.

Acho isto, de facto, inacreditável.