Eu, e mais setenta mil pessoas. É muita gente. Felizmente que a Bela Vista é grande e que chegámos à hora ideal: nem demasiado cedo para apanhar uma seca descomunal, nem tão tarde que já não se arranjasse um lugar muito bom para acompanhar o desfile de música e profissionalismo a que assistimos.
Sendo os Bon Jovi os cabeça de cartaz, e (quase) a única razão pela qual eu estava no meio daquela gente toda, eu que não gosto, por norma, de 'ajuntamentos' nem de comungar com a cotovelada do estranho ou a pisadela da tia que vai para ali de saltos agulha (meu Deus, há efectivamente gente tão atrasada mental), asseguro-vos que a perspectiva de esperar cinco horas até ver os meus moços a subir para o palco me parecia dantesca. Mas, fui agradavelmente surpreendida pelo primeiro grupo, os SKANK, que puseram o público a saltar e a cantar (eu incluída nas duas únicas músicas que conhecia), com uma atitude muito 'boa onda' do vocalista, um saúdavel louco que deambulava pelo palco. Deambulou e cantou muito bem, o que não é nada fácil quando se tem de dar pulos e tocar guitarra ao mesmo tempo.
Seguiu-se a grande Alanis Morissete, que não desapontou. Uma postura meio louca e uma escolha de guarda roupa um pouco infeliz (rapariga, rosa choque com cabelo alourado nunca!) não foram suficientes para ensombrar a grande prestação da senhora. Começou com o magnífico 'Uninvited', cantado à nota. Quem conhece este tema sabe que envolve grande técnica vocal, daquela que só os genuinos conseguem reproduzir em palco. A Alanis é genuína. Tem uma grande técnica a rapariga. A voz, apesar de a achar meia nasalada, funciona mesmo. Cantou alguns temas novos, em que foi mais difícil corresponder, mas 'You oughta know' e 'Ironic' 'deitaram a casa abaixo'. Ficou a faltar 'Head over Feet' (rapariga, não te perdoo...). Mas o todo, foi bom. Poderia ter sido muito bom se tivessem trabalhado melhor as passagens entre músicas, um pouco lentas, e com pausas desnecessárias.
Meia hora depois, após a rotina de mudanças do palco, apareceu aquela que, para mim, foi a desilusão da noite: Alejandro Sanz. Não é que o homem cante mal, longe disso, mas foi demasiado tempo de um estilo que não é forçosamente o meu favorito. E, para quem só conhece bem uma canção, e está à espera do Jon, é chato! O momento alto foi precisamente a canção 'corazon partio', que reservava uma surpresa a meio: a Ivete Sangalo apareceu para cantar com ele, o que causou uma revolução pouco elegante no público que, até a moça aparecer estava ali só no 'la la la' morno, e depois começou aos gritos e pulos. Ainda pensei que a seguir encadeassem no 'La tortura', mas a Shakira poderia não gostar e fiquei a 'aguar' por esta também. Deu para notar a faceta extremamente generosa do Alejandro em palco, com grande destaque para cada um dos seus músicos e momentos de solo das coristas. É um cantor simpático. E muito bonito, apesar de poder perder algum volume. Gosto muito do Alejandro. A música dele é que não me convence por aí além. Mas gosto muito do seu ar menino.
E só faltava meia hora para ver os Deuses e vibrar com os seus acordes! Eu estava que não podia, sentava-me, levantava-me, bref, estava num desasossego, ansiando pelo momento em que o Jon se assomaria ali, mesmo ao pé de mim (vá, a uns metros...bastantes metros...hum, não interessa!). E eis que nos cinco minutos finais, vindos da multidão por trás de mim, surge o clube dos janados, um bando de dejectos humanos que, pasme-se, estacionaram ao meu lado. Bom, tudo estaria menos mal, se eles fossem janados mas estivessem quietos e calados. Não. Barulhentos, invasivos, histéricos e definitivamente candidatos ao pontapé na boca do ano. O que, aliás, só não aconteceu porque tive medo: medo de que viesse a polícia e eu acabasse por não ver o concerto. Só por isso. Que o facto de poder levar na cara também (eles eram seis) era uma coisa de somenos importância. Um em particular, o que estava mesmo a meu lado, era uma criatura insuportável.. Por Deus, quis verdadeiramente esmagar-lhe a cabeça! A sério. Não suporto gente assim. Estão centenas de pessoas ordeiramente a assistir a um concerto, na sua vidinha, a cantar e pular com moderação, respeitando toda a gente, e vêm-me estas bestas, que não têm outro qualificativo possível, e começam com moches e cerveja a voar por todo o lado e cigarros a passar a três centímetros da nossa cara? Desculpem lá, comigo não. A primeira vez, tentei protestar delicadamente 'olha, não te importas de gritar menos alto ao meu ouvido, é que eu gostava de não ter um tímpano furado antes de eles subirem ao palco', o que obviamente não resultou. Da segunda vez, na sequência de um empurrão, um olhar fulminante. O gajo estava tão pedrado que nem notou. Epá, à terceira, pisaram-me o calcanhar à séria. A partir dái, de cada vez que me tocavam, levavam elegantemente o mesmo tratamento.... Pontapé discreto, cotovelada nas costelas, era o que estivesse a jeito. Infelizmente não consegui partir a rótula a nenhum, apesar de ter insistido. Estava positivamente possessa, e quis possuir um objecto contundente que lhes espetasse na artéria femoral para sangrarem sossegadamente até à morte.
À conta das bestas, dos seus gritos e saltos histéricos, não consegui acompanhar como devia ser a subida ao palco dos Bon Jovi. Mas, pelo meio da minha nuvem de pensamentos negros comecei a vislumbrar a luz celestial: o Jon, de blusão de cabedal branco, lindo de morrer como sempre, assomava-se no ecrã gigante e piscava-me aquele olhão azul 'esquece lá isso! ó p'ra mim aqui, a cantar para ti'. E pronto, rendi-me ao espectáculo...( mas não totalmente, porque tinha de ter cuidado para não levar com um pé na cara, que os atrasados mentais encavalitavam-se às cavalitas uns dos outros e gritavam como animais. Um pavor. O meu reino por uma faca do Rambo! Ai, se eu fosse um gajo e não medisse só 1,63!)
Enough sobre os janados imbecis. (Acabei de tomar um longo duche e acho que me consegui livrar do cheiro a ganza. Ainda bem que não me mandaram parar numa operação stop, quando não era odorífera e sumariamente detida!)
Voltemos ao que interessa. Os BON JOVI. São o máximo! São mesmo. Pronto. Os anos passam por eles, e deixam as suas marcas nos traços mais carregados, no cabelo menos farto e mais branco, e nos kgs a mais (Richie, Richie, estás cheiinho, homem!), mas eles continuam a ter a 'aura'.
Nunca os tinha visto ao vivo. Falhei os dois concertos deles cá, porque, as usual, conformei-me com uma dificuldade em vez de a tentar contornar. E estive para não ir ao RR pelos mesmos motivos. Em boa hora me insurgi. Eles são muito bons. Muito bons, mesmo. Andam nisto há muitos anos, e apuraram-se. Ainda que a voz já não seja tão límpida (só cá entre nós, julguei perceber uma pequena distorção do micro para modular a voz, mas pode ser preciosismo), e que se notasse cansaço à segunda música (again, pode ser preciosismo) a postura foi irrepreensível. Sempre a sorrir, com um sorriso genuíno, sempre em interacção com o público, com pequenos improvisos musicais de covers para animar as hostes, como o foram os excertos de 'Mercy' e 'You Start me Up', e sempre em movimento. Um monstro de palco, aquele Jon. Ainda que seja suspeita - porque esta tara dos Bon Jovi já me acompanha desde adolescente - acho que ninguém tem dúvidas de que foi um óptimo concerto. Ficaram muitas por tocar, e o encore , com um Jon a vestir a camisola das quinas, soube a pouco. Não apostaram nas baladas, e acho que foi pena. Faltou um 'Bed of Roses' ou o velhinho mas intemporal 'Never say goodbye'. Mas foi muito bom. Muito, muito bom. Eu ia já a correr para lá outra vez! E palpita-me que vou passar a tarde a dar cabo do que me resta de voz e fazer uma passagem pelos CDs todos que tenho cá por casa.
Como diria o Jon: 'I ain't got a fever, got a permanent disease' ('Bad medicine', álbum 'New Jersey', 1988)
Este bichinho já não sai...