Tão contente
fiquei por descobrir que as vertigens que me acompanhem há três semanas não se
devem a um tumor cerebral mas sim a um quadro de VPPB (vertigem paróxistica
posicional benigna), que se cura com uns abanões bem aplicados na moleirinha,
que me deu para entrar num cabeleireiro express, à saída do otorrino. Ora eu que, verdade
seja dita, andava com uma meleina de bruxa espaventada e tinha muito pouco a
perder, achei que era boa ideia entregar-me a uma tal de Lia, que me disse logo
que ia tomar muito bem conta de mim e, sem eu saber como nem porquê, conseguiu
impingir-me uma corzinha para além do corte ‘chanel’ (que é o fino para cabelo
à tigela, como vim a descobrir hélas! tarde demais). Mas vá, eu e o meu ex tumor
cerebral estávamos em lua de mel, e até de azul me podiam pintar as
sobrancelhas que eu ia achar lindamente. Escolhi uma linda cor violino, que era
o mais escuro que lá havia, para não fugir ao tom natural, e lá peguei numa
revista enquanto a mocinha Lia me massacrava o couro cabeludo à trinchadela e
aos puxões. Quando a tortura abrandou e eu olhei, achei que o violino estava um
bocado acobreado, mas bom, que percebo eu de cabeleireiros finos, eu que sou
atendida por Belas e Paulas? A Lia é que sabe, pois então! Vinte minutos
debaixo do secador supersónico, lavagem, cinco segundos de máscara, passagem à
outra cadeira, e a Lia saca-me da tesoura e zuca! rente à nuca. Paulinha,
volta, que estás perdoada, foi o que eu pensei. E a tesoura toca de trabalhar e
eu de dizer ‘mas olhe, veja lá, o meu cabelo encaracola muito, não me corte
demais’. Não se preocupe, o ‘chanel’ é mesmo assim, fica giro liso ou encaracolado,
ai tá muito giro, fica mais alta e tudo, bla bla bla bla.
De maneiras que lá
foi cortando, com extrema satisfação e empenho. Quando acabou o bréshing, deitei um olho enviesado para o
espelho, e constatei duas coisas:
a)
aquela
n era definitivamente a cor que eu escolhi. A boa notícia é que estou um passo mais perto de conseguir o papel de Jessica Rabbit se alguém fizer um remake da coisa;
b)
o
chanel é afinal assim a modos que um Beatriz-Costa-com-franja-menos-curta-mas-igualmente- ridícula
- Tá giro, não tá? disse a Lia embevecida.
- Hã hã, está sim, gosto muito!
Paguei (um horror!) sem tugir, e fugi a correr antes que a Lia se lembrasse que as minhas sobrancelhas também podiam ser
aparadas!
Epílogo: a coisa não está tão má quanto isto, toda a gente já sabe que sou dada a exageros. Requer habituação, mas até não me fica mal. É o que ouço dizer agora...mesmo das facções reaccionárias que me receberam à gargalhada. (a menina perdoa, mas a menina não esquece...)