quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Feeling...Narcisa



Digam lá que não gostavam?... Ah pois é!

Tenho para mim que é uma tentativa da linda calcadinha portuguesa se redimir pelos saltos todos que já me estragou, a grande cabra! A lambe botice desceu à rua, é o que é.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Há 28 anos...


...Que não te vejo.

...Que não ouço a tua voz.

...Que não ouço o teu giradiscos a tocar os albums do Joe Dassin.

...Que não fico sentada em respeitoso silêncio a ver-te manusear os catálogos e os selos.

...Que não me ralhas quando desenho desalmadamente arabescos num papel, porque estou a gastar tinta da esferográfica para nada.

... que demasiadas coisas estão mais pobres sem ti e que odeio profundamente o mês de Janeiro.


Há 28 anos recebemos o telegrama do hospital. E eu, do alto dos meus 10 anitos, a armar-me em forte, fui buscar um vestido preto e vermelho, porque era o que de mais escuro tinha. Ninguém reparou que eu tinha mudado de roupa. Não era sequer importante, mas foi o que me ocorreu na altura. Tinha de mostrar que compreendia o que se passava, embora me quisesse dissociar porque doia demais e era uma mudança demasiado brutal.

Nunca falei da tua partida. As pessoas vinham ter com a mãe e eu via-a a chorar, mas eu nunca me fui abaixo em frente a ninguém. Quando me falavam de ti, desconversava. Para não dar parte de fraca, acho eu. Abafei a dor, e só a deixei sair muitos anos depois. Revoltei-me, culpei-te por nos teres deixado, culpei-te por uma série de coisas que não aconteceriam se cá estivesses. Fi-lo porque era mais fácil culpar-te a ti do que crescer um bocadinho e assumir as minhas próprias escolhas sem culpar o mundo e arredores.

Entretanto cresci. Hoje sou mais forte. Também graças a ti, e aos ensinamentos que retenho do pouco tempo que tivemos juntos. Afinal, foste tu que me ensinaste a andar de bicicleta e me ajudaste a acreditar que não ia cair. Foste tu que me disseste 'levanta-te e monta de novo' quando o cavalo me atirou ao chão. E eu chorei, porque tinha medo, porque me doia, mas levantei-me e voltei a montar o cavalo. Mais por orgulho que por vontade. Ainda hoje sou assim. E é este orgulho teimoso de que me lembro amíude e que me mantém de pé quando a vida não me corre bem. Tenho domado alguns cavalos. Tenho caido de muitos outroas ao longo da vida, como sabes. E lembro-me sempre daquele paddock poeirento e de comer areia, e das lágrimas a picarem-me nos olhos. Mas também me lembro do meu primeiro galope, do orgulho que senti por saber que estavas a ver e a sorrir de orgulho também. E essa vontade de te fazer orgulhoso acompanha-me sempre, embora nem sempre a entenda completamente.

Há 28 anos que tenho saudades. E que me pergunto como seria se ainda estivesses por cá. E resolvi dizer-to hoje. Levei 28 anos a chegar aqui, mas cheguei.

Beijinho, Pai.

Banda Sonora: Hurt - Christina Aguilera