segunda-feira, 30 de junho de 2008

Voltei! ou, em título alternativo, 'Afinal não valho um camelo!'

Queria, no meu regresso, fazer um post (epá, desculpem lá, mas os 'es' no fim de post e de blog irritam-me sobremaneira) que traduzisse toda a intensidade das emoções vividas no meu périplo tunisiano. Mas parece-me complicado. Por um lado, porque não tenho dois minutos de sossego para me concentrar. Por outro, porque, como me disse um local, o deserto não se explica, vive-se. Mas eu vou mais longe. Não foi só o deserto, apesar de ter sido, sem dúvida, o que mais me marcou. Toda a viagem foi uma aprendizagem, uma descoberta. Como disse em resposta aos simpáticos comentários ao post anterior, todas as dúvidas e interrogações que eu levava e para as quais esperava respostas pungentes e absolutamente vitais, se esfumaram. É que nem me lembrei de questionar fosse o que fosse que não estivesse relacionado com a miríade de coisas novas a absorver. As cores, os sons (Jesus, como arenga aquela gente nos Souks!), o cheiro do chá de menta, o toque do vento quente na pele (voltei branquela à conta do protector 40, mas enfim), a musicalidade da língua árabe (e a glória suprema de regatear em árabe, naquele que foi provavelmente um dos episódios mais caricatos de todos... mas já lá vou), tudo isso me roubou concentração e tempo para perder com 'mariquices'. Talvez tenha sido essa a grande lição da viagem: há muitas coisas acessórias (ou melhor, complementares) que me preocupam sem necessidade e sou perfeitamente feliz quando não penso nelas. Digo com satisfação que não tive, em toda a viagem, um único momento de 'blues' e que as únicas lágrimas que derramei foram de puro deleite ao assistir a um maravilhoso nascer do sol, do alto de uma torre de vigia no acampamento, quando todos dormiam e só eu (e o casalinho irritante que apareceu depois para vir ocupar o 'meu' espaço, raça das criaturas...) e os pássaros saudavamos o astro rei. Não pensei no facto de não ter ali ninguém com quem partilhar o nascer do sol. Fiquei, sim, muito grata por estar EU a assistir áquele espectáculo maravilhoso e por ter sido EU e a MINHA resolução de comprar o bilhete e simplesmente ir, que me permitiram gozar o momento. Fui dona e senhora do meu destino, coisa que acontece raramente e que me soube pela vida. Mas, desenganem-se os que esperam que eu me perca num relato de intenso misticismo e conclusões metafísicas. Nada mudou em mim, a não ser a minha forma de lidar comigo mesma. Só concluo de facto que, por vezes, querer é mesmo poder, e que ir pelo caminho menos viajado, apesar do medo do desconhecido (e das opiniões de outrém tipo 'credo, e o que é que vais fazer sozinha para a Tunísia, estás maluca?'), é não só salutar, como nos dá um gozo do caraças. Foi a minha palmada nas costas a mim mesma, e caraças! acho que já a merecia. A partir de agora, anything is possible e até a céptica pessimista em mim (essa cabra!) acredita nisso. Portanto, não fiz descoberta nenhuma: apenas comprovei uma verdade universal na primeira pessoa. E foi tão simples que até doí...DAHHHH!!


E agora que já disse bem de mim, num rasgo de indulgência que, normalmente, não me permito, tenho de falar da viagem em si. Mas ficará para um post mais elaborado, porque como sempre estou a escrever à pressa, no fim da jornada laboral, para aproveitar a ligação ultrasónica dos patrões. Além disso, estou de rastos, porque assim que voltei da viagem fiz um raide Lisboa-Porto, para participar no jantar de bloggers nortenhos organizado pela Olá!! (podem ir ver os detalhes no sítio dela) e que foi bem giro, mas que, por assim dizer, 'arrumou' comigo. Isto depois dos 35 já é mais difícil...chiça!


Fica uma foto, de um momento feliz...

quinta-feira, 19 de junho de 2008

In extremis

Só tenho cerca de dez minutos para vos desejar a todos uma santa semana de trabalho. Eu vou de férias. De férias espirituais. Vou conectar-me com o meu inner self sob o impiedoso sol do deserto tunisino e comungar com a árida natureza e absolutos estranhos. Vou isolar-me do mundo que conheço e enfrentar o grande desconhecido. E vou sózinha. Vou em busca da minha lenda pessoal, como Santiago, em 'O Alquimista', ou de uma qualquer iluminação do Poder Supremo que me tire do marasmo que ronda, oportunista. Não sei se encontrarei uma resposta, ou se, dando com ela, me passará completamente ao lado. Mas sei que a dada altura da nossa vida, há um chamamento bizarro a que temos de responder. Eu tenho de ir. Não me perguntem porquê...ninguém percebeu, e eu também não tenho muitas certezas. Maktub! ('está escrito', em Árabe)
(Estou muito Paulo Coelho desde ontem...)

A beleza que espero encontrar - e que anima todos os relatos de quem já passou pela Tunísia - é mais forte do que os receios que tento abafar. E são muitos: os souks aterrorizam-me, por exemplo. É muita gente, muita arenguice... Tenho medo que me assaltem. Tenho medo de abrir a cama e encontrar bicheza venenosa. Tenho medo de morrer de tédio no meio de pessoas que não sejam simpáticas. Bom, nem preciso que sejam simpáticas, só civilizadas e já fico feliz. Mas tenho mais medo de assistir a um magnífico por do sol e ter consciência da solidão. Tenho medo de suportar mal a falta de partilha. Talvez seja isso mesmo que eu tenha de enfrentar. Talvez a minha lenda pessoal se revele na quietude da noite sahariana, quando todos dormirem e eu estiver a olhar para o céu...
Talvez tenha sorte e regresse inteira, com muitas coisas maravilhosas para contar. Isto se não mandarem um camelo de volta no meu lugar.
Espero que fiquem bem. E deixo um beijo especial à minha mana, que hoje sofreu um assalto à mão armada no banco onde trabalha. Felizmente acabou tudo bem, graças ao sangue frio que mantiveram, mas do susto, ninguém os livra. És uma valente, mana. Tenho orgulho em ti!
Beijo muito, muito grande. Vou trazer-te uma prenda enorme!!! :)

domingo, 15 de junho de 2008

Space Dog


Não me bastava o fungo dos gatos (que perdura, por sinal)...


Agora é Sasha Margarida que tem de andar de colar até cicatrizar a linda ferida que fez a coçar-se como uma condenada por causa do calor.

Pobre Sasha, ainda anda a adaptar-se à visão em túnel. E, se já era um tanque demolidor antes, agora com o funil no pescoço leva tudo à frente. Literalmente. Incluindo as minhas pernas. Ainda não há 24 horas e os estragos já são de monta. Só não ponho fotos porque isto é um blogue sério. Agora passamos imenso tempo na casa de banho, de volta do betadine. Tenho de lavar-lhe a ferida duas vezes por dia, e depois aproveito e ponho bacitracina nos meus arranhões. E de enfiada dou os comprimidos aos gatos, que ainda testaram positivos, apesar de já não terem lesões. São só mais quatro semanas. Muito bom!

Ó tio Kármico, wherever you are: a malta já anda um bocado farta destas tangas, sim? Alguma paz, e menos micoses, ok? Não posso ter sido tão cabra assim numa vida anterior! Vê lá se atinas, que a minha vida devia ser mais do que comprimidos e tubos de pomada. Obrigada!

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Abaixo a 'laranja mecânica'

Sempre me irritou a equipa da Holanda. Oxalá cheguem à final e percam desgraçadamente, com Portugal, mas assim tipo com o Van Der Saar a ir lá 'buscá-la' cinco vezes!

Escrevo, claro, no rescaldo do movimentado jogo com a França. E escrevo irritadíssima porque não bastava terem dado três à Itália, que é a minha terceira equipa favorita em todas as competições (Portugal, França, Itália. Sempre), como agora me golearam (injustamente) a minha França, que se tivesse avançados de jeito lhes podia ter marcado 15 golos. É isto a 'beleza' do jogo em contra ataque. A mim irrita-me. Acho injusto. Detesto o oportunismo da bolinha que chega fácil fácil ao avançado que só tem o guarda redes pela frente. Levaram show de bola, com passes maravilhosos para o flanco direito, que infelizmente não tiveram o melhor seguimento porque o Thierry Henry estava claramente desinspirado (como é que ele me falha aquele chapéu ao Van der Saar, já batido???????? Até eu marcava aquilo!) e o Ribéry idém idém, com remates toscos que não são nada habituais nele. Ceús, que saudades do meu Zinedine Zidane! Mas gostei da garra dos jogadores. Acreditei que conseguissem virar o marcador, mas depois do 3º achei que mais valia aceitar que o Pai Natal não existe!
Mas não mereciam ganhar, aqueles palhacinhos de laranja. Passaram mais de metade do jogo a defender e depois, vindo do nada, lá vão eles para a baliza e pimba! Não acho bem. Não acho, pronto. Irrita-me solenemente a eficácia quando se trata da do adversário. Não suporto adversários eficazes. Têm a desagradável mania de ganhar os jogos contra as minhas equipas...
Já agora, ó palhacinhos de laranja, podiam fazer a fineza de ganhar expressivamente à Roménia para que, pelo menos uma das minhas equipas favoritas fique em segundo, e se qualifique para os quartos de final? Obrigadinha, sim? Estúpido grupo!

terça-feira, 10 de junho de 2008

Estou de choco...

Tenho estado a escrever na sala, com a porta fechada. Assim que a abri, o cheiro abominável. Alguém que me sabe dizer quantos anos posso apanhar por assassinar lenta e brutalmente o vizinho de baixo, que assa choco na marquise e me empesta a casa toda?
Ordinário do caraças!
Se fosse gaja de dizer asneiras cabeludas, aquelas em que estou a pensar davam para a rapunzel içar três príncipes!

Futilidades

Após uma tarde de 'desenpacotanço', de arrastar de mesas e módulos de gavetas e arrumação de armários, no meio de simpáticos ucranianos eficientíssimos e desejosos de ajudar, que nos abriam as caixas com mestria e nos forçavam a arrumar pastas de arquivo à velocidade da luz, e após cinco horas de intensa labuta a reorganizar a disposição das salas - quem disse aos nossos engenheiros que percebem alguma coisa de design interior, mentiu-lhes descaradamente - e ainda aturar um electricista demente que achou que eu queria saber de onde tinham vindo os interruptores e fez questão de mo explicar durante 15 minutos, tive alforria. Desgrenhada, suada, e francamente mal vestida (tshirt da zona hippie da Zara, jeans desinteressantes, e sabrinas que, a avaliar pelo meu mancar matutino, me devem ter causado danos irreversíveis nos mindinhos de ambos os pés e em toda a estrutura a montante), sentia-me o verdadeiro caco humano. Com vontade de me afundar num banho de espuma e morrer para o mundo, especialmente o laboral. De súbito, o telefonema redentor (não, não era o Jon...). Era a mana. Com vontade de estrear o carro novo e acabar o dia em grande, nas compras. Alguns (bastantes!!) minutos depois, estava tudo no Corte Inglês, a borboletar nos corredores com três cabides em cada mão!
Dizem que as compras são uma boa terapia. A minha conta bancária discorda. A cabra vaidosa que há em mim, aplaude entusiasticamente. O meu bom senso está sempre a meio caminho entre os dois. Mas a cabra vaidosa ganhou, mais uma vez. Fiquei mais pobre, mas mais 'feliz'. Até porque já me meto numas calças 36 de novo! Hurray!!!!

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Iniciei hoje a minha época balnear aqui, na praia do Meco. Esqueçam Sesimbra, não ponho lá os pés a não ser que vá com crianças. O espaço é exíguo, ouvem-se carros a circular em permanência e não sou fã do desporto nacional da maior parte dos portugueses do 'bota a toalha em cima do vizinho do lado'. Detesto a proximidade. Chamem-me o que quiserem. Não gosto de partilhar o meu espaço com desconhecidos. Fico furiosa quando se colam a mim. Por isso, vou para o Meco. Há quilómetros e quilómetros de areal, não se ouve nada a não ser a rebentação das ondas e o ocasional vendedor de bolas de Berlim (que me irrita solenemente com a sua imitação de Pato Donald, mas enfim). Claro que já há muito mais gente a frequentar o Meco, e que no meio desses também há cromos, a começar pelos 'tios' de Cascais e as suas insuportáveis crias de nomes aberrantes e vozinhas afectadas, mas, regra geral, consegue-se um semi isolamento confortável.
Cheguei mesmo na hora da faina. Os pescadores estavam a puxar as redes, sob o olhar atento de uma multidão mais ou menos citadina, que devia achar a cena típica. E é, de facto. Típica. Mas de uma barbárie e irresponsabilidade indiscutíveis. Aproximei-me, movida não sei por que estranha curiosidade mórbida, e vi o peixe a saltar na areia, no estertor final, com as guelras e a boca em espasmos na busca da água vital. Cerrei os dentes. Bem, é a lei da vida. Claro que sim. E sim, eu também como peixe, e não posso ser hipócrita ao ponto de condenar o próprio acto que me enche o prato. Agora, o que já não acho bem é que, por cada sarda adulta, cinco ou seis micro peixes estavam presos na rede. Peixes bebés que os pescadores depois atiraram às gaivotas. Também gosto de gaivotas, mas que eu saiba elas conseguem pescar sozinhas. Tudo isto para dizer que, quando os pescadores se queixam que têm de ir cada vez mais longe para pescar alguma coisa de jeito, ou quando as pessoas se admiram porque já não vêem tanta sardinha portuguesa como há uns anos, e a têm de pagar muito mais cara, se calhar não era pior dizer aos pescadores do Meco para fazerem redes com malhas mais largas, para dar uma hipótese aos peixes que ainda estão a crescer. Eu supunha que a apanha de micro peixes era ilegal, mas, pelos vistos, no Meco não.
Errata: quando digo 'iniciei hoje', é porque não tinha reparado no adiantado da hora! Assim, o meu 'hoje' é diferente do vosso. Para vocês será, portanto, 'ontem'. Preciosismo, mas que, na eventualidade do Rafeiro aparecer por aqui, tem a sua razão de ser. Ou eu não conhecesse a peça... ;)

quarta-feira, 4 de junho de 2008

O que este homem me irrita...


Vinha eu placidamente a conduzir o meu bólide quando me deparo com a conferência de imprensa do 'Special One' (careta de profundo desagrado). Este homem é, logo a seguir à Jennifer Lopez, a criatura com que mais embirro ao cimo da terra. Gratuitamente, admito, mas epá, desculpem lá, não os suporto. Nem a um, nem a outro.

E ouvir o Mourinho a falar num italiano muito aceitável, foi a gota de água. O inglês dele era horrível, e isso fazia com que se vislumbrasse ali uma falha, o bicho ficava ao nível do comum mortal e a malta ainda podia dizer 'ok, é o melhor treinador do mundo (careta novamente), mas fala mal inglês'. Agora imaginem: é o melhor treinador do mundo e até fala bem italiano. Caraças, pá, e agora, vou implicar com o quê? Não é justo!


Só espero que não perca a sua medonha arrogância, a sua displicente falta de humildade, e desmedida deselegância nas trocas de galhardetes com colegas e patrões, senão qualquer dia, até tenho de começar a gostar do tipo...

Volta, bunda gorda Jennifer, que estás perdoada! Ao menos tu continuas insuportavelmente igual a ti própria.


PS: Argh...nem acredito que coloquei uma foto do 'Hateful One' no meu sítio. Sei de uns quantos que vão morrer a rir ao ver isto... Mas pronto, a imparcialidade jornalística obriga a muito sacrifício;)


segunda-feira, 2 de junho de 2008

Blossom...

Não faço segredo da minha paixão por plantas e jardinagem. Paixão refreada, porquanto não possuo mais do que alguns m2 de varanda a céu aberto para fazer o gostinho ao dedo, o que não dá para grandes aventuras e origina muitas frustrações com as quais tento lidar com a serenidade possível. Que é pouca, confesso, que sou rapariga de pavio curto e me irrito com facilidade. Foi o que aconteceu quando vi as minhas rosas, cuja floração aguardei meses a fio, cuidando do rebento adquirido no LIDL, da sua exposição solar, da humidade do solo and so on and so on...


Meses, ansiando, suspirando, para ver as minhas lindas rosas amarelas...
Estas são as minhas rosas. E não, pasme-se, não são amarelas. Mas é o que tenho... Apesar da embalagem dizer claramente, e com a fotografia correspondente, 'variedade: trepadeira amarela'. Pois...que posso eu dizer, a não ser que tenho um galo do tamanho do mundo! Isto acontece-me invariavelmente: os meus bolbos de jacinto, embalados sob o epíteto de 'cores sortidas', com a foto de lindos jacintos roxos, rosa e brancos, sairam todos... brancos. Não percebi então que sortido fizeram; só se foi nos diferentes tons de branco. Muito subtil!...Acho que os rótulos deviam vir com as probabilidades de não calharem todos da mesma cor, e com o intervalo de confiança mais restrito quanto à possibilidade de, calhando tudo da mesma cor, não ser da cor mais desinteressante, e, se possível, com o desvio padrão mais adequado à previsão da margem de erro em cada embalagem. Isso era uma ajuda, amigo hortofloricultor que embala roseiras para o LIDL (e sempre servia para dar uso aos três anos que levei para fazer a estúpida cadeira de estatística).


Mas não. A malta confia no rótulo e depois é surpreendida. Geralmente, para pior. Mas, bom, isto acontece com tanta coisa, não é? Coisas que parecem ser e não são, quero dizer. A arte de bem embalar...aqui está um tema que merecia um ensaio filosófico. Infelizmente não tenho tempo. Tenho de ir regar as rosas. Mesmo 'imperfeitas' no meu ideal de cor, têm direito à vida e a serem mimadas para se exibirem na pujança máxima da sua roupagem exterior. Especialmente porque é só isso que podem exibir, e são efémeras, como as borboletas. Ninguém olha para as suas fragilidades internas, que não transpiram pelas pétalas brilhantes. Até nos esquecemos de prestar atenção aos espinhos, e no entanto, eles lá estão, prontos a desferir a dolorosa picada quando chegamos demasiado perto ou sem a delicadeza necessária. Eu tenho sempre respeito pelos espinhos, mas não me impedem de manejar a flor. É tudo uma questão de nervo.

Anyway... aqui está a minha rosa, escassas horas após a primeira foto. É muito bonita, e cheira que é um sonho, mas daqui a dois dias estará defunta. Fica a foto para eternizar o seu momento de glória...bela e efémera rosa 'amarela'.

domingo, 1 de junho de 2008

EU FUI!

Eu, e mais setenta mil pessoas. É muita gente. Felizmente que a Bela Vista é grande e que chegámos à hora ideal: nem demasiado cedo para apanhar uma seca descomunal, nem tão tarde que já não se arranjasse um lugar muito bom para acompanhar o desfile de música e profissionalismo a que assistimos.
Sendo os Bon Jovi os cabeça de cartaz, e (quase) a única razão pela qual eu estava no meio daquela gente toda, eu que não gosto, por norma, de 'ajuntamentos' nem de comungar com a cotovelada do estranho ou a pisadela da tia que vai para ali de saltos agulha (meu Deus, há efectivamente gente tão atrasada mental), asseguro-vos que a perspectiva de esperar cinco horas até ver os meus moços a subir para o palco me parecia dantesca. Mas, fui agradavelmente surpreendida pelo primeiro grupo, os SKANK, que puseram o público a saltar e a cantar (eu incluída nas duas únicas músicas que conhecia), com uma atitude muito 'boa onda' do vocalista, um saúdavel louco que deambulava pelo palco. Deambulou e cantou muito bem, o que não é nada fácil quando se tem de dar pulos e tocar guitarra ao mesmo tempo.
Seguiu-se a grande Alanis Morissete, que não desapontou. Uma postura meio louca e uma escolha de guarda roupa um pouco infeliz (rapariga, rosa choque com cabelo alourado nunca!) não foram suficientes para ensombrar a grande prestação da senhora. Começou com o magnífico 'Uninvited', cantado à nota. Quem conhece este tema sabe que envolve grande técnica vocal, daquela que só os genuinos conseguem reproduzir em palco. A Alanis é genuína. Tem uma grande técnica a rapariga. A voz, apesar de a achar meia nasalada, funciona mesmo. Cantou alguns temas novos, em que foi mais difícil corresponder, mas 'You oughta know' e 'Ironic' 'deitaram a casa abaixo'. Ficou a faltar 'Head over Feet' (rapariga, não te perdoo...). Mas o todo, foi bom. Poderia ter sido muito bom se tivessem trabalhado melhor as passagens entre músicas, um pouco lentas, e com pausas desnecessárias.
Meia hora depois, após a rotina de mudanças do palco, apareceu aquela que, para mim, foi a desilusão da noite: Alejandro Sanz. Não é que o homem cante mal, longe disso, mas foi demasiado tempo de um estilo que não é forçosamente o meu favorito. E, para quem só conhece bem uma canção, e está à espera do Jon, é chato! O momento alto foi precisamente a canção 'corazon partio', que reservava uma surpresa a meio: a Ivete Sangalo apareceu para cantar com ele, o que causou uma revolução pouco elegante no público que, até a moça aparecer estava ali só no 'la la la' morno, e depois começou aos gritos e pulos. Ainda pensei que a seguir encadeassem no 'La tortura', mas a Shakira poderia não gostar e fiquei a 'aguar' por esta também. Deu para notar a faceta extremamente generosa do Alejandro em palco, com grande destaque para cada um dos seus músicos e momentos de solo das coristas. É um cantor simpático. E muito bonito, apesar de poder perder algum volume. Gosto muito do Alejandro. A música dele é que não me convence por aí além. Mas gosto muito do seu ar menino.
E só faltava meia hora para ver os Deuses e vibrar com os seus acordes! Eu estava que não podia, sentava-me, levantava-me, bref, estava num desasossego, ansiando pelo momento em que o Jon se assomaria ali, mesmo ao pé de mim (vá, a uns metros...bastantes metros...hum, não interessa!). E eis que nos cinco minutos finais, vindos da multidão por trás de mim, surge o clube dos janados, um bando de dejectos humanos que, pasme-se, estacionaram ao meu lado. Bom, tudo estaria menos mal, se eles fossem janados mas estivessem quietos e calados. Não. Barulhentos, invasivos, histéricos e definitivamente candidatos ao pontapé na boca do ano. O que, aliás, só não aconteceu porque tive medo: medo de que viesse a polícia e eu acabasse por não ver o concerto. Só por isso. Que o facto de poder levar na cara também (eles eram seis) era uma coisa de somenos importância. Um em particular, o que estava mesmo a meu lado, era uma criatura insuportável.. Por Deus, quis verdadeiramente esmagar-lhe a cabeça! A sério. Não suporto gente assim. Estão centenas de pessoas ordeiramente a assistir a um concerto, na sua vidinha, a cantar e pular com moderação, respeitando toda a gente, e vêm-me estas bestas, que não têm outro qualificativo possível, e começam com moches e cerveja a voar por todo o lado e cigarros a passar a três centímetros da nossa cara? Desculpem lá, comigo não. A primeira vez, tentei protestar delicadamente 'olha, não te importas de gritar menos alto ao meu ouvido, é que eu gostava de não ter um tímpano furado antes de eles subirem ao palco', o que obviamente não resultou. Da segunda vez, na sequência de um empurrão, um olhar fulminante. O gajo estava tão pedrado que nem notou. Epá, à terceira, pisaram-me o calcanhar à séria. A partir dái, de cada vez que me tocavam, levavam elegantemente o mesmo tratamento.... Pontapé discreto, cotovelada nas costelas, era o que estivesse a jeito. Infelizmente não consegui partir a rótula a nenhum, apesar de ter insistido. Estava positivamente possessa, e quis possuir um objecto contundente que lhes espetasse na artéria femoral para sangrarem sossegadamente até à morte.
À conta das bestas, dos seus gritos e saltos histéricos, não consegui acompanhar como devia ser a subida ao palco dos Bon Jovi. Mas, pelo meio da minha nuvem de pensamentos negros comecei a vislumbrar a luz celestial: o Jon, de blusão de cabedal branco, lindo de morrer como sempre, assomava-se no ecrã gigante e piscava-me aquele olhão azul 'esquece lá isso! ó p'ra mim aqui, a cantar para ti'. E pronto, rendi-me ao espectáculo...( mas não totalmente, porque tinha de ter cuidado para não levar com um pé na cara, que os atrasados mentais encavalitavam-se às cavalitas uns dos outros e gritavam como animais. Um pavor. O meu reino por uma faca do Rambo! Ai, se eu fosse um gajo e não medisse só 1,63!)
Enough sobre os janados imbecis. (Acabei de tomar um longo duche e acho que me consegui livrar do cheiro a ganza. Ainda bem que não me mandaram parar numa operação stop, quando não era odorífera e sumariamente detida!)
Voltemos ao que interessa. Os BON JOVI. São o máximo! São mesmo. Pronto. Os anos passam por eles, e deixam as suas marcas nos traços mais carregados, no cabelo menos farto e mais branco, e nos kgs a mais (Richie, Richie, estás cheiinho, homem!), mas eles continuam a ter a 'aura'.
Nunca os tinha visto ao vivo. Falhei os dois concertos deles cá, porque, as usual, conformei-me com uma dificuldade em vez de a tentar contornar. E estive para não ir ao RR pelos mesmos motivos. Em boa hora me insurgi. Eles são muito bons. Muito bons, mesmo. Andam nisto há muitos anos, e apuraram-se. Ainda que a voz já não seja tão límpida (só cá entre nós, julguei perceber uma pequena distorção do micro para modular a voz, mas pode ser preciosismo), e que se notasse cansaço à segunda música (again, pode ser preciosismo) a postura foi irrepreensível. Sempre a sorrir, com um sorriso genuíno, sempre em interacção com o público, com pequenos improvisos musicais de covers para animar as hostes, como o foram os excertos de 'Mercy' e 'You Start me Up', e sempre em movimento. Um monstro de palco, aquele Jon. Ainda que seja suspeita - porque esta tara dos Bon Jovi já me acompanha desde adolescente - acho que ninguém tem dúvidas de que foi um óptimo concerto. Ficaram muitas por tocar, e o encore , com um Jon a vestir a camisola das quinas, soube a pouco. Não apostaram nas baladas, e acho que foi pena. Faltou um 'Bed of Roses' ou o velhinho mas intemporal 'Never say goodbye'. Mas foi muito bom. Muito, muito bom. Eu ia já a correr para lá outra vez! E palpita-me que vou passar a tarde a dar cabo do que me resta de voz e fazer uma passagem pelos CDs todos que tenho cá por casa.
Como diria o Jon: 'I ain't got a fever, got a permanent disease' ('Bad medicine', álbum 'New Jersey', 1988)
Este bichinho já não sai...