quarta-feira, 30 de setembro de 2009


Chego ao escritório e não há rede. Nada de novo, portanto. Aliás, é minha opinião convicta que ‘server em baixo’ devia constar do nosso logotipo.

Vou ouvindo as conversas telefónicas da nossa S. com o nosso helpdesk externo, divertindo-me com o seu vai vem constante entre o telefone da recepção e o servidor, no fundo do corredor.

Consciente de que me vou arrepender, ainda assim saio do meu gabinete ensolarado para ajudar. Passo pelos dois engenheiros sentados nos gabinetes e fico a pensar porque é que nós, as miúdas giras, é que estamos de volta do servidor defunto. Não que não sejamos capazes de dominar a besta debitadeira de bits sem eles, mas não lhes ficava mal levantarem o rabo, não senhor. Penso, por outro lado, que de qualquer forma também não tenho feitio para esperar que as coisas aconteçam e gosto sempre de perceber porque diabo uma coisa que ontem funcionava hoje entregou a alma ao Criador dos microships e circuitos integrados. Assim, vou para o campo ver a acção de perto.

A S. continuava a receber instruções pelo telefone (já não o da recepção, mas o da colega mais perto do server) e eu ofereci-me para as executar no servidor. Constato que nunca poderia fazer carreira militar porque, é oficial, não consigo cumprir ordens sem as questionar. Por isso perguntei três vezes ‘tens a certeza que queres desligar a alimentação eléctrica a seco?’. Por três vezes ouvi um ‘sim’, o último dos quais num tom que me soou a ‘epá, desliga lá essa porcaria de uma vez e cala-te’. Calei-me, mas não desliguei. (Sou mula. Temos pena). A pobre da S. veio desligar. Ouviu-se um puffff e lights out. E ela voltou a ligar a ficha, e lights on. E depois disseram-nos para fazer restart aos nossos PCs...

(eu não fiz, claro, porque sou mula). Mas, pouco depois, ouvi a S. a ligar de novo para o nosso amigo e dizer-lhe ‘não funciona na mesma’.

Pois...

Eu não sou informática, mas quer-me parecer que tentar resolver um problema de conexão, desligando tudo da ficha de alimentação eléctrica não é grande ideia. Não sei, digo eu...


E pronto. É meio dia, e o server finalmente arrancou. Yuppi! Agora vou ver os emails e fazer tempo até ao almoço dado que este tédio matinal fez overload nos meus circuitos e no meu switch só mexe quem eu deixo!

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

A arte de dizer ‘não’


Após anos a fio a engolir sapos e a dizer ‘claro, não me importo nada’ quando na verdade me importo - e bastante -, é com grato prazer que informo que se acabou a mama. ‘Não’ tornou-se a minha palavra preferida. Libertei-me. Dei o grito do Ipiranga. Pronto.

ANTES
Amiga/o: queres vir comigo n sei onde, (porque não me dá jeito ir sozinha/o)?
Eu (pensando, damn it, não, não quero, quero acabar o meu livro): euh...claro, vamos.

AGORA
Amigo/a: queres vir comigo n sei onde, (porque não me dá jeito ir sozinha/o)?
Eu: Não, obrigada. Quero mesmo acabar o meu livro.

Ou, a minha situação recorrente preferida:

ANTES
Amiga/o
: estava a pensar ir passar uma semana a tua casa ( mesmo que não estejas lá e que os teus gatos fiquem stressados com a minha presença). Pode ser?
Eu (cortando os pulsos em agonia antecipada): ah, claro. Yuppi, vai ser tão bom.


AGORA
Amiga/o
: estava a pensar ir passar uma semana a tua casa ( mesmo que não estejas lá e que os teus gatos fiquem stressados com a minha presença). Pode ser?
Eu (com incomensurável satisfação): na verdade, não. Prefiro receber quando estou de férias, para ter a certeza de que tudo corre bem e não gosto de stressar os gatos gratuitamente.

Mai nada!

E, embora ainda haja pessoas a quem não basta dizer não uma vez, mas sim duas ou três, para perceberem que não, não estou a gozar, tem sido cada vez mais fácil fazer cada vez mais o que eu realmente quero fazer e menos o que os outros acham que dá jeito que eu faça para lhes facilitar a vida. Pois que não tenho nada contra o facilitar a vida aos outros, desde que a minha não se torne num inferno por causa disso. Cansei-me de ser palerma, peço imensa desculpa.



Agora é só tentar perceber porque é ser honesto causa tanto prurido a tanta gente. Estavam mal habituadinhos, não era? Temos pena.

Banda Sonora: I'm sorry - Brenda Lee

domingo, 20 de setembro de 2009

Update

Já recebemos os resultados da análise dos tumores de Sasha Margarida. Confirma-se o mastocitoma de grau II, embora dentro do grau II seja um dos menos agressivos. Traduzindo por miúdos: não podemos dizer que está curada, mas podemos encarar o futuro com alguma (e digo bem, alguma) tranquilidade.
Se a minha gorda maluca não rebentar mais nenhuma costura entretanto, dentro de uns 15 dias fará um check up completo, para determinar se existe mais algum foco de preocupação e ver o seu estado de saúde geral, e investigar de onde vem a maldita tosse.
O tratamento dependerá do que os testes encontrarem. Existe a hipótese da quimioterapia mas os seus benefícios no tratamento deste tipo de cancro são reduzidos, sendo a radioterapia o mais eficaz. Claro que, vivendo neste país miserável e sem cultura pelo direito dos animais, não há oferta de radioterapia animal em Portugal.
Mas por ora, na opinião da vet, correu tudo bem, as margens de tecido estavam limpas num dos nódulos e com poucas células no outro, pelo que há pouca probabilidade de recidiva. Não vou tentar o destino começando a falar no Grande Galo Universal, e encarar tudo isto da melhor forma possível. Afinal já tive uma rã perneta, três gatos com tinha, um cão cego...o que é um cão oncológico para mim, certo?

Enfim...


Terminando numa nota de absurdo (assim como quem quer deixar de falar de coisas tristes) há gente muito parva neste mundo. Toca-me ontem o telemóvel. Atendo um número que não conheço (porque tenho sempre a esperança que seja alguém a dizer que ganhei qualquer coisa) e sai-me isto.
Eu: estou?
Criatura: queria falar com o 'sé'. (está foneticamente escrito: sé)
Eu: ah, mas olhe que é engano então...
Criatura: ah... e não é a esposa, não?
Eu:...não, não é a esposa, é mesmo engano seu!
Ora digam-me cá uma coisa: ainda que eu fosse a esposa do imbecil do sé, não seria de imaginar que soubesse o nome do meu marido? Especialmente se ele se chamasse sé, com acento no 'o'. Por amor da Santa!

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Dog day afternoon

Para os fãs de Al Pacino, o título deste post já é sugestivo. 'Dog Day Afternoon', de 1975, mostra-nos o nosso cândido Al Pacino a ser vítima do Grande Galo Universal durante um assalto a um banco. Vejam o filme, que é muito engraçado.


Pois eu, não tendo assaltado nenhum banco (não assaltei ainda, porque com a conta que já levo no veterinário é uma hipótese que considero seriamente), também tive uma manhã absolutamente dantesca por causa de Sasha Margarida.


Esta monga achou que estava farta do dreno e toca de o tirar durante a noite. Toca de ir de escantilhão para o vet. Toca de levar na cabeça porque o dreno saiu. Toca de fazer dois raio X, porque, a somar a tudo o que se está a passar, SM está com uma tosse cavernosa. Toca de vestir vestir um avental de chumbo muito pouco sexy e segurar um cão de 39Kgs durante vinte minutos.

Toca de ouvir a vet dizer que a SM tem os pulmões brancos e que na melhor das hipóteses tem líquido, na pior metásteses. Toca de cerrar os dentes para não desatar a dizer palavrões e amaldiçoar o Altíssimo.

Toca de fazer cara alegre quando a vet nos diz 'ah, mas não vamos entrar em pânico...' Claro que não. Pânico, isso é para os maricas!


Toca de largar mais sessenta euros...

(a preços de hoje, esta odisseia da Sasha já vale uma viagem ao México em regime de TI)


Enfim...


Pego no carro e vou para Lisboa. Não sei se alguém já fez a nacional 378 por volta das onze horas, mas só lá andam velhinhos irritantes que não sabem para que serve um acelerador. Deixam-se ir com o vento...tivesse eu uma xaimite e era um vento que se lhes dava, ai isso era.


Chego à estação e constato que perdi o comboio por minutos. Não estando ninguém na plataforma, entreti-me a dizer os palavrões que mencionei acima. Toca o telefone. Era Mummy.

- (Chuif chuif)...ai, esta malvada....

- ó Mãe, mas o que foi?

- (Chuif chuif) A cadela rebentou os pontos, tá tudo aberto.


CERTO!!!!!


Mais um chorrilho de palavrões depois de desligar.

Toca de me meter outra vez no carro, toca de levar com mais velhinhos movidos a carvão, toca de ir buscar Sasha Margareth, muito orgulhosa do gigantesco buraco que arborava no flanco.

Mais um sermão da vet 'ah e tal, que menina mal comportada' mais um anestésico, mais levantar 39kgs de cão para cima da marquesa e segurá-la enquanto era suturada.


E ainda vou ter de fazer o penso em casa e 'substituir-me' ao dreno o que implica pegar numa seringa com soro fisiológico, enfiá-la no buraco superior onde em tempos havia um dreno e despejar o soro lá para dentro, tendo a bela da compressa a postos no orifício de saída para receber o soro e demais porcarias que vão sair dali. Ou seja, amanhã, alvorada às 5:30 da manhã!


Pergunto: Sou só eu que acho que há uma conspiração kármica para me enlouquecer?


Entretanto, e como daqui a pouco tenho de ir à farmácia comprar o material de enfermagem para amanhã, queria deixar aqui e já o agradecimento a todos quantos me deixaram mensagens simpáticas no post anterior. Embora não o faça agora, irei responder.

Ah, sim, aos anónimos chinocas que já me começam a enervar desejo que se auto-empalem no primeiro poste que encontrarem. Desenho em mandarim disponível por email!


E queria acabar numa nota positiva, porque para tristezas já bastam as desta manhã. Uma pessoa muito querida, fez-me uma surpresa para me animar e enviou-me desta foto por email.



Quando eu for despedida ou atingir a falência técnica - a probabilidade é mais ou menos a mesma neste momento -, a Sasha vai ter que dar o corpinho nas Gôndolas para me sustentar.

Obrigada por este miminho, Sandra :)

domingo, 13 de setembro de 2009

Love is...

...ter pavor de cortes e suturas e ainda assim mudar compressas ensanguentadas à nossa cadela recém operada.


É, no meu último post queixava-me de muita coisa: da falta de tempo, da falta de paciência, dos posts que queria fazer...não me quis queixar da ansiedade de saber o resultado da biópsia da Sasha talvez por pensar que não falando sobre isso tudo correria melhor. Não correu. Os nódulos que lhe encontrei na axila e no flanco revelaram-se malignos e menos de uma semana depois Sasha Margareth estava numa sala de cirurgia para extirpar os 'malvados'.

Correu tudo bem, e ela está óptima. Toma 11 comprimidos por dia, tem um dreno e duas cicatrizes enormes, não pode fazer exercício, e está com um ar muito desgraçado, mas felizmente está bem. Não se queixa a fazer o penso - como não se queixou quando lhe picaram o gânglio linfático a sangue frio - e até dá a pata para a ligadura se poder enrolar melhor. Uma valente, a minha gorda. Mais valente do que eu, que estive (e estou ainda) em suspenso até tudo estar resolvido. Temos ainda de esperar a análise dos tumores para saber o grau de malignidade, e se é necessário fazer mais alguma coisa ou se a cirurgia resolveu o problema. Fingers crossed...

São coisas que acontecem. E nunca é só aos outros...

Ainda assim, passamos momentos divertidos. Como uma das suturas já não precisa de penso e está 'ao ar', a Sasha teria de usar aquele antipático funil, que lhe tolhe os movimentos (e nos retalha as pernas), para evitar lamber a sutura. Em alternativa, a vet teve uma ideia brilhante, que funciona às mil maravilhas, embora resulte neste estranho conceito de moda canina:

As suturas são ambas do lado esquerdo e aquele volume que se adivinha no peito são os 10 metros de ligaduras que a enfaixam para ela manter o dreno no sítio. O resto do volume é a massa adiposa do costume... e eu adoro cada um dos 39.200 gramas de banha da minha Sasha Margarida!

Banda Sonora: She - Charles Aznavour