domingo, 29 de agosto de 2010

De como a minha vida seria tão mais fácil se eu coleccionasse borboletas em vez de cães e gatos

Nem Cérbero, o infame cão com três cabeças da mitologia grega, deu tanto trabalho a Hades. E Hades era um Deus! Mauzito, mas um Deus.

Ora eu não sou uma Divindade grega mas tenho um ponto comum com Hades: fomos ambos abençoados com um cão do Demo!


Não vos deixeis enganar por esta cabeçorra patusca e estes olhinhos ternos. Nero Augusto é o Chifrudo em forma de cão.
Nem é tanto o ser gigantesco e escavar buracos onde se podia enterrar Moby Dick, o lamber os vidros assim que acabo de os limpar e ter uma ínterpretação muito própria da palavra 'não', especialmente quando o 'não' é para parar de roer o sofá. Nem tão pouco o passar a vida a mordiscar Sasha Margareth, pisar os gatos sempre que pode e saltar-nos para cima na primeira oportunidade. E, pronto, ok, teve sarna e já gastei pra cima de 200€ com ele, so what else is new, toda a gente sabe que se eu recolher um animal ele tem sempre uma merda qualquer de pele que leva três meses a curar, a malta já aceitou este facto e vive reconciliada com o mesmo. E é teimoso como uma mula, e por mais que a gente lhe diga 'não morde' parece arraçado de tubarão branco, o raio do bicho, ainda pior que São Tomé que não chateava ninguém quando via para crer. Este monstro mordisca para crer, que o digam os meus braços e, digo-o com pesar (e alguma vergonha) a minha nádega direita, que também já passou pelo teste dos comestíveis. Ando cheia de nódoas negras e frustrações.
Bom, vá, apesar de não estar a exagerar, nem tudo é mau. O bicharoco é meigo, uma meiguice assim como a de um gnu que se nos deitasse em cima dos pés, e se rebolasse no seu banho de pó na savana africana. Claro que a sala não tem nada de savana africana, mas Nero Augusto parece achar que sim. Faz uma festa quando está connosco. É um bruto do cacete, mas é um bruto amoroso quando põe a cabeçorra no colo e pede festas.E quando finalmente aquieta, a malta até gosta de ver estes 30 kgs de cão a dormir placidamente no chão ao lado dos outros 38kgs de cão. Temos 70kgs de cão em casa, agora que penso nisso... mais 15 kgs de gatos... mais as osgas...mais uns gafanhotos e caracoletas e chegamos aos 100kgs de bicheza. Gaita!

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Mais uma encantadora experiência...

...cortesia da Vimeca, esse gigante do transporte suburbano.
Pouco faltou para fazermos como na foto do lado. Infelizmente não pudemos ajudar porque o autocarro estava a fumegar fortemente na zona onde os senhores da foto estão a empurrar. Acresce que empurrar um monstro destes Monsanto acima já apresentaria algumas dificuldades a uma meia dúzia de paquidermes treinados, quanto mais a jovens quadros dinâmicos, de fatinho e salto alto (eu, claro) cujo exercício físico mais intenso e confessável dos últimos tempos tem sido o de regar a horta e pendurar cortinados.
Muito grata à Vimeca por este pequeno interlúdio bucólico no meio da A5. Afinal não é todos os dias que temos oportunidade de parar no meio da natureza e aspirar o ar fresco de Monsanto, mesmo se muito disfarçadinho nas emissões de monóxido de carbono dos carros que por nós passaram enquanto aguardávamos serenamente no meio do mato que o autocarro seguinte nos viesse resgatar. E que grata satisfação vê-lo assomar-se, autocarro salvador, cheio que nem um ovo, e que nos proporcionou mais uma inolvidável experiência humana: nada como um ensanduichamento de pé, em plena comunhão com o próximo, a próxima e mais algum parente afastado dos próximos todos, e a harmonia aromática inolvidável de um Chanel nº5 misturado com Rexona. E vá lá que hoje não está muito calor e que, aparentemente, toda a gente tinha tomado banho...

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Coisas que metem nojo

Começo a ter profunda aversão ao jornalismo de trazer por casa, sedento de sangue, em que quanto mais miséria melhor, e desde que se obtenha o furo que se lixe a edição e o decoro. Havia absoluta necessidade, pergunto eu, de passar na TV a evacuação da senhora que veio a falecer por causa da palmeira que caiu durante o comício? Havia absoluta necessidade de focar a poça de sangue ao lado da dita árvore que despencou? Não se pode deixar à imaginação de quem se deleita com estas coisas a aflição que ali se viveu? É mesmo preciso partilhar com o mundo? Pergunto eu, assim de repente, se as famílias que estão agora a chorar apreciam que o mundo tenha tido direito a ver o corpo do seu ente querido a desfilar até à ambulância, não obstante os esforços dos paramédicos em ocultar a senhora com umas mantas, num sentido básico de decência e respeito pela privacidade. Infelizmente não puderam impedir que se filmasse de um ângulo superior. Conferir aqui. E houve quem disso se aproveitasse e alguém superior que deixou que fosse isso incluído na peça. Acho isto absolutamente lamentável.
Não é a primeira vez que me chocam notícias feitas na Madeira. E não só na televisão, pois recordo distintamente que muita imprensa também fez questão de mostrar imagens explícitas do retirar de um pobre senhor apanhado pelas enxurradas do princípio do ano, já em rigor mortis evidente, num voyeurismo pueril e absurdo, como se alguém se pudesse sentir-se elevado por ver imagens deste calibre. Serei muito estúpida, mas falha-me ver em que medida é que isto é serviço público.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

post possivelmente considerado radical, mas é para o lado que durmo melhor!

Ainda aqui há dias comentava a estranheza que me faz nunca ter visto uma pessoa de etnia cigana a servir num restaurante, ou atrás de um balcão, ou que fosse num supermercado a fazer reposição, isto para só falar de profissões menos qualificadas, que não exijam mais do que algum bom senso e vontade de trabalhar. Estava obviamente com um ataque agudo de ingenuidade, mas deu-me para ali naquele dia.
Lembro-me de haver meninos ciganos na primária. Não sei o que foi feito deles depois da 4ª classe, por onde andaram ou o que fizeram, mas sei que estão hoje num bairro social, com casinhas branquinhas e jeitosinhas (um luxo comparado com os pardieiros onde viviam, mesmo à entrada da localidade, onde toda a gente evitava passar com medo de levar pedradas ou ser insultada) e que não pagaram um tostão por isso. Ora eu, que tenho um empréstimo para pagar até 2000 e não sei quantos, e por acaso até recebi ontem a contribuição autárquica para pagar (um escândalo, claro) fiquei a modos que irritada. Vai daí que me vieram as casinhas muito jeitosinhas do bairro social à memória.
Aproveitando a viagem a um passado distante, lembrei-me também dos kgs de fruta que a Ti Maria Cigana roubou da loja da minha mãe (descobríamos depois as cascas das tangerinas ou ameixas, ia variando o espólio conforme a estação, ali ao pé da porta, sinal do desplante e falta de cházinho daquela gente). E vai daí que o meu humor não melhorou.
Não me interpretem mal, sou muito a favor do live and let live, e não desejo mal a ninguém (a não ser a quatro ou cinco individuos que não me importava de ver debaixo de um cilindro compressor, mas, em minha defesa, nenhum deles é cigano. Embora um seja estrangeiro. ) mas confesso que nunca confiei neles. Nos ciganos. Aqueles com quem lidei de perto em particular, e creio que os outros todos em geral também. Não gosto de oportunismos. Não gosto das desculpas das minorias com estatuto especial. Não me venham dizer que é uma questão cultural, que me mando ao ar. Não me venham dizer que 'ah coitados que são marginalizados e mais não sei quê. E eu pergunto: e esforçam-se para mudar isso? Ou melhor, pergunto: e eles ralam-se por causa disso? Assim de repente, acho que não!
Pois que temos muita pena, mas não papamos esses grupos. Sou pior pessoa por isso? Ainda bem, que pelo menos é sinal de que não estou de palas nos olhos como as mulas do politicamente correcto. Só assim se compreende que, e não vamos mais longe, no Largo do Chiado persistem as ciganas das sete saias a roubar telemóveis nas esplanadas das mais conceituadas pastelarias, onde os empregados, benza-os Deus, se limitam a assistir e ainda dizem 'olha, mais um que já foi roubado, acontece muito' com o encolher de ombros habitual que traduz o imobilismo deste país de brandos costumes. Só assim se compreende que andem ciganas com bébezinhos nos braços a pedir para se lhes comprar leite em pó para a criança, que depois usam para cortar as doses de heroína que os distintos esposos andam a traficar. E estou à vontadinha para falar, que ouvi estas coisas por quem já sofreu um assalto na pele, e por quem viu muito entra e sai nos bairros sociais que proliferam paredes meias com zonas novas, e supostamente nobres, de Lisboa.
Era bom que monsieur Sócrates, por quem tenho muito respeito e a quem admiro a coragem de tentar governar esta nulidade de país (amigos, não é só o clima e a comida, vá lá, isto é mauzinho nas questões fundamentais) abrisse também os olhos e não ligasse aos histéricoszinhos intelectualóides que haviam logo de se mandar ao ar se alguém fizesse mal aos tadinhos dos ciganinhos, e fizesse como o amigo Sarkozy anda a fazer em França: hoje foram dois aviõeszinhos recambiados para a Roménia. Acho que amanhã vai outro e quem se tiver atrasado ainda pode ir dia 26!
Mai nada! Quem não contribui, não tem nada que estar cá a viver à conta de quem levou com aumento do IRS. Raio que os parta!
E quem me vier dizer 'Ah, e tal, mas nasceram cá, agora mandá-los embora...'. Então não são nómadas? Não é uma coisa cultural? Iam ver as vistas para outro sítio. Tanto lugar bonito por aí, sítios amplos, como o deserto do Gobi...

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Vicissitudes da vida campestre

Estava eu calmamente a entrar em casa, após acompanhar as visitas ao portão, quando sinto uma deslocação de ar bizarra e um leve toque na mão esquerda. Adepta que sou do lema ‘gritar primeiro e perguntar depois’ eis que abro a goela num miserável falsete e inicio o meu concerto da lamúria em si menor, ainda sem ter visto o monstro me caiu em cima, mas convicta de que seria seguramente gordo e feio. Por momentos pensei que o meu ex vizinho do segundo esquerdo se tivesse assomado nos meus novos domínios, mas felizmente a criatura ignora o meu paradeiro. A não ser que tenha falado com o homem do talho. O homem do talho sabe sempre tudo, benza-o Deus. Gosto muito dele.


Anyways...


Socorri-me de uma lanterna, providencialmente desarrumada em cima do móvel da entrada, para proceder à identificação e paradeiro do intruso para...hum, como dizer elegantemente... limpar-lhe o sebo! (Desde que moro no campo também sou adepta do ‘esmagar primeiro, ver o que era depois’).


Munida da minha luz de tungsténio e determinada a ignorar os comentários cépticos vindos do reputado especialista em bicheza rastejante com que partilho a minha existência atribulada, e que estava determinado, por seu lado, a não dar importância nenhuma à coisa, porque ´devia ser um aranhiço’ (ahã...um aranhiço!), abro a porta de rajada e vejo uma coisa destas a desaparecer por baixo do tapete da entrada.



Vai daí que o meu falsete aumentou e que fiz questão de chamar o reputado especialista para vir matar o tal aranhiço.. Reduzi-me à minha condição de donzela em apuros, recuei três metros e fiquei a assistir de cátedra à exterminação do monstro, cuja insidiosa existência só se extinguiu após vários golpes de catana.
(Nota para o leitor que planeie mudar-se para o campo: tenha sempre uma catana à mão. Uma catana e, se possível, um cilindro compressor. Assim, just in case)

Para os defensores da centopeia reticulada (inventei agora o reticulado, que fica bonito) que possam ter ficado escandalizados com o tratamento dada a esta criatura do demo, só tenho duas palavras a dizer: SHUT UP!!

Shut up, que a malta já doou para o fundo da bicheza sem abrigo. A malta não se importa de viver com duas osgas no alpendre. A malta acha piada aos bichos de conta que circulam pela casa, vindos sabe-se lá de onde. Ninguém se manifesta contra as estúpidas melgas que nos chupam o sangue até não poderem voar mais de gordas que estão, cheias do nosso fluido vital. Até as vespas que montaram acampamento ilegal no contador, a malta suportou. Durante uns tempos, pelo menos. Também já entregaram a alma ao criador, assim que arranjámos o Biokill.
Mas posso dizer que a malta não aprecia de todo bicheza desta, agressiva e venenosa, a cair-nos em cima. Esta bicheza não é nada bem-vinda. Esta bicheza leva-nos ao esganiço completo, à oitava impossível, que já só os cães conseguem ouvir. Por falar nisso, onde estavam os dois sabujos quando a sua dona estava a ser vilmente atacada??? A dormir, como lontras inúteis que são. Bom, dir-me-á o leitor quezilento, as osgas estavam por ali e também não ajudaram. Pois não, mas essas não comem à minha pala!...

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

E após começar o dia a ter de fazer uma reclamação à Fertagus e responder cinicamente, e com mais uma reclamação, à resposta que recebi a uma reclamação feita à MEO, esse primor de qualidade, e já a pensar que mais valia mandar-me da janela do autocarro para o viaduto Duarte Pacheco, eis que me surge uma boa notícia no inbox: lembram-se da Flopsy? Não? Como não??? ide ver aqui se não tiverdes mais que fazer.


Pois que a Flopsy foi adoptada! :)


Pois que agora sou madrinha da Miriam, que é esta coisa fofa que aqui deixo.



Hoje sem recados, que já sei que há quem não tenha paciência para mais divulgação da protecção dos animais. Eu cá sinto-me feliz com estas coisas. Perdoai-me, pois, o entusiasmo com que abdico de alguns minutos da minha hora de almoço para fazer um post e partilhar.
Boa sorte para a Flopsy, e...
Olá Miriam!
Que tenha boas notícias sobre ti um destes dias também.


domingo, 8 de agosto de 2010

The day before hell restarts

Acordei com as galinhas e estou sentadinha num puf, de pc em riste, a escrever enquanto os pássaros vão saudando o novo dia que acabou de despontar. O tempo parece estar farrusco, mas, depois dos quarenta graus de ontem, o tom cinzento e o ar fresco sabem pela vida.

Ao meu lado, o gigante Nero (nota mental: devíamos tê-lo chamado de Adamastor, tendo em vista as tormentas do seu comportamento de cachorro indisciplinado), sombra constante, vai suspirando de impaciência. Quer o pequeno almoço. Mas temos de aguardar que Sua Alteza D. Sasha Margareth se digne descer da alcova real. Ao ritmo preguiçoso dos últimos dias - que os animais também têm férias, pois então! -, Nero Augusto de Montenegro vai ter de aguardar mais uma horita ou duas.

Gosto deste momentos de quietude matinal. Ao longe já se vão ouvindo os carros dos madrugadores banhistas, mas nada mais perturba o canto dos pássaros, a não ser talvez o ronco de Sasha Margareth. Parece que as andorinhas também já acordaram. Começam a fazer os seus arabescos elegantes no ar. Algumas delas, curiosas, passam muito perto do alpendre, para logo depois fugirem ao ver Gato Gil e Boris, aka The Fugitive (o biltre passou pela rede e deixou-me lavada em lágrimas durante cinco longas horas antes de voltar a aparecer), a lagartar no jardim. Nádia está, como sempre, na sua cadeira, altaneira e a supervisionar os domínios. Gata mais snob, nunca vi. Contudo, é a única que vem imediatamente quando a chamo, esteja ela onde estiver. Onze anos conseguem este feito, do qual (vá, é feio, mas quero lá saber) muito me orgulho.


E porque estou tão bucólica e melancólica hoje?

Porque amanhã volto para o trabalho (oh joy!!!) e quero aproveitar bem tudo o que vou deixar de ter cinco dias por semana (e agora lembrei-me dos Bee Gees e mais o seu 'Tragedy'... não sei porquê...).