quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Da problemática da condução em tempo de chuva

Não percebo a histeria que parece tomar conta dos automobilistas portugueses quando chove, mas imagino que seja uma questão de solidariedade climática: chove ergo liquefaz-se a massa cerebral. É sabido que o condutor português médio já padece, por defeito, do síndroma da idiotice crónica na estrada, mas esta parece agravar-se exponencialmente quando as comportas de S. Pedro se abrem. Porquê? Ignoro. Mas, na minha magnanimidade lendária, sinto-me compelida a ajudar alguns automobilistas mais... hum, como dizer isto de forma simpática..., TÓTÓS PATÉTICOS, a lidar com esse monstro horrível chamado... chuva.

Chegaram-me às mãos algumas dúvidas pungentes às quais tentarei dar resposta adequada:

Assim, Felisbela Anacleta, de Pinhal de Frades, pergunta-me se 'o pedal que está do lado direito se pode usar quando chove'. Sim, Felisbela, confirmo-lhe que o pedal que indica, e a que convencionou chamar-se ACELERADOR, pode ser pressionado com chuva. Idealmente, pode associar o uso desse pedal a essa manete esquisita que tem a meio do habitáculo e que comanda a caixa de velocidades e ir colocando mudanças, o que lhe permitirá andar a mais de 20km/hora e lhe evitará o coro de buzinas de que igualmente se queixou (e que, suspeito, será independente do nível de precipitação).

Já Ernesto Carrapeta, de Pinhal do General, gostaria de saber ‘se não faz mal acender as luzes, tendo em conta o que se ouve dizer da água e da electricidade’. Caro Ernesto, tranquilizo-o: essas coisas redondas chamadas faróis têm um circuito isolado: não há risco de curto circuito, a não ser no seu cérebro, isto se impactar frontalmente com outra viatura pelo facto de andar sem luzes em dia de visibilidade diminuta. É pois seguro - e desejável - que circule com os médios acesos quando chove.

Benedito Salvador da Cunha, da Aroeira, coloca uma questão...bem, que é estúpida, mas a que tenho de responder ainda assim: 'visto que o meu BMW dá 250km por hora, e que me estou a #%#&# fortemente para o estado do piso, posso ultrapassar toda a gente, ainda que alguns carros tenham de ir para a valeta por causa disso?' Lamento, Benedito, mas a cilindrada do seu carro não lhe confere o dom da desmaterialização dos carros à sua frente, de modo que, quando não tiver condições para ultrapassar em segurança, terá de seguir à velocidade de toda a gente (mesmo que vá atrás da Felisbela).

Por fim, o único contributo inteligente. Eliseu Maldonado, ciclista de Vale de Milhaços, pergunta-me se ‘é legítimo atirar pedras aos gajos da Aroeira que passam a rasgar com os BMWs pelas poças de água e me molham todo?’. Eliseu...Não é legítimo, mas pode fazê-lo, desde que o seu tiro seja certeiro. Ligue-me para combinarmos uma hora e irei atrás de si com munições!

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Personal Jesus




Gosto muito. Conheci esta versão depois da dos Depeche Mode, aparentemente a original, e acho-a muito mais interessante. Também parece que há uma do Marilyn Manson... vou conferir antes de ir almoçar*, que a visão da criatura pode ter efeito perverso na digestão. Mas dizia eu que acho a versão de Johnny Cash brilhante. Há um je ne sais quoi absolutamente fabuloso na voz quente de Johnny Cash em contraste com o som áspero e tenso da guitarra. Pelo menos eu acho a guitarra áspera e tensa, mas como não sou crítica musical (graças a Deus) posso estar enganada. Errar é humano, e mereço perdão, como aliás merece perdão qualquer pessoa que tenha votado neste governo. Aliás, tenho para mim que o amigo Passos também tem algo de Johnny Cash e também deve ter dito a muita gente lift up the receiver, i'll make you a believer...é isso! Felizmente que o meu telefone estava no silêncio, nesse dia. Graças ao Senhor. Que assim posso dizer mal à vontadinha. (Tenho nada contra o rapaz pessoalmente, só não me agrada ficar P-O-B-R-E por causa dele e dos seus pavorosos amigos. Excepção feita ao ministro Gaspar, que tenho simpatia pelo apelido e pelo sítio onde nasceu. Com tanto sítio para vir ao mundo, tinha de ser patrício da senhora minha mãe. Assim tenho de lhe dar um certo crédito e admitir que possa ser boa pessoa, apesar de tudo)

Bom, não era nada disto que eu queria escrever... Eu só queria firmar aqui a promessa de retomar a carunchosa relação com a minha Admira, que tem estado encostada à estante há demasiado tempo, pois acho que este tum tum tumrum tum tum é perfeito para treinar os meus atrofiados dedinhos, agora mais habituados à manicure (caseira, que isto não está para festas, e já sabemos por culpa de quem) (ai credo, lá estou eu outra vez) do que ao dedilhar das cordas.


Não temei, contudo! prometo não postar qualquer vídeo de demonstração do meu talento na arte da dedilhação que eu, quando não sei, não me armo em esperta e não torturo os outros só porque sim.

(Ah, a fina ironia. Coisa mai linda!)

*fiz bem em não ter almoçado antes. O Marilyn Manson é extremamente feio e o vídeo está pejado de gente feia. E a canção em si não ganhou grande coisa com esta versão.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

mais uma corrida, mais uma viagem

Acordo estremunhada e com a sensação de ter acabado de adormecer. Agradeço mentalmente à magistral insónia que me visitou esta noite e, como Nero Augusto ainda não me está a dar patadas de encorajamento para me levantar e levá-lo à rua, planeio voltar a fechar os olhos e fazer de conta que é fim de semana ou que finalmente o euromilhões came my way e vivo de rendimentos. O toque insistente do relógio e a voz meiga ao meu lado instigam-me a levantar: parece que afinal ainda tenho de ir trabalhar. Ligo o automático. Duche, check. deo, check. creme hidratante e antirugas cuja eficácia ainda requer confirmação, check. Lembro-me de Sasha Margarida, como acontece todas as manhãs. Lágrima. Esqueço-me do eyeliner no processo. Compenso essa ausência mais tarde, aplicando batom de tom duvidoso (sunlight can be so cruel...) já no comboio. Saltamos o pequeno-almoço, que o tempo urge e o meu estado semicomatoso com apenas duas horas de sono não me tornam mais ligeira. No café da estação vejo um éclair e mando a dieta ao ar. Afinal passei metade da noite acordada e já passei uma máquina de roupa. Fuck it! Mereço bem as calorias. A Fiona, uma alma errante (gosto mais do que vadia, rafeira ou outro epíteto aplicável aos pobres animais que não têm casa), aparece de rabo a abanar, por entre as mesas. Hoje não está virada para o açúcar e recusa o bolo que lhe estendo. Ainda assim fica ali, sentada ao meu lado, a receber as festas da praxe. Sabe-lhe bem. A mim também. Ainda lhe limpo o olho, onde uma ramela purulenta prenuncia uma inflamação. Corre bem, que ela é uma querida, e nem se mexe ou tenta resistir. E já são horas de apanhar o comboio que a sessão de enfermagem improvisada atrasou-nos um pouco. Claro que já está uma mastronça no nosso lugar habitual, mas relevo, que não tenho energia para me irritar. O dia começa a clarear. Um pouco antes da ponte o astro rei começa a despontar. É uma bola vermelha que rasga as nuvens escuras e torna o céu iridescente à medida que se vai elevando. Olho para este cenário e sinto-me feliz. Cansada, mas feliz. Passa-me depressa assim que entro no metro. A sensação de felicidade. O cansaço sinto-o bem. Ainda assim, regozijo-me e refestejo os seis golos do Sporting a cada Destak que vejo ser desfolhado. Mais um pequeno alento para as oito horas de lassidão que me esperam. Entro no autocarro e enterro a cabeça nas teorias cinematográficas que tenho de saber de trás para a frente. Realizo que me estou nas tintas para o Eisenstein e para o Bazin. Fecho o livro e olho pela janela. A A5 estende-se até ao fim do horizonte, impiedosa e trocista. Revisito o filme ‘The green mile’ enquanto faço o trajecto da paragem até ao escritório. Começa a chover assim que entro. É um sinal, só pode. E fico assim, meia chocha e sem vontade.

Outra vez.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

De como às vezes é difícil manter a classe


Deve ser bom ser sempre boa cristã. Saber dar a outra face e seguir em frente esfregando a bochecha agredida e sorrir por ser melhor pessoa deve ser uma coisa brutalmente fantástica . Digo que deve ser porque (in)felizmente não fui abençoada com o dom da infinda tolerância, de modos que continuo muito fiel a mim própria, e à forma que considero mais rápida de resolver as coisas, que é cilindrar logo a pessoa que me está a causar entropias. Se eu fosse um personagem de banda desenhada seria com certeza o Thor. Por causa do martelo. Dava-me jeito. Mais jeito do que o lacinho amaricado da Super Mulher, se bem que ela pareça ser uma gaja super cool. Hesito, hesito... Bom, mas ela não tem martelo. O Hulk também dava, mas é um bocado abrutalhado e eu gosto de coisas chiquésimas. É isso que me perde. Ser s'per fina e saber o meu lugar. Que parece mal andar a martelar os pobres de espírito. Por isso é que às vezes, por muito que o meu instinto primário seja partir para a cabeçada automática quando já ando a encher há muito tempo e as pessoas nem ajudadas se tocam, ainda vou conseguindo parar para R-E-S-P-I-R-A-R. O Lamaze teria inveja, digo-vos eu! Respiro tanto, que qualquer dia impludo!

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Como perder um cliente em meia dúzia de linhas

Troca de emails com a Bertrand do Campo Pequeno:

'Bom dia,

Gostaria de saber se se encontra disponível na vossa loja o seguinte livro:
MALATO, Maria Luísa, História da Literatura Europeia : Uma Introdução aos Estudos Literários, Lisboa, Quid Juris- Sociedade Editora, 2008

Gostaria ainda de saber se, no caso de o terem em stock, poderei colocar uma reserva, ou efectuar a sua encomenda por esta via, para posterior levantamento.
Desde já grata pela vossa atenção'

Resposta da criatura: 'Não temos o livro em stock, mas poderá haver na loja das Amoreiras'.

((!) Ficamos todos muito contentes por haver essa possibilidade. Está bem de ver que vou mesmo até às Amoreiras ver se há o livro!)

Ia largar o assunto da mão (aliás, a Almedina já tem um email a solicitar este e mais outro. In your face,amigos bertrónicos, são 35 euros a menos nas vendas de hoje!), mas decidi que a mediocridade não pode continuar a passar impune.
Por isso, depois do email para a Almedina (que também não é lá essas coisas, mas na FNAC é certo que não compro mais nadinha), ainda me dei ao trabalho de responder à criatura. Just for fun.

Caro Senhor,

Como deve imaginar, se a loja das Amoreiras fosse uma hipótese que me interessasse teria sido para a loja das Amoreiras que teria endereçado este email.

Escolhi a vossa loja, por duas razões fundamentais: a primeira, a conveniência geográfica e a segunda porque, por momentos, convenci-me de que o negócio da Bertrand era de facto vender livros. Aparentemente, enganei-me, já que depreendo ainda da sua lacónica resposta que não existe possibilidade de encomendar títulos na vossa loja, o que desde já lamento. Assim vai obrigar-me a solicitar o serviço a uma livraria da concorrência que esteja, efectivamente, interessada em vender livros, e não sugerir ao cliente que se dirija a outra loja porque o título
poderá lá estar disponível...

Com conhecimento para o Gerente da loja, claro está.


TEMOS PENA!