domingo, 20 de julho de 2008

Combatendo ferozmente a vontade de me enroscar com os gatos no sofá e passar um serão sossegado a ver um filme, decidi ir buscar D. Mummy e rumar ao Castelo de Sesimbra, para assistir a um recital de música medieval inserido nas III Jornadas Medievais. Confesso não ter dado pelas duas primeiras, seguramente por minha culpa. Devo dizer que sou muito critíca de Sesimbra, onde acho sempre que nada se passa, mas devo fazer um mea culpa, porque eu é que ando desatenta (e demasiado agarrada ao sofá) a maior parte das vezes.
Anyway...
A noite não estava convidativa. Estava fresco, com uma neblina irritante a envolver-nos no seu manto húmido (O meu cabelo amou!), e enquanto aguardávamos a actuação da animação de rua, antes do concerto, pensei diversas vezes na minha mantinha e na tablete de chocolate com arroz tufado, que planeava sacrificar nessa noite. Mas, assim que surgiram os Goliardos com as suas vestes medievais (cuja conjugação de cores um bocado infeliz, denota que alguém precisa de um estilista com urgência), fiquei mais satisfeita por estar de vestidinho de alças a rapar um frio descomunal. Os rapazes eram divertidos, e por aquilo que os meus parcos conhecimentos de percussão e gaita de foles puderam discernir, tocavam razoalvelmente. Pelo menos o ritmo era animado, e conseguiram fazer-me acompanhar o compasso a bater o pézinho, o que é sempre sinal de que estou a gostar.
Mas o melhor estava para vir. Às 22h, recebidos por uma aia e um pagem trajados a rigor, entrámos para a Igreja de Nossa Senhora da Consolação do Castelo, para assistir à actuação do agrupamento 'Mediterranea'. De origem espanhola, este grupo, composto por cinco elementos que dão vida a cerca de vinte instrumentos medievais diferentes, trouxe-nos temas das três culturas monoteístas do Mediterraneo (para info: cristã, muçulmana e judaica) e actuou cerca de hora e meia, com direito a 'encore', como numa sala de espectáculos consagrada. Já antes tinha assistido, na mesma igreja, a um recital de cravo, mas após a primeira meia hora estava francamente farta. Fosse pelo repertório monótono, fosse pela falta de entusiasmo que o moço colocava no martelar das teclas, o certo é que me aborreci de morte. Mas ontem...ontem, foi fabuloso! Acredito que há ali alguma fusão nos arranjos, pois custa-me a crer que na idade média os ritmos e a voz estivessem assim magicamente entrelaçados. A ideia que tinha da música medieval alimentava-se muito do pachorrento 'Greensleeves', que toquei vezes sem conta nas aulas de guitarra e ainda arranho quando as unhas mo permitem. Adoro o 'Greensleeves'. A duas vozes, é magnífico. No órgão, só consigo a uma voz com a mão direita, fazendo os acordes com a esquerda. Não fica tão bem. Ainda não desisti de aprender a tocar piano em condições, mas por ora, entretenho-me a dedilhar o Casio de vez em quando. Já nem sei se consigo ler uma pauta. Tenho ouvido, mas nunca dominei a arte do solfejo. Por enquanto. Mas um dia hei-de ter um Steinbeck... Me aguardem! Bom, lá estou eu a perder-me em considerações acessórias...isto vinha a propósito de qualquer coisa...hum...ah, já sei, do 'Greensleeves'. Pensava eu, que fosse um dos temas obrigatórios de um recital medieval. Pois não foi. Nem deveria, porque, correndo o risco de dizer uma alarvidade, penso que este tema é anglosaxónico. E, também não interessa nada que, para dizer a verdade, a partir do primeiro tema dos Mediterranea nunca mais pensei no Greensleeves! Foi mesmo muito bom o que eles nos trouxeram. A voz da vocalista era impressionante, mais em projecção e controlo do que propriamente em timbre, que me pareceu banal, ainda que bonito. Mas enchia a igreja de uma forma muito segura, e 'casava' muito bem com o instrumental dos colegas. A sua presença, muito graciosa, - e ela própria era muito bonita - e muito expressiva ao cantar, tornava o quadro só por si quase perfeito. Depois o ambiente dramático, com um único foco de luz quente sobre os músicos e o resto da igreja mergulhada em suava penumbra, dava um ar místico e quase irreal ao que se ia desenrolando. Gostei tanto deles que trouxe o CD, que aliás me está a impedir de avançar ao ritmo habitual neste post porque em vez de massacrar o teclado à velocidade da luz estou para aqui placidamente a acariciar cada tecla, embalada pelo ritmo lento dos aláudes e pandeiros que enchem a sala de sons de tempos já passados.
Só uma nota negativa a ensombrar a actuação: o público. Algum público. O público imbecil, basicamente. Sendo que temos de ser magnânimes para os seres boçais que não dominam a arte da convivência social e do respeito, aqui ficam umas dicas para o público imbecil se educar em matérias de espectáculos:
a) não, falar baixinho não é o mesmo que estar em silêncio!
b) sim, é deselegante abandonar a sala antes da saída dos músicos, especialmente se eles ainda estão a tocar e se a saída envolve o arrastar ruidoso de quatro cadeiras!
c) As crianças têm baixa tolerância a espectáculos que impliquem silêncio e imobilidade. A culpa não é delas, são crianças. Aquilo é muito chato para elas, e às dez da noite, a maior parte das crianças estão cheias de sono, impacientes e birrentas. Os pais deviam saber disso melhor que ninguém e, não sei, evitar expor os miudos, e consequentemente, os demais espectadores. Não tenho nada contra as crianças (só mesmo contra os pais que não lhes dão rudimentos básicos de educação) mas há coisas que deviam ser só para adultos. Se não se consegue controlar o nosso filho, ficamos em casa. Parece-me lógico. Mas, como é só uma questão de respeito básico pelo próximo, percebo que passe ao lado a muita gente. É o que temos. (Honra seja feita à excepção da noite, em que reparei: uma menina linda, que esteve muito compenetrada ao colo do pai, a ouvir. Não mais de 5 anos. Um doce. Quero uma destas quando for grande!)
Para terminar: ainda podem participar no 'Festim Medieval', na próxima sexta feira, dia 25. A Exposição de Instrumentos de Música Árabe é que foi só até ontem, sorry. Estava muito giro, by the way. A inauguração do Torreão Novo, prevista para dia 26 foi adiada, por motivos de 'força maior'. Alguém não deve ter pago qualquer coisa, presumo...
Mas, quem quiser visitar o Castelo de Sesimbra fora do âmbito dos programas temáticos, pode fazê-lo GRATUITAMENTE, todos os dias. (o bold é um protesto contra os 5€ que agora se pagam para entrar no Castelo de São Jorge! Surreal!!!) É dos meus locais favoritos por estas bandas. Está sempre pouca gente e respira-se. É dos poucos sítios onde se pode ler tranquilamente e passear os cães sem trela (cuidado com a mascote, Ice, um Husky meio passado que tem a mania de nos perseguir. Vai-se embora se o ignorarmos.). Tem uma vista fabulosa, e foi recentemente restaurado, pelo que podemos sentarmo-nos nos banquinhos e ficar por ali a comungar com a natureza e os nossos pensamentos, em paz e sossego. Há um café, mas é escandalosamente caro, como o são todas as estruturas de apoio a locais de interesse público, que é outra coisa que me irrita solenemente, sempre que a qualidade do serviço não está à altura do preço. E este é, manifestamente, o caso. Não acho nada pitoresco ser eu a levantar a mesa do cliente precedente, e a ter de levar as minhas bebidas para a esplanada. Há quem ache o conceito giro, eu não acho muita graça... chamem-me snob, se quiserem, sabendo que no entanto, se fosse preciso reconstruir uma fachada do castelo, eu era a primeira a sujar-me de argamassa, e não queria nem um tostão. Há coisas e coisas. Eu pago um serviço, sou servida. As simple as that. Eis o mau feitio em acção... !
Há também um acesso pedestre 'radical' para os mais aventureiros. O declive é...hum...interessante, mas vale a pena caminhar pela vereda empedrada e entrar pela porta secundária. Tem-se uma vista muito bonita das colinas e dos velhor moinhos que ainda subsistem. Pena é que sejam propriedade privada e não se possam visitar. Adoro moinhos...
Podem esticar até Palmela, a escassos 25 km, mais coisa menos coisa, e visitar GRATUITAMENTE o Castelo de Palmela, que é culturalmente mais interessante, porquanto possui mais vestígios arqueológicos. A vista é que não é tão gira. E não há banquinhos... eu cá gosto mais do 'meu'...
E não, nem a Camâra Municipal de Sesimbra nem o IPPAR me pagam comissão para estar a louvar o Castelo de Sesimbra e demais património ...É pena, mas não. É mesmo divulgação desinteressada de quem está a fazer horas para ir almoçar.
Bom domingo!

9 comentários:

  1. Bem, o castelo de Sesimbra não conheço, mas o de Palmela sim. Tem uma vista fabulosa, principalmente à noite.
    E que tal darmos uma escapadinha até Óbidos um dia destes? Dizem k tb á fantástico e eu não conheço...mas primeiro quero ver o "teu" castelo...
    Bom almoço, amiga!

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  2. conheço bem os dois castelos, defendi-os arduamente, um após o outro, contra as investidas mouras...valeram-lhes as escravas louras...claudiquei quando as colaram à sua vanguarda...aproveitaram a aberta na chuva de flechas e, num ápice, vi-me prisioneiro... mas não fui o primeiro...

    que cena é esta que me puseram na mão, cigarro de quê? sorry...

    : )

    bjinhos miaus

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  3. Bom apetite :)
    Ainda de férias, mas passeando para ver as novidades em "casa" dos amigos.
    Beijocas e parabéns especialmente pelo post "o luar na moleirinha...", dá que pensar...

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  4. Zabour: estive em Óbidos em Abril, mas volto as vezes que forem precisas, que aquilo é lindíssimo. E estás perto e n vais porquê, ó preguiçosa??
    beijos

    Rocketman: Não sei que cigarro é esse, mas também quero. E eu nem sequer fumo! ;)
    Gostei da eloquência...e do claudicar. Nunca tinha visto ninguém a usar a palavra...foi refrescante.

    Olá!!: então bom resto de férias!Aproveita bem e volta cheia de força!
    Beijos para ti e para o V

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  5. rocket: beijos, que me esqueci lá em cima...

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  6. Safira,

    Embora seja bastante eclética no que a música diz respeito, só comecei a ouvir música antiga há cerca de 9 anos e (excepção feita ao cravo que também não gosto) gosto imenso de ouvir, embora saiba que nem sempre me apetece ouvi-la.
    Que sorte teres apanhado esse concerto, ainda por cima no Castelo!!! (inbeja....muita inbeja....ahahah)


    Beijinhossss e uma excelente semana

    ps - estás desafiada no BDK!

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  7. Não conheço esses castelos mas conheço outros tambem muito bonitos, como Òbidos onde fui numa dessas noites mediavais, Castro Marim, quando estava de ferias no Algarve e tambem numa dessas noites mediavais e claro STa Maria da Feira que é aqui mesmo ao lado e que tambem tem uma feira medieval espectacular......
    Qualquer dia até penso que estou a viver na idade média....ahahahahahah e não é que estou mesmo....hihiihihihii( pelo menos na minha...hihihihii)

    Ainda bem que saiste do sofá....
    Beijokitas e boa semaninha.

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  8. Ka: sim, nem sempre há paciência para ouvir toda a música de que até gostamos habitualmente. Agora estou numa fase mais calma, ando a passar em revista os blues e a música clássica. O tempo é que é pouco, não se consegue fazer tudo ao mesmo tempo e hoje dá o HOUSE!!! ;)
    Beijocas e boa semana para ti tb

    Parisiense: Óbidos é lindíssimo! Castro Marim não conheço...
    Essa feira medieval costuma passar sempre no noticiário, nãO?. Todos os anos penso 'que giro que deve ser', mas nunca vou. É como a feira do Cavalo, na Golegã. Todos os anos, quando acaba, digo: para o ano vou. Será que é este ano?
    Beijos

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  9. as vezes que passei ferias para esses lados ja foram ha uns anos valentes. sei que gostei muito de sesimbra mas nao me lembro de ter visto nenhum castelo. tenho de voltar

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