Estava eu placidamente a ler o lentinho e pouco entusiasmante 'Orgulho e Preconceito', de Jane Austen, que tem alguns apontamentos brilhantes de ironia, mas não me está, de todo, a fascinar (ainda bem que é considerado o melhor livro dela, assim já não me dou ao trabalho de ler mais nenhum), quando a jovem caramela que viajava a meu lado sai e no seu lugar se senta outro jovem. Até aqui tudo bem...(não, não, o jovem não me tocou nas pernas nem nada disso, hoje é mesmo um post sério). Engraçado foi quando o jovem saca de um livro também e se põe a ler. Suponho. Digo suponho, porque parecia precisar de ajuda do indicador direito para ir seguindo as letras. Percebi porquê quando olhei com mais atenção: o jovem estava a ler uma coisa absolutamente árabe. Não me atrevo a dizer que fosse o Corão, porque não domino a língua árabe, mas fiquei suficientemente surpresa para abandonar o fastidioso enredo dos galanteios do Sr. Darcy à impertinente Elizabeth e analisar, com mais preceito, o semblante de quem tão estranha obra desfolhava.
Pois que o jovem não era árabe, tinha uma tez branquela de quem passa muito tempo fechado em casa a mofar, e pareceu-me claramente ocidental. Tinha uma barba enorme, que não via pente há três quinze dias e era francamente, como direi..euh...disgusting, mas não tinha um aspecto muito alucinado. A roupagem era normal, e para quem gosta do estilo grunge, não estava mal. Também parecia limpinho, portanto, à primeira vista, era um cidadão como outro qualquer.
Isto tudo para dizer o quê? Para fazer um mea culpa, para já, porque não posso dizer que não me senti desconfortável quando vi os caracteres arábicos e tive a tentação imediata de olhar para o tipo, em busca de um volume suspeito à cintura, ou de um sinal que me indicasse que nos próximos segundos ele iria gritar 'Alá' e fazer explodir o comboio. Não que me adiantasse alguma coisa ter essa percepção antes da deflagração, mas pronto, pelo menos tinha tempo de pensar nos meus entes queridos e até, quiçá, uma vez que o tipo estava mesmo a meu lado, de lhe pregar uma valente chapada e dizer-lhe 'és muito estúpido! Acreditas mesmo que alguma virgem vai olhar para ti com essa barba nojenta?', antes de me esfumar no éter. Mas não, o pobre rapaz continuou placidamente a mexer no seu livrinho, e eu voltei à minha monótona leitura ocidental (mas atenta às movimentações do lado) , e ainda aqui estou para contar a história. Mas são estranhos os pensamentos que nos assolam ao ver algo estranho à rotina, e as conotações (negativas, admito) automáticas que nos vêm ao espírito nos tempos que correm.
Não estou propriamente orgulhosa destes meus pensamentos, mas não os podendo negar, exorcizo-os deste modo. Há um medo latente, e uma intolerância feroz a rondar-nos. Sinais dos tempos...
Apesar de estares a brincar, o que dizes é bem verdade. Quer no que diz respeito à aparência como à proveniência.
ResponderEliminarBom post.
beijo
ainda aqui estas lol ´comboio não explodiu eheheheheh
ResponderEliminarbom post lol
beijjinhos
MIAU!
ResponderEliminar:)
Eu amo Jane Austen!!! Li todos os livros dela ('tá que não são muitos, que a mulher morreu relativamente nova), e deliro com as falas e os maneirismos da época. Agora, está claro, o livro foi escrito há quase 200 anos (fui confirmar na Wikipédia, 1813), de modo que nem toda a gente gosta desses livros. Ah e também vi todos os filmes e séries...
ResponderEliminarA série era com o Colin Firth no papel de Darcy...
Sabias que a Helen Fielding do "Diário da Bridget Jones", chamou ao protagonista Mark Darcy, precisamente em homenagem a esse Mr. Darcy, por, segundo ela, ser a encarnação do "príncipe encantado" com que todas as mulheres sonham???
Então quem é que protagonizou o 2ª Darcy? Colin Firth, está claro!!! :)
Bom, em relação ao homem que lia árabe (isto parece um título de um filme, né?), a verdade é mesmo essa, e, quer queiramos quer não, até olhamos com um ar meio desconfiado qualquer um que esteja mais bronzeado... É triste, mas é mesmo assim!
Mas coitado do homem, era assim tão disgusting, que achas que nem uma virgenzinha para amostra lhe calhava na rifa??? É que há muita gente pouco exigente... :D
Óptimo, óptimo post.
ResponderEliminarPena é o que escreveste sobre Jane Austen, uma das "mulheres da minha vida", venero-a - ainda bem que tem mais defensoras! Estou quase a deixar de te falar... :)
"Orgulho e Preconceito" é para mim sem dúvida possível uma das obras-primas absolutas e inquestionáveis da literatura universal. Só aquela abertura é BRILHANTE, uma das mais extraordinárias que já li!!! "It is a truth universally acknowledged that a single man in
possession of a good fortune must be in want of a wife."
Hehehehe! Muito bem visto.
ResponderEliminarTambém te contava uma história desse tipo que aconteceu cá no Hospital, mas fica para outra altura.
tens que me dizer que comboio é esse que apanhas!!é sempre com cada história!!! assédios, possiveis atentados bombistas..mais um pouco e já dava para o die hard 5 com o Bruce.
ResponderEliminarQuando eu andava de comboio a unica cena de relevo que acontecia, era quando entrava um homem todo bebedo que ia o caminho todo a falar com o seu próprio reflexo na porta do comboio e perguntava e respondia...era de morrer a rir..
beijinhos
Maria: Olá, Bemvinda! Tento sempre falar a sério brincando. Sempre custa menos enfrentar os 'papões'.
ResponderEliminarBjs
Enfim: nah... desta vez, safei-me!
Beijinhos
Capitão: MIAU? Isso não era no post anterior? ;)
Teté: Eu amo o Colin Firth. Especialmente no papel de escritor meio apalermado, que aprende português para casar com a nossa Lúcia Moniz em 'Love actually'. Aquele plácido ar britânico...E também gosto muito do Colin Farrell... Mas isso fica para outra conversa.
Pois, terei de fazer mais um mea culpa, por ter ousado falar mal da Jane Austen. MAs, não é que ela não escreva bem, é que me irrita profundamente o retrato daquela mentalidade muito britânica, as meninas muito sociais, os fanicos por coisas sem importância, os suspiros afectados, os serões à volta do piano para impressionar os senhores casadoiros. Não tenho paciência...
Quanto ao meu taliban, pois...se calhar uma virgem desprevenida...quiçá...com sorte...se a embebedasse...
Teresa: (parece que combinaste com a Teté para me darem na cabeça em sequência...apre! ;))
Bom, agora que falas nisso, achei piada à primeira frase (claro que perde com a tradução) bem a como alguns diálogos, mas o que eu quero dizer com o não me estar a fascinar é que não me diz nada a trama. Não me emociono, não me sinto especialmente tocada. Ainda. Mas ainda me falta mais de metade, e confesso ter alguma simpatia pela Elizabeth, que é 'rebitesga' como eu, e cheia de princípios contra corrente. Eu também os tenho, mas nunca os coloco em prática, burra que sou. Sempre quero ver como ela acaba, pode ser que me surja inspiração para o grito do ipiranga.
Vá lá, estou perdoada? Pretty please... :)
Melga: Conta lá, anda!
Carvoeirita: Eu acho que não tem propriamente a ver com o comboio, mas sim com o meu karma desgraçado. Se houver alguma coisa potencialmente estúpida para acontecer, acontece perto de mim!
Olha, mas antes o bêbado falar com o reflexo do que contigo. Imaginas o bafo? YEARKKKKK...
Para quem não gosta de ajuntamentos esse comboio é uma excelente terapia. E vê-se, pelo nível do exorcismo. Queremos mais!!
ResponderEliminarBjs
P.S. Raio de mundo este que os torno a todos potenciais bombistas e raptores de crianças.
eeh pai, eu adoro o orgulho e preconceito...o filme, diga-se...com o colin firth (não com o hugh grant).
ResponderEliminarOh melher, mas as melheres da época não tinham ocupação...viviam demasiado da introspecção, logo, fanicavam por tudo e por nada! As que tinham sorte, ainda aprendiam a ler e a escrever e podiam exarcebar os fantasmas escrevendo. Eram as blogueiras da época! =D
E por acaso sabes o que quer dizer o simbolo que puseste como imagem do poste?
Faz-me lembrar a tatuagem da minha irmã. Essa diz "Luz".
Tenho um pen friend palestiniano. Fiel à causa, logicamente. Mas instruido, culto, inteligente, interessante. E extremamente emotivo...mas adoro falar com ele (qd temos tempo e é uma salgalhada de espanhol com ingles, frances e algum árabe que ele me ensinou, pouco). E acredita que as virgens lhe saltavam todas pra cima... :-p =D irónicamente, é casado com uma americana...mas a coisa na tá a correr bem... enfim...orgulho e preconceito, mesmo a calhar.
Realmente, as tuas aventuras no comboio são um must. Havia pirexes assassinos de mãos e tendões???
Ah adoooooooooooooooro o colin farrel e o colin firth é um gentleman do caraças......era ve-lo todo 007!
ResponderEliminarMas do hugh grant na gosto, tem olhos de carneiro mal morto... baba-se a falar... e tem um gosto estranho por prostitutas feiosas, qd tinha em mão uma mulher lindissima (que sabe-se lá não andaria a privá-lo de nexo...lool, tanto que ele foi anexar a primeira coisa que encontrou...)...
ResponderEliminarQuando aprender a ler vou procurar esse livro.
ResponderEliminareu so reparo nessas figuras quando elas trazem o belo do turbante laranja. Por incrivel que pareça os unicos pensamentos que me vêm à cabeça são:
ResponderEliminara enorme capacidade de sofrimento do homem por andar com aquilo na cabeça, o que nao deve ser propriamente fresco
o facto de em portugal nao haver terrorismo. os gajos so ca vem passar ferias :)
beijinhos
Um bom fim-de-semana.
ResponderEliminarDualidades JP
Viajante: o meu estado lastimoso de impaciência e irritabilidade é precisamente fruto de me ver obrigada a partilhar o meu espaço pessoal com o poveco todo que anda de transportes. É que se ainda seguissem calados...mas não, temos de levar com as conversas parvas. Não ouço ninguém dissertar sobre matérias de interesse, mas se quiseres ficar a saber tudo sobre a osteoporose da D. Alfredina, ou o rol de gastroenterites do Gonçalo, posso indicar-te o comboio das 8:37! ARGH!!!
ResponderEliminarVani: Nah...pirexes assassinos nunca apanhei, mas já levei com uma pedrada no vidro. A malta da periferia anda a ver se federaliza uma nova modalidade...
O Colin Firth...pois...hum...é, como direi, muito inspirador.
O Colin Farrell, tirando aquele ar amaricado em 'Alexandre', também é muito inspirador. Há uma coisa que me faz confusão...porque é que há tanto gajo giro a actuar lá fora e nós aqui temos os pitos dos morangos com açucar? É uma coisa que me causa estranheza. Acho que me vou debruçar sobre o assunto, oportunamente.
E onde é que arranjaste tu um pen friend palestiniano, rapariga? Fiquei curiosa com as vossas trocas de impressões, agora...a familia dele deve adorar a 'nora'. rapaz corajoso!
Não faço ideia do que quer dizer o símbolo. Espero não estar a mandar ninguém para um sítio feio...
Oh mulher, o Hugh Grant é um must. Com aquele ar apalermado, e olhos de cocker...Ouço dizer que a Elizabeth Hurley é uma rapariga caprichosa...além disso, alguns homens lidam mal com a extrema beleza das companheiras e talvez necessitem de uma moça mais... hum...badalhoca, para se libertarem de eventuais pressões. Não estou a defende-lo, que achei extremamente estúpido fazer lá o que queriam dentro de um carro, mas pronto, os homens (alguns) ficam com o cérebro inibido quando se põem a pensar só com a testosterona...
Rei da lã: Olá! Podes sempre começar com algo menos complicado, tipo o Ruca, que tem bonecos ;)
Fausto: mas os dos turbantes cor de laranja são hindus, teoricamente inofensivos... não há terrorismo...ah pois não! Há montes de terrorismo. A começar pela limpeza do metro. Um atentado à saúde pública!
Pois, mas no mi gusta jóves com olhos de cocker LOOOOL.
ResponderEliminarNão sabia isso :X
ResponderEliminare os brancos?
Grafonola: óoooooo...tadinhos deles!!!!
ResponderEliminarFausto: estive meia hora a pensar no que diabo estarias tu a querer dizer...
Homem, sei lá! Brancos n deve haver muito, já viste o que aquilo se deve sujar de andarem sempre de testa no chão a rezar ao profeta?
por acaso no sabado vi 2 com os turbantes brancos no metro e lembrei-me de ti :)
ResponderEliminarFausto: desde que não lhes digas a que horas é que eu ando no metro, tudo bem!
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