quarta-feira, 21 de março de 2012

Porque no te callas tu también?


Dei comigo ontem a festejar um golo do benfica com alguma euforia (levantei os bracinhos antes de, horrorizada, dar conta do que estava a fazer), coisa que já não fazia desde umas competições europeias nos idos de 87, se não me falha a memória, em que estava em Paris, hospedada em casa dos meus primos e subjugada pelo charme imberbe de um amigo deles, que (para minha grande tristeza) era do Benfica. Ora, quando em Roma, sê romano; não ia torcer pelos outros (que nem sei já quem eram) quando o objecto cobiçado estava ali todo entusiasmado a vibrar pelos homenzinhos de vermelho. Às vezes os fins justificam os meios, e naquela situação foi o que aconteceu, apesar de no final, tanto para mim como para o Benfas, a coisa não ter corrido bem :).

Pois que ontem, aconteceu o mesmo. Em parte por osmose conjugal, que acaba por dissolver alguns (não todos) anticorpos ao benfas que assumo que tenho, em parte porque sou incapaz de assistir a um jogo de futebol sem estar a torcer por uma das equipas, optei pelo mal menor. Novamente, quando em Roma, sê romano, e visto que não nutro simpatia particular pelo FCP (muito por culpa dos seus dirigentes  e acólitos), obviamente, e a bem da harmonia familiar, preferia que o Benfica vencesse. E, se o resultado me é absolutamente indiferente (o Sporting já foi à vida nesta competição, so who the hell cares), já não me são indiferentes as declarações ridículas do sr. Jorge Nuno, que corroboram (sempre) o que escrevi lá mais atrás. Não é bonito menosprezar uma competição. Não é bonito dizer ‘Já estamos livres da Taça da Liga’. Mas é o espírito que rege as hostes do Douro. O que é pena, na medida em que perdem mais do que ganham, que respeitar o adversário é sempre bonito e fica bem. Os meus amigos portistas desculparão a franqueza (Isabel, já falamos muitas vezes sobre isto J), mas não se atura a soberba bacoca desta alma.

terça-feira, 20 de março de 2012

Da pedantice de vão de escada

Durante a hora de almoço, sobre vinho verde:


Miss Know it All: Ah, e tal, depois da faculdade uma pessoa refina o gosto.
Interlocutor: Não é tanto o refinar o gosto, é também começar a trabalhar e ter mais dinheiro na carteira para aceder a outras coisas...
Miss Know it All (meio tom acima, já num nível pré esganiçado): Ah, desculpa lá, isso não tem nada a ver! Eu nunca gostei de Casal Garcia, que toda a gente bebia nos jantares de faculdade. E não me vais querer comparar o Casal Garcia com um Vilarinho, pois não??!!!

O interlocutor não sei, querida. Já eu lhe diria, de caras, que nem pensar!  Mas se me disser se quero comparar com um Alvarinho, aí já podemos debater.

Dir-me-ão que o lapsus linguae se tolera pela coincidência de certo dirigente desportivo homónimo (o do benfas, claro)  também ser dado à pinga e ficar tudo em família. Mas uma Miss Know it All não pode cometer erros de palmatória destes quando é pseudoaspirante ao jet set oito. Especialmente quando 'Mrs. Bitch' (eu, na circunstância) está por perto, a assistir de cátedra, e está 'in the mood'. Oh Yeah!

Não temei, foi corrigida com muito tacto e diplomacia. Até deixei passar a primeira vez, mas à segunda tive de ajudar a rapariga. Está na minha natureza...



segunda-feira, 19 de março de 2012

Lembro-me vagamente de, há 31 anos atrás, ter um presente para o meu pai. A memória falha-me quanto à sua natureza, já não me recordo. Provavelmente, um lenço, ou umas meias. Ou uma esferográfica bonita. Naquele tempo, em que tudo muito mais simples, até uma pedra encontrada na rua podia ser um presente bonito, especialmente para uma miúda de 9 anos. Devo ter garatujado um postal com uma mensagem ternurenta e caligrafia aplicada, e provavelmente um desenho a acompanhar, e ofereci o todo com a felicidade ingénua das crianças que acreditam que a vida é imutável. Não é. Aprendi isso da pior forma, e logo no ano seguinte. Recordo-me do embaraço da minha professora, quando pediu aos colegas uma composição sobre o dia do pai. Eu pude escolher o tema. Já não me lembro sobre o que escrevi, mas a descriminação, por bem intencionada que tenha sido, deixou-me marcas. De alguma forma, foi o reforço da minha 'diferença'. Optei por bloquear a perda. Pura e simplesmente, não falava do meu pai. Nunca. Já aqui dei conta disso. 
 
Nunca mais pude desejar um feliz dia do pai. Não é fácil, ainda hoje, quantificar a enormidade da perda. Mais do que o pai, foi o amigo, o professor, 'aquele que sabia tudo e respondia às perguntas todas', o refúgio quando tinha medo. Quem me ensinou a andar de bicicleta e me obrigou a subir outra vez para cima do cavalo, depois de uma queda feia. Aquele que era tão doido por animais que teve camaleões, uma tartaruga fíníssima, que até ia passear aos domingos ao Champ de Mars. Que me apanhou uma rã, que viveu dois dias na banheira lá de casa. Que me deu um patinho, quando morávamos num apartamento! A minha loucura da bicheza não vem da minha mãe, no sir!

Não tenho o meu pai presente, mas não deixo passar a data em branco. É um ritual lá em casa. Neste dia, celebramos a memória. O 'presente' reverte para a minha mãe. Afinal, ela foi mãe e pai. Não dizemos nada. Ainda dói a todos, trinta anos depois. Por isso logo vou lá dar-lhe um beijinho e levar uma flor, ou uma planta. Algo vivo e simples, como são as coisas bonitas e importantes da vida.




quinta-feira, 15 de março de 2012

Isto não é o FCP, sr. Mancini

Nem acreditas, não é?
Tenho tanta pena...

SPORTING SPORTING SPORTING

REMEMBER MY NAME
(pronto, passei-me, o que querem...)

quarta-feira, 14 de março de 2012

De como a inocência ignorante é uma benção insuspeita

E quando pensava que num curso de letras nunca mais ia ter de pensar em fórmulas matemáticas, eis que Vladimir Propp me dá cabo dos planos. Este simpático folclorista russo dedicou grande parte da sua vida a estudar contos populares russos e a dissecá-los para, pasme-se!, reduzir a sua estrutura a fórmulas lógicas. Temo ter encontrado no seu 'Morfologia do Conto' o xeque mate da réstia de inocência que eu ainda tinha. Ainda só vou na página 52, mas já estou mesmo a ver que o tempo em que eu lia sem pensar 'era uma vez uma princesa muito formosa' já lá vai, e que quando a minha sobrinha me pedir para lhe contar uma história,eu lhe  vá debitar a conversão lógica das funções na estrutura do conto. Algo como D1E2F5, por exemplo. Acredite-se ou não, isto até faz sentido mas arruinou para sempre o meu imaginário  Obrigada, Vladimir!

E depois temos o nosso amigo Bruno Bettelheim e a sua "psicanálise do conto de fadas" , que é o outro livro que tenho para ler. Tem uma capa gira, um título apelativo e tal, e não resisti: fui espreitar uma página ao calhas. Na página 305 ,dedicada à explicação do conto de Branca de Neve, lê-se: " os contos de fadas preparam a criança para aceitar o que é, de outro modo, um acontecimento muito perturbador: o sangrar sexual, como na menstruação e, depois, nas relações sexuais, quando o hímen é rompido". I shit you not, está escrito. Isto a respeito das três gotas de sangue que a mãe de Branca de Neve deixa cair na neve ao picar-se na agulha com que bordava. Too much information, é o que vos digo. Há gente muito doente neste mundo. Como se as crianças fizessem associações destas. Nem eu, com esta já proveta idade, as fazia, nem de perto lá chegava. Confesso-me absolutamente chocada. E com medo do que poderei encontrar no conto do Capuchinho Vermelho, por exemplo. De repente o 'é para te comer melhor' não prenuncia nada de bom...

terça-feira, 6 de março de 2012

"Um dia...


...parto a cara a alguém. Hoje é o dia!"

Sorte. Muita sorte. Foi o que teve o simpático cavalheiro que esta manhã nos fez uma tangente com a sua estúpida carrinha Mercedes e que depois foi o resto do caminho armado em palhacinho até parar numa rotunda desimpedida e ainda ficar a gesticular por ter levado uma apitadela no rabo para se despachar a tirar a lata da frente, que há neste mundo quem trabalhe. Teve muita sorte pelo facto do cinto ter atrasado a minha saída intempestiva do carro, mas também revelou alguma inteligência porque percebeu ao que ia o meu metro e sessenta e pouco a sair disparado do carro direita ao dele; não lhe ia perguntar as horas de certeza absoluta. Foi esperto o suficiente para se por a milhas. Mas lixas-te, grande anormal, que te vejo todos os dias mais à tua lata feia como a noite dos trovões e fica descansado: se não foi hoje que te parti a tromba, ocasiões não faltarão. We shall meet again e não te vai correr bem a vida, nem que eu fique toda negra também. Ordinário.

Perdoarão a linguagem um pouco trolha, mas há gente que me tira do sério. Pormenor de qualidade: nem sequer era eu que ia a conduzir. Perdi toda a pouca credibilidade que tinha de pessoa calma e equilibrada, mas o marido divertiu-se. Não se perdeu tudo.

Fiquei frustrada, contudo. Tanto nervo desperdiçado, uma explosão de energia assassina tão bonita...para o hiperespaço. Mas ainda tenho hora e meia antes de sair, acalento a secreta esperança de partir a boca a uma colega minha, assim ela continue a mandar emails parvinhos a tentar acusar pessoas que não se podem defender e brilhar por comparação. Cabra. 

Hoje é o dia. Hoje é o dia. Hoje é o dia.
Até os nózinhos dos dedos me tremem...