sexta-feira, 30 de maio de 2008

Enormidade...

Acabei de dar ordem de pagamento do IRC sobre os lucros de 2007. É um número de seis dígitos, com duas lindas casas decimais. O Eng. Sócrates vai ficar contente!

Como sou masoquista, (ou parva, como preferirem) fiz uma conta simples. Concluí que teria de trabalhar mais ou menos 12 anos para chegar ao valor do imposto sobre o lucro aqui do patronato. É sempre bom pensar nisto...Sinto-me muito melhor agora!



quarta-feira, 28 de maio de 2008

Tédio de fim de tarde

Estava aborrecida... resolvi abichanar mais o tasco.
Não que me falte trabalho aqui no 'Reino da Infindável Estupidez'. O problema é mesmo esse. Trabalho a mais. E desinteressante. E solitário. É curioso a quantidade de gente que tira férias quando tem de se preparar mais uma mudança de instalações. E mais curioso ainda é serem sempre os mesmos. E extremamente curioso é serem só os homens. Não vai haver um espécime por cá na semana fatídica...estranho, não?
Mas não faz mal. No dia do 'empacotanço' eu se calhar também vou ter um azar do caraças e aparecer com uma tendinite nos dois braços. Ah, pois é! Já demos para o peditório das mudanças de escritório. Já demos 5 vezes! Estamos um bocado fartas de ser as mongas de carga.
Querem mudar, lindinhos? Mudem vocês!

terça-feira, 27 de maio de 2008

Over the rainbow

Ontem, ao regressar a casa, depois de um dia absolutamente cão, e com uma conversa difícil em perspectiva, tive a sorte de ver um arco íris vibrante, onde o indigo ( a cor de que mais gosto e geralmente a que menos distingo) brilhava imponente, e suportava as outras riscas de cor. Um arco íris gigantesco, que parecia estar pertíssimo, ali ao alcance de uma mão esticada.
Fico sempre em estado de beatificação quando vejo um arco íris. É-me impossível ficar indiferente. Dá-me uma estranha sensação de paz. Dá-me tréguas do cinzentismo diário. Faz-me sorrir, mesmo quando me apetece chorar. Aliás, tenho para mim que o arco íris é o sorriso da chuva a piscar um olho maroto ao sol, como que a dizer-lhe 'vá, já podes voltar, que já lavei telhados e almas'. O Arco Íris é absolutamente mágico.
E faz-me pensar na Dorothy...gosto muito desta canção. Muito, muito mesmo.

Over The Rainbow
(Arlen-Harburg)

Somewhere over the rainbow
Way up high
There's a land that I heard of
Once in a lullaby
Somewhere over the rainbow
Skies are blue
And the dreams that you dare to dream
Really do come true
Some day I'll wish upon a star
And wake up where the clouds are far
behind me
Where troubles melt like lemondrops
Away above the chimney tops
That's where you'll find me
Somewhere over the rainbow
Bluebirds fly
Birds fly over the rainbow
Why then, oh why can't I?
Some day I'll wish upon a star
And wake up where the clouds are far
behind me
Where troubles melt like lemondrops
Away above the chimney tops
That's where you'll find me
Somewhere over the rainbow
Bluebirds fly
Birds fly over the rainbow
Why then, oh why can't I?
If happy little bluebirds fly
Beyond the rainbow
Why, oh why can't I?

domingo, 25 de maio de 2008

Rescaldo

Isto de tirar férias, por mais mini que sejam, e deixar os bébés gordos entregues ao cuidado de estranhos é uma dor de alma.


Os gatinhos estão bem; a D. Rita tratou bem deles, e só parecem sofrer de saudades. A Nádia, a snob cá do burgo, nem fez a fita habitual de não me 'falar' durante uns dias e já está aninhada ao meu colo. O Boris, o palhacinho, já fez o seu rebolanço no chão para eu lhe fazer festinhas na barriga e ele ter uma desculpa para me abocanhar (às vezes penso que este gato tem mais de cão que de outra coisa...). Já o Gato Gil, o tal que pensa que eu penso que mando e que ficou de tomar conta do tasco, vai ter de me explicar a moldura partida... já percebo porque é que ele já se enfiou debaixo da cama. Mas pronto, estava tudo bem com eles.

Mas os meus cãezinhos...valha-me Deus!


Tive de me conter para não bater no veterinário. Cheguei mais cedo do que o previsto, e mais ou menos de improviso. Claramente, não estavam à minha espera. O que me permitiu verificar as condições em que estavam os pobres animais às duas e meia da tarde: prostradíssimos (assim mais ou menos como este que saquei da net), num canil repleto de dejectos (seguramente não era limpo desde o dia anterior e quero acreditar que não estou a ser optimista), e o melhor de tudo: sem gota de água! Não sei quantas vezes lhes enchi as gamelas ao chegar a casa. A Sasha até bebeu deitada, com a cabeçorra toda lá dentro, tal era a sede.
Inacreditável! Especialmente quando faço questão de os deixar num veterinário, por me parecer que os animais ficam melhor acompanhados. Ainda bem, não é?
Estou, portanto, furiosa! E no mercado para um hotel decente para os bichos, porque não tarda vou de férias grandes e ali, nunca mais! Ainda me perguntam porque é que eu stresso quando tenho de deixar a bicharada...é por isto, meus amigos! Há quem se esteja nas tintas. Eu, por acaso, não estou. E sofro imenso com estas coisas. Temos pena se somos percebidos como anormais por nos preocuparmos com o bem estar dos bichos. Eu cá prefiro ser anormal a insensível.
E agora vou-me embora, que os vou levar a dar um enorme passeio no campo para compensá-los. E dar-lhes mimos enormes. E rebolar colina abaixo, como a Laura Ingalls ( em versão sem tranças e com menos sardas). Pensando melhor...se calhar é melhor não rebolar muito, que o carraçedo já deve andar aí em força e ouço dizer que a doença de Lyme é tramada.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Aviso


Prrr prrr ...Comprrromissos diplomáticos inadiáveis da crrriatura que pensssa que manda aqui... prr prrr...obrrrigam-na a irrr a toque de caixa parrra... prrr prrr... a Invicta. Temosss fesssta durrrrante trrêsss diasss! Até ela voltarrr, I'm in charrrge! prrr prrr prrr...


Felinamente,

Gato Gil

terça-feira, 20 de maio de 2008

Causou estranheza...

...o modo comedido como festejei a conquista de mais uma Taça de Portugal, a nossa 15ª, se prestei bem atenção ao 'Especial' antes do jogo.



A pedido de muitas famílias, e para que não fiquem dúvidas quanto ao meu Orgulho Leonino, aqui fica então um festejo condigno:



A TAÇA É NOSSA!!!!! SOMOS OS MAIORES!!!!

PINTO DA COSTA, EMBRULHA!!

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Baptismo

Rejubilemos, irmãos!
Reunimo-nos hoje para acolher no nosso seio (salvo seja) e saudar oficialmente, Sansão e Dalila, graciosas criaturas que vieram alegrar os meus dias aqui no 'Reino da Infindável Estupidez'.
Alegro-me por dizer que, apesar da comida estar fora de prazo desde Fevereiro (só comigo!), os espécimes sobreviveram ao primeiro fim de semana sozinhos e medram a bom ritmo.
Agradeço a todos quantos opinaram sobre possíveis nomes - e também aos que opinaram sobre o modo de cozinhar os pobres bichos -, mas a verdade é que não há amor como o primeiro. Dizem...

sábado, 17 de maio de 2008

Como um acidente doméstico se transforma num ensaio filosófico...

Passei pelo sítio do PsychoMind e voltei de lá a sorrir com este post sobre advertências estúpidas escritas em diversos produtos. Retive esta, por razões que em breve vos serão reveladas:

Na embalagem da tábua de passar a ferro da Rowenta:"Não engomar a roupa sobre o corpo"

Sobre esta frase ocorrem-me dois pensamentos:

a) Há aí uma liberdade de utilização que é completamente castrada, porque sendo o acto de passar a ferro resultante da vontade do dono da tábua, do ferro, da roupa e do próprio corpinho, porque diabo é que há-de vir um tipo qualquer dizer como é que havemos de passar a ferro?

b) a minha tábua de engomar claramente não é da Rowenta, porque se fosse, e eu tivesse lido a advertência, talvez tivesse pensado melhor e não tinha ficado assim, marcada a ferro e fogo, qual vitelinho da 'Ponderosa':


Antes que me considerem mais débil mental do que já me dou a parecer, deixem-me dizer três coisas:


a) Eu não passo a roupa no corpo habitualmente. Mas tinha um vinco no punho do camiseiro, que me tinha escapado aquando da passadela inicial, que ocorreu, como é suposto, em cima da tábua, e estava cheia de pressa.

b) quero enfaticamente chamar a atenção para o formato da queimadura, que lembra um peixe. Estou muito orgulhosa pelo facto de conseguir queimar-me artisticamente!

c) deste episódio, que não resultou de estupidez nem ingenuidade , mas tão somente de um risco calculado que calculei um bocado ao lado (eu sei que não é suposto engomarmo-nos com a roupa vestida, mas estava com pressa. E tentei ter cuidado. Obviamente, sem sucesso!), estabeleci um paralelo com outras experiências passadas: quantas vezes não sabemos do perigo ou riscos envolvidos em determinada acção na nossa vida e não nos atiramos de cabeça na mesma? É tudo uma questão de estar preparado para o resultado final e aceitar as consequências com a graciosidade possível. Se eu não sabia que me podia queimar? Claro que sabia. Mas também sabia que podia não me ter queimado, e despachava-me mais depressa. Correu mal... paciência. Vou deixar de engomar um punho de camiseiro em cima do punho? Durante uns tempos, provavelmente. Mas será que nunca mais vou engomar um punho de camiseiro em cima do punho? Dificilmente! Terei mais cuidado se o voltar a fazer? Com toda a certeza! Erra e aprende, para poderes errar melhor no futuro. (Claro que sim. Para a próxima, pelo menos ponho o ferro no mínimo!)
Mas agora a sério: fazemos isto todos os dias. Talvez não o engomar a roupa no corpinho, felizmente, mas todos os dias somos confrontados com os resultados das nossas escolhas. Importante é que as façamos, as escolhas. E que calculemos o risco. E que estejamos preparados para aceitar qualquer desfecho. Com mais ou menos cicatrizes. Cada uma conta-nos uma história; cada uma é um pontinho no nosso mapa. As mais fundas dizem-nos para não voltar a passar por ali. Outras, para passarmos com mais cuidado. E outras, por fim, aquelas que já quase não se notam, servem para nos fazer recordar e sorrir, seguindo em frente. Essas são as melhores. Que nunca ninguém menospreze o valor de uma cicatriz! (especialmente se ela tiver a forma de uma dourada anoréctica)

Portanto, e no limite, ainda bem que me queimei, pois tive a oportunidade de produzir estas extraordinárias cogitações...Além disso, deu azo a imensas demonstrações de simpatia no trabalho e no círculo amigável. Pelo menos até eu explicar o porquê do 'burn-aid'... ;)
E estou ainda particularmente orgulhosa da forma positiva como estou a encarar isto porque esta bodega doeu-me como o caraças!

sexta-feira, 16 de maio de 2008

From me, with love...


Tenho saudades tuas há já seis anos e quatro meses.
Tenho saudades do teu riso.
Tenho saudades da tua voz.
Tenho saudades de pegar no telefone e começar mais um relato com o inevitável ‘Sara, não vais acreditar...’ (Há tanta coisa que já não te pude contar ao telefone...)
Tenho saudades das nossas noites de copos, no bar do Sr. João.
Tenho saudades de escrever no meu bloco, que fiz de propósito para registar os teus disparates involuntários. Volta e meia, vou reler uns episódios e ainda sorrio. Mas é um sorriso triste, sabes...

Tenho saudades de ir a tua casa, que hoje já pertence a outro alguém.

Tenho saudades de ter pavor da tua gata preta, que a parva da bicha era o diabo!
Tenho saudades de ter saudades quando ias de férias..
Tenho saudades dos teus mimos...

Tenho saudades do teu ar feliz, quando a maldita ainda não te sugava a vida.
Tenho saudades da tua fé, que também me fez acreditar...

E tenho saudades de neste dia te dar um ramo de flores e cantar-te os parabéns. Aqui tens a flor, e eu estou a cantar baixinho para ti, Sara...




domingo, 11 de maio de 2008

Não há pachorra...

Há pouco, ao responder a um comentário da Vanadis, a propósito do grau de atractividade dos actores estrangeiros, no caso, do Reino Unido (Inglaterra e Irlanda, para ser mais precisa), fartei-me de pensar num paralelo por terras lusas e cheguei à conclusão que, nos últimos anos, a colheita tem sido muito fraca. Na verdade, para além do charmosíssimo Rogério Samora (na versão olhos castanhos e não aquele pavor verde ou azul água que o obrigam a usar na última novela), do Diogo Infante e do Pedro Granger (que já acrescentei mesmo in extremis antes de publicar, evitando assim uma enorme injustiça porque o moço distingue-se, de facto) não vislumbro assim de repente mais nenhum digno de aclamação. Não existe, é certo, a máquina publicitária que se vê nos países anglosaxónicos, nem o show biz à escala interplanetária de Holywoods e afins, mas não estaremos a cair no verdadeiro marasmo? Teremos nós de nos contentar com a 'geração morangos' para sempre? Palminhos de cara ( e estou a ser muito simpática) imberbes e tontos, que vão aparecendo nas revistas cor de rosa mais pelas sucessivas conquistas do que por verdadeiro mérito artístico? Que fornada entediante, esta!
Tenho saudade - e não vivi nesse tempo - dos anos de glória dos Senhores Curado Ribeiro e Ruy de Carvalho, os nossos Cary Grant e Humphrey Bogart (em termos de comparativo de popularidade nacional, claro está). Nessa altura havia respeito pela arte de ser Actor, cultivava-se o Actor como um ser etéreo e bemfeitor, que nos transportava nas salas de cinema, e nos palcos do D. Maria II, para mundos de suspiros e fantasias, fazendo um povo mais ou menos sacrificado pelos tempos difíceis do Salazarismo, distrair-se um pouco e perder-se nos meandros de uma história que desejariam fosse a deles, ou para se esquecerem do clima de opressão e medo que grassava naqueles anos.
Hoje, com todo o progresso, o que temos? novelas idiotas e fast food cinematográfico, com miúdas de maçãs de rosto proeminentes, mamas à mostra e rabo ao léu a dar vida a clássicos literários; historietas sobre miúdas de mamas à mostra e rabo ao léu a denunciar corruptos, e actores a fazer anúncios de supermercados para conseguirem sobreviver.
Acho isto um bocado triste, na verdade. Como tal, em vez de prestar atenção aos Rodrigos e Soraias que andam por aí, vou continuar a deleitar-me com os Al e Roberts que estão para lá do Atlântico. É que, para além de charmosos, e bem postos, até são mesmo ACTORES! E pasme-se! fazem filmes com argumentos interessantes. E mais estranho ainda: não têm de se despir para arranjar audiências!

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Catarse

Estava eu placidamente a ler o lentinho e pouco entusiasmante 'Orgulho e Preconceito', de Jane Austen, que tem alguns apontamentos brilhantes de ironia, mas não me está, de todo, a fascinar (ainda bem que é considerado o melhor livro dela, assim já não me dou ao trabalho de ler mais nenhum), quando a jovem caramela que viajava a meu lado sai e no seu lugar se senta outro jovem. Até aqui tudo bem...(não, não, o jovem não me tocou nas pernas nem nada disso, hoje é mesmo um post sério). Engraçado foi quando o jovem saca de um livro também e se põe a ler. Suponho. Digo suponho, porque parecia precisar de ajuda do indicador direito para ir seguindo as letras. Percebi porquê quando olhei com mais atenção: o jovem estava a ler uma coisa absolutamente árabe. Não me atrevo a dizer que fosse o Corão, porque não domino a língua árabe, mas fiquei suficientemente surpresa para abandonar o fastidioso enredo dos galanteios do Sr. Darcy à impertinente Elizabeth e analisar, com mais preceito, o semblante de quem tão estranha obra desfolhava.

Pois que o jovem não era árabe, tinha uma tez branquela de quem passa muito tempo fechado em casa a mofar, e pareceu-me claramente ocidental. Tinha uma barba enorme, que não via pente há três quinze dias e era francamente, como direi..euh...disgusting, mas não tinha um aspecto muito alucinado. A roupagem era normal, e para quem gosta do estilo grunge, não estava mal. Também parecia limpinho, portanto, à primeira vista, era um cidadão como outro qualquer.
Isto tudo para dizer o quê? Para fazer um mea culpa, para já, porque não posso dizer que não me senti desconfortável quando vi os caracteres arábicos e tive a tentação imediata de olhar para o tipo, em busca de um volume suspeito à cintura, ou de um sinal que me indicasse que nos próximos segundos ele iria gritar 'Alá' e fazer explodir o comboio. Não que me adiantasse alguma coisa ter essa percepção antes da deflagração, mas pronto, pelo menos tinha tempo de pensar nos meus entes queridos e até, quiçá, uma vez que o tipo estava mesmo a meu lado, de lhe pregar uma valente chapada e dizer-lhe 'és muito estúpido! Acreditas mesmo que alguma virgem vai olhar para ti com essa barba nojenta?', antes de me esfumar no éter. Mas não, o pobre rapaz continuou placidamente a mexer no seu livrinho, e eu voltei à minha monótona leitura ocidental (mas atenta às movimentações do lado) , e ainda aqui estou para contar a história. Mas são estranhos os pensamentos que nos assolam ao ver algo estranho à rotina, e as conotações (negativas, admito) automáticas que nos vêm ao espírito nos tempos que correm.
Não estou propriamente orgulhosa destes meus pensamentos, mas não os podendo negar, exorcizo-os deste modo. Há um medo latente, e uma intolerância feroz a rondar-nos. Sinais dos tempos...

domingo, 4 de maio de 2008

A dura vida dos meus gatos...


e eu se quiser, sento-me no chão...Pois claro!

quinta-feira, 1 de maio de 2008

A simple thing

O olhar dela, ausente, alheio, vagueando pelas paredes, único movimento do seu corpo abandonado no sofá. Ele, jocoso e mordaz, provocando, como que a brincar, mas dizendo, muito a sério, verdades inconvenientes e pouco elogiosas. A criança, a brincar com os carrinhos, na sua inocência ternurenta, monologando com o velho elefante de peluche, enquanto os pais se agrediam e ignoravam, à vez.

Um pouco mais longe, sentada no parapeito da janela, a ver a chuva a bater nos vidros, eu tentava ignorar a cena que se desenrolava, e que, infelizmente, já vi várias vezes. Um sentimento de desperdício amarga-me a garganta ao pensar nos inúmeros casais que deixaram de tentar, ou que, tomando por certo uma união que constantemente deve ser cuidada, se desleixam, e partem para a via fácil da desresponsabilização e do apontar o dedo, deixando as fricções inevitáveis de uma cohabitação levar a melhor e fazer esquecer o princípio base que juntou o casal in the first place, e que se supõe seja esse grande chavão chamado ‘amor’. Dizem que o amor não resiste à rotina. Eu não concordo. Entendo que cada um de nós tem em si a capacidade de se renovar a cada dia, de contornar a rotina e brindar (ainda que cheio de olheiras, esgotado, irritado, doente, angustiado, desalentado, seja lá o que for que não esteja a correr bem nesse dia) a cara metade com um sorriso. Mesmo que já não se tenha força para uma declaração inflamada, um sorriso é sempre um brinde de carinho que não deveria custar ofertar. Mais do que isso, é um sinal de respeito que envia subrepticiamente a mensagem 'estou de rastos, mas tu fazes-me sorrir e quero que saibas disto, apesar de não conseguir arranjar melhor forma de to dizer neste momento'. E às vezes é quanto basta...

Tenho assistido - com pena, devo dizê-lo -, ao apagar de muitos sorrisos entre casais. Custa-me testemunhar um fenómeno que, não só me aborrece, porque são amigos meus que deviam estar felizes e estão apenas acomodados, como me entristece; por muito que queiramos permanecer optimistas e confiantes num futuro melhor, eventualmente a dois, e depois a três ou a quatro, mais os gatos, os cães, e os patos num charco, é difícil manter a boa disposição e, vá, a esperança, se vemos cada vez menos feedback positivo. Mas então? É nisto que se vai tornar? Onde está o riso, a partilha, o apoiar a cabeça num ombro, um abraço apertado, ver um filme juntos, ler debaixo de uma manta?

Suponho que a minha inexperiência nas artes conjugais 'de facto' me leve a ser algo lírica, e a obter sorrisos de condescendência de quem ler estas linhas. Tudo bem. Mas eu funciono muito pelo princípio das coisas. E tenho para mim que o princípio da coisa não se pode perder na avalanche de obstáculos e dificuldade da vida a dois. Não sou estúpida ao ponto de querer poetizar as relações humanas que, sendo humanas, são por definição complexas. Talvez estivessemos melhor se fossemos cisnes ou pinguins imperiais, ou mesmo cavalos marinhos, que escolhem um parceiro para a vida e lhe juram fidelidade e carinho incondicional, sem recurso a palavras ocas ou assinaturas num qualquer livro de conservatória. (In)Felizmente, não somos. Temos a escolha de não cair no marasmo. E de procurar ser felizes, na plenitude da nossa habilidade.
Quando penso num casal feliz, vem-me à ideia esta cena do filme Nothing Hill.

Olho para esta imagem e vejo paz, respeito, carinho e partilha.
Tenhamos a coragem de assumir que é assim que um casal deveria ser. E façamos por isso.

Tenho dito! ( com a convicção possível num mundo nem sempre favorável à poesia dos afectos )