Ela desceu as escadas que ligam o El Corte Inglês ao Metro. Caminhando apressada, do alto do seu sapato fuschia, só deu pela presença dele quando o homem se pôs a seu lado.
- 'Posso fazer-lhe uma pergunta?' - disse, com voz suave.
Ela, acreditando que ele quereria um esclarecimento, parou em expectativa, estabelecendo contacto visual pela primeira vez. Não lhe desagradou. Impecavelmente vestido, de fato escuro, cabelo castanho claro, onde se adivinhavam ondas revoltas no corte não muito curto, e olhos claros.
- 'Pode...'
- 'Seria muita ousadia convidá-la para jantar comigo esta noite?'
O choque...
A incredulidade...'what the hell is this?'
A prudência...essa cabra!
- 'Seria de facto ousadia...agradeço, mas não vai ser possível'
Sorri, abanando a cabeça, e passa a cancela.
Do outro lado, o homem não desarma.
- 'Fique com o meu número de telefone, pelo menos...'
Ela volta-se, mas recusa...
- 'Fica para a próxima', diz desajeitadamente.
Vê-o afastar-se, pelo canto do olho.
Desce as escadas que conduzem até à plataforma vazia. Uma composição acabara de passar. Senta-se, resignada. Ouve passos apressados que se aproximam, mas não liga. Toda a gente caminha depressa no metro. Olha para a linha, ainda incrédula pela cena vivida. 'Isto só comigo!', pensa divertida.
Os passos estacam à sua frente. Quando dá por isso, o desconhecido está sentado a seu lado. Ela fica mais nervosa.
- 'Você é muito bonita', diz ele
- 'Obrigada', diz ela, visivelmente pouco à vontade, e absolutamente convicta de estar numa cena para apanhados, ou no meio de uma aposta de machos.
- 'Vi-a passar no ECI e tive de segui-la...'
- 'hum, hum...pois claro', balbucia, sem graça nenhuma
- 'Fique com o meu número...', insiste o homem
Ela finge irritar-se, desconfortável com os olhos verde água pousados nos seus.
- 'Costuma abordar muitas pessoas desta maneira?', lança ela, em deslavado contra-ataque.
- 'Não. É a primeira vez. Mas não podia deixar passar a oportunidade. ´Tive medo de não a voltar a ver...'
- 'Ora, esta cidade é ridiculamente pequena...', lança desdenhosa, num crescendo de confiança.
- 'Porque é que não fica com o meu número? Só lhe peço isso...'
- 'Obrigada, mas não', diz ela, teimosa
Os olhos verdes contraem-se.
- 'É comprometida?'
- 'Sou.', mente ela, com todos os dentes
- 'Ah...há muito tempo? é sério?'
Ela olha-o, com uma indignação que não sente.
-'Sim'.
-'Não há qualquer hipótese de ficar com o meu número?'
-'Não.'
A palavra de não retorno. Mas já a proferiu. O metro aproxima-se. Ela levanta-se.
Ele imita-a. Ficam de novo frente a frente.
Aqueles olhos verdes...
- 'Lamento tê-la incomodado.', diz ele
- 'Não me incomodou', diz ela, menos segura de si, quase apologética.
Caminha, sem vontade, para a carruagem de boca escancarada que aguarda os passageiros. Entra. Não se volta. Mantém os olhos fixos no chão sujo, pejado de papéis e jornais já lidos.Treme, e não sabe porquê. Quase deixa passar a estação...
Sai. Caminha devagar, a convencer-se de que o misterioso desconhecido subiu numa carruagem e a seguiu. 'Desta vez, aceito o número', pensa ela.
Sobe para a rua. Uma brisa de Maio fustiga-lhe o rosto. Aconchega o fato verde garrafa. Aperta a mala fuschia, onde acaba de guardar o passe. Aproveita para fazer uma pausa na marcha. Vira-se, certa de encontrar os olhos verdes. Mas do desconhecido, nem sinal. Ele não a seguiu...
Anos depois, ela recorda-se de tudo. Da roupa que tinha, dos brincos e do fio, do anel, do perfume que pusera nessa manhã. Recorda-se da cor do tubo de óleo que comprara no Corte Inglês. Recorda a voz. E os olhos verdes. Sorri, sempre que passa a cancela no metro do Corte Inglês. E quase ouve a pergunta que ninguém lhe fará dessa vez.
Conformou-se, mas não esquece.
Mas prefere pensar que era um doidinho, ou um infeliz apostado em conseguir mais um troféu de caça. Prefere imaginar que era um louco assassino, e que aceitar o número a teria levado a uma espiral de torturas inomináveis em que o futuro mais risonho seria acabar esquartejada, como comida para os nojentos peixes que pululam nas saídas de esgotos do Tejo.
Prefere tecer mil cenários absurdos e macabros.
A ideia de ter dado um pontapé no destino ser-lhe-ia insuportável.
Nota do autor: Esta é uma história real. Terão decerto reconhecido a incrivelmente imbecil protagonista...
não te marizes mais... trabalho vestido de branco e não é a primeira vez que recolhemos o "zé das abordagens do el corte inglês"... o gajo fez a tropa na p.e. e agora não tem ninguém para abordar...
ResponderEliminaro número era falso...
bjinhso miaus
ps: bem, fiz o que podia...
Xiii, safirita, mas que cena doida!!!isso é mesmo tirado de um livro!! =)
ResponderEliminarPensa assim...foi um momento incrivelmente romantico, não foi? E a vida real tem tendencia a estragar momentos incrivelmente romanticos, não tem? POis bem, esse aí nunca nunca se estragará,será incrivelmente romantico pra sempre. ;-) quantas mulheres,e homens,podem gabar-se de ter momentos desses que foram romanticos e perfeitos pra sempre?... ;-)
Olá, minha linda!
ResponderEliminarJá tou a ver que hoje estás numa de saudosismo. Deixa lá, o melhor desses momentos é a boa recordação que deles guardamos. Olha para mim, chega de analisar e fazer perguntas. O momento é k conta e é isso que nos faz suspirar e sonhar.
Talvez devesses aceitar o nº de telefone. Já aprendi que os riscos nem sempre são maus, e depois não se pode pensar sempre no pior. Há sempre umas belas noites passadas no deserto para nos aquecer a alma...you know what I mean?
Bjs grandes, linda!
P.S.Olha, faz como eu, vou agora para a praia, relaxar com as ondas do mar, mas senti k tinha k aqui vir primeiro.Boussa
Olha, uma coisa, segundo o meu amigo árabe, escreve-se bousat ;-) (lendo-se boussa)
ResponderEliminarBousat Kbar! ;-)))
ainda tenho o meu caderninho de árabe algures por aqui, loool, ele ensinou-me algumas palavritas. =D
Grafonola:bousat kbar quer dizer o quê?
ResponderEliminaré k o meu "amigo" tunisino é k me ensinou a escrever e dizer boussa e quer dizer "beijo".
tens k me ensinar as tuas palvrinhas árabes, tb sei palavrões, mas essas não convém dizer aki
Por muito romântico que pareça à primeira vista, o mais certo é que não fosse bem cosido (ou cozido?), que já ouvi outras histórias de abordagens, que nem sequer são protagonizadas por uns loucos assassinos - convenhamos que cá na terra não é muito vulgar, neste género de contexto - mas uns pobres coitados, a quem ninguém liga nenhuma. Ah, e quem liga depois tem uma enorme dificuldade em afastar-se, que "eles" não desgrudam...
ResponderEliminarFica com essa ideia romântica que afinal podia ser o tal príncipe encantado, cá por mim safaste-te de boa!
Bom, e também me parece que vou aprender árabe por estas bandas... :)))
Jinhos!
Olá!
ResponderEliminarNão estava destinado que os dois se viessem a conhecer...:=)
Sabes eu ( por vezes) acredito no destino ;=)
Beijocas
Boa semana
O Tejo tem peixes nojentos? Que eu saiba não são eles que poluem as águas...
ResponderEliminarRocket: :), obrigada. A minha torturada alma sente-se muito melhor agora. Pelo menos já dei uma gargalhada!
ResponderEliminarVani: incrivelmente romântico? No Metropolitano de Lisboa...right!
Foi o meu momento impulse, só faltaram as flores! ;)
Zabour: que triste, não tou triste moça! Só contei a história na versão drama. A outra versão, a versão apalhaçada é a que conto sempre que a colega (que depois arrastei dias a fio pelo corte inglês à hora de inglês) fala nisso. Acabamos sempre a rir com esta história...
Pois...bom, a minha noite no deserto foi boa, mas não estava assim tanto calor na minha tenda. Know what I mean? ;)
Vani e Zabour: espero que não pensem que eu vos vou pagar pelas aulas!
Beijos
Boussa, ou bussat
Teté: Bem regressada!! Deves estar com um bronze infernal.
Tenho por lema não me deixar deslumbrar...e sou, além disso, extremamente desconfiada. Qualquer abordagem que comece com 'você é muito bonita' leva logo com o olhar nº 33 e o cruzar de braços típico do 'sim, sim, estou mesmo a acreditar que se estivesse aqui uma loura com copa F44 tu me estavas a dar conversa a mim'.
O único pormenor a que achei piada foi ao facto de o tipo ter ido comprar um bilhete à máquina para poder entrar para o Metro. Cheguei a esta conclusão porque o vi afastar-se em direcção às máquinas e porque se tivesse passe tinha entrado logo a seguir a mim.
Mas pronto, não seria o Tal. Ainda para mais tinha cara de ser do Benfica, e isso, como se sabe, é que não pode ser! ;)
Beijinhos
Mjf: eu também acredito no Destino. Gostava era que ele me devolvesse a crença de vez em quando.;)
Beijinhos
Rafeiro: Não são nojentos? Diz-me: tu comias um peixinho do Tejo assado. Didn't think so... ;)
Safira,
ResponderEliminarQuando menos contares vai aparecer um muiiiiiiito melhor e sem ser no metro, vais ver :P
Beijosssss
ps - mas desta vez aceita pelo menos o nº de tlm (nunca ficas obrigada a ligar :D )
Ka: certo, com a sorte que eu tenho há-de ser no lar! ;)
ResponderEliminare aí já nem vale a pena comunicar por telemóvel, que já está tudo surdo, mesmo!
Beijocas, que já me fizeste rir a imaginar-me com o aparelhometro no ouvido, a tentar parecer sexy para o velhote da cama 3! ha ha ah ah
fizeste muito bem em não aceitar o numero dele!
ResponderEliminarjá pensaste que ele teria de arranjar um novo e avisar todos os seus contactos da mudança?
Ora nem mais agiste muito bem, qual nº qual quê.........isso é só para trazer problemas......
ResponderEliminarO que terá de ser teu a ti chegará......ahahahhahhah
Vício: tu de facto sabes como agradar a uma mulher :)
ResponderEliminarParisiense: pois é, já viste a lata do tipo? Como se eu ligasse a gente bem vestida! LOL
Beijocas
ó minha amiga,
ResponderEliminarTu não sejas pessimista, olha que eu com dois aparelhómetros desses (o funil dava demasiado nas vistas) até nem me safo mal, agora imagina lá tu sem nenhum!!!!
Beijosssss
ps - Caramba, tu deves tratar-te muito bem...olha eu não conto viver até chegar ao lar :P acho que não duro tanto....ahahah
LOL!!! Ó KA, n me podes fazer rir assim com o chefe na sala!! :)
ResponderEliminarQual pessimista, tou-te a dizer! E se n for no lar será no manicómio que, mais dia menos dia, os senhores de bata branca vão conseguir apanhar-me! Já faltou mais...
hmmmmm não me convences :P
ResponderEliminarDe qualquer forma podemos sempre criar uma rede para procurar o pobre coitado a quem deste a "tampa"!! Tipo um post em todos os blogs com um título do género:
Lembra-se daquela mulher lindíssima que o fez ter uma depressão há x's anos atrás quando recusou um convite seu para jantar? Se é você o Tal envie mail com foto para kjadfjahg@gmail.com e tenha oportunidade de voltar a fazer o convite!
Agora já viste que no resultado das duas uma, se o tipo casou provavelmente já terá engordado e ficado careca o que para ti será um descanso veres do que te safaste :P Se não casou ou ainda te espera, ou tem algum problema que teremos de estudar....looooool :D
(não ligues, hora da parvoeira mesmo)
Kazinha: já vi que os senhores da bata branca vão ter de passar por aí também! Boa, vou ter uma linda e divertida companheira, lá no quarto das paredes fofinhas...ha ha!
ResponderEliminarEpá, mas já agora a foto só se for de corpo inteiro, que tem de se tirar as medidas como deve ser. TrÊs anos fazem muito estrago num homem, especialmente ali ao nível do pneuzinho abdominal. Imagina se eu, lindérrima, mais bem preservada do que um pepino em conserva, vou dar abébias ao tipo se ele se tiver desleixado. Era o davas! Que isto também não é assim: a malta tem padrões. Não é como os gajos, que marcha tudo desde que respire...
(ai mulher, que isto hoje tá muito mauzinho... ;))
Safira, minha ftura companheira de manicómio :P
ResponderEliminarPor isso falava de foto e claro, de corpo inteiro que eles não só ficam carecas como engordam...ahahaha
Além disso se tu fores a mulher da vida dele o pobre em vez de apanhar op metro vai mesmo a pé a ver se conserva a boa figura :D
(tá mau está...looool ninguém quer trabalhar, muito menos eu...hehe)
o meu amigo palestiniano escrevia sempre boussat. Boussat Kbar é "muitos beijinhos" =))))
ResponderEliminarOlá, é "marhaba". Mas é um olá informal. O formal é o Salam Aleikum.
ou então: a safira é zakeyye!! ;-) (esperta) O masculino é zaki ;-).
ResponderEliminarBousat Kbar - beijos grandes
ResponderEliminarBouse Kbeer - beijo grande
;-)
(fui aos apontamentos, claro lool)
ou então,a safira é mahdome! melhor, a safira é kteer mahdome!! =D
ResponderEliminarmahdome - fixe, porreira (feminino, o masculino é mahdom)
kteer - muito
kteer mahdome - muito porreira
=D
Grafonola: Já apontei tudo. Obrigada. A Safira já teve a ideia de aprender árabe, eu tb já procurei mas por enquanto ainda não encontrei.
ResponderEliminarPara além dos palavrões, eh,eh,eh, sei dizer:
shokram=obrigada;
Aslam= Olá;
Beslam=Adeus;
Kirbikirbi=igual ao litro;
nhebek= amo-te;
chebika= o que se passa?;
e mais outras que agora de momento não me vêm à cabeça.
Obrigada por partilhares as tuas palavras, és muito maja(amigável)
Boussa ou boussat kbar
Confesso que fiquei curiosa para saber como teria acabado esta história se a tua resposta tivesse sido outra... Mas deixa lá, o que tiver que ser será... é porque não tinha que ser...
ResponderEliminar:) Beijinho e boa semana!
Há momentos em que pensamos no passado e no que seria agora o nosso presente se tivessemos agido de forma diferente.
ResponderEliminarA história real está muito bem escrita!!!! Cativou-me até ao fim...
Nota 5, menina!
bem, meninas Zabour e Grafonola, pelo que percebo das vossas palavras, eu sou é o verdadeiro espectáculo! :)
ResponderEliminarObrigada, obrigada
Beijos, suas doidas!
Li: se calhar arranjava um 31...ou um 13 (um marido e três filhotes)Ou muita sarna para me coçar. Nunca saberemos... mas foi engraçado na altura
Beijinho
Carracinha: então essas férias? espero que estejas a aproveitar em grande!
Eu sei que pensas nesses momentos também, linda. Mas, já te disse isto uma vez, temos de acreditar que fizemos o melhor com a informação que tínhamos no momento. E seguir em frente. Olha se eu tivesse ligado a este tipo, não tinha se calhar encontrado outras pessoas. Bom, e se calhar tb n se tinha perdido nada, porque enfim, cromo por cromo, este até era mais giro! ;)
Beijocas