'Querida Luísa,
Pedi à Rosinha, a menina do super, que escrevesse esta carta. Bem sabes que os meus olhos já nem isso me deixam fazer. E ela tem mais jeito…
Espero que o António esteja bem, e os teus filhos também. Eu cá vou indo, cada vez mais triste, com saudades da minha casa e do meu quintal. A laranjeira já deve ter florido, deve ser um cheirinho…Olha, vai lá, e apanha quantas laranjas quiseres. Não as deixes apodrecer! A Anita já me disse que tão cedo não vamos lá, sempre com os seus maus modos. Até parece que me tem raiva…Lembras-te? Dos cinco, ela sempre foi a mais seca. E agora, foi com ela que fiquei. Não me trata mal, dá-me comida, veste-me e dá-me os remédios, mas não tem uma palavra amiga. Sinto-me a mais aqui. E não gosto deste apartamento, sinto-me presa. E se vou à janela, é um barulho de carros e pessoas que até tenho medo.
Ai Luísa, que falta me faz o meu Manuel. Se não me tem morrido, ainda estava aí, junto a vós, a tratar das minhas coisinhas. Que ele tomava conta de mim e guiava-me nos meus dias sem luz, com ternura e sem me fazer sentir um fardo. Eu só queria voltar para a minha casinha.
Recebe um beijo e muitas saudades desta tua amiga,
Maria de Lurdes'
Este foi o texto que li na aula de escrita criativa de segunda feira. Banalíssimo, dirão, com razão. Pelo menos eu não estava nada à espera que a minha ‘Maria de Lurdes’ inventada à pressão, nos poucos minutos que temos para construir um texto com as directrizes do formador, fosse dar origem a um post. Não fossem duas colegas de curso me ‘repreenderem’ no fim da aula porque as comovi com a minha velhinha cega e triste, e eu provavelmente não mais pensaria na Maria de Lurdes e na sua pouco ternurenta filha, Anita.
Mas fiquei a pensar, na verdade. Quantas vezes não somos confrontados com a tristeza dos ‘velhos’, sem a compreender na totalidade? Poderemos algum dia assimilar a dor que deve sentir uma pessoa que se vê incapaz de tomar conta de si, e, ou é ‘empurrada’ para casa dos filhos, uma semana aqui, outra semana ali - sim que há filhos que fazem questão de contabilizar, ao minuto, o tempo passado a cuidar do progenitor para dividir o ‘fardo’ irmamente – ou é mandada para um lar, para ai definhar aos poucos? Já visitei alguns familiares de familiares que foram para lares e fiquei chocada(não vou fazer juizos de valor, mas é facto que por vezes não é possível, ou melhor, não se arranja facilmente outra solução, especialmente se os idosos estão doentes, ou acamados. É evidente que precisam de cuidados exclusivos e, nesse caso, um lar é, em teoria, melhor do que ficar sozinho em casa até o agregado voltar do trabalho). Chocada, não só pelas condições em que alguns lares funcionam (este era assim), com camas improvisadas em corredores, ou cozinhas, mas essencialmente pela sensação de depósito de pré cadaveres. Desculparão a crueza, mas o que vi foi isso mesmo: velhinhos deitados, ou sentados (os que ainda têm força), com o olhar no vazio, à espera do dia da mais longa viagem.
Impressiona-me também a forma como são tratados: como débeis mentais, ‘ai que o menino tem de comer a papa senão eu zango-me com o menino’. Talvez as assistentes vejam isto como uma demonstração de carinho, mas suponho que os velhinhos, cujo único problema será porventura estar um pouco esquecidos, ou tremer as mãos e não ter os reflexos de outrora, se sentirão, no seu íntimo, humilhados, postos de parte e inúteis. Em vez de estimulá-los, desmoralizam-nos. Fazem-nos baixar os braços. Morrer mais depressa. Isto revolta-me profundamente. A forma como a velhice é encarada, como uma coisa que envergonhe os mais novos, e mais válidos. Como se se sentissem ‘ameaçados’ por este vislumbrar de um possível desfecho para os seus, ainda vigorosos, anos de vida. Como se esconder a velhice, trancá-la a sete chaves, longe dos olhares do mundo, pudesse evitar o processo. Sinto um aperto no coração quando vejo como são tratados os velhinhos doentes. Como lixo. Sinto muito se choco alguém. É assim. Os lares, os hospitais, tudo igual. Os velhinhos são tontos inconsequentes, que só chateiam. Tive, infelizmente, de conhecer esta dura realidade. Há uns anos, o meu avô sofreu um AVC e esteve internado em S. José, numa cama numa sala vazia, porque só cabia mesmo a cama dele . Não sei se seria um vão de escada, mas era muito apertado. Recordo-me que ele estava entubado, mas consciente, e que chorou quando nos viu, mas não conseguia falar. Recordo-me de ter chorado horrores ao ver o desespero nos olhos dele, por não conseguir comunicar connosco (aliás, escrevo estas linhas com as lágrimas a escorrer), a solidão, a vontade de querer sair dali. Morreu poucos dias depois, sozinho no seu quartinho miserável, sem ninguém que lhe segurasse a mão, sem ninguém que lhe desejasse boa viagem e o acompanhasse naquele momento…
Há dois anos, perdi um tio muito querido, em circunstâncias parecidas. As enfermeiras do hospital da Guarda, habituadas como todo o pessoal médico a ser desprendido, já não se compadecem com os queixumes. Na sala onde o meu tio estava, outros cinco velhinhos estavam deitados, meio alheios, uns com visitas carinhosas, outros absolutamente sós, à espera apenas… o meu tio quase já não tinha forças para falar mas estava lúcido, e pedia por favor que lhe compusessem a fralda porque lhe estava muito apertada e a magoá-lo. Teremos nós a real dimensão do desespero que deve sentir um homem, em tempos forte e autoritário, que pede em surdina à sobrinha que lhe chame alguém para lhe ver a fralda que lhe está a magoar ‘as partes’, como ele dizia. Terão noção do sentimento de impotência que sente quem recebe tal pedido, e vai a correr chamar uma enfermeira, que lhe diz com arrogância ‘ agora é a mudança de turno, já lá vamos’. E que perante a insistência ‘ele está muito queixoso, doi-lhe muito’, responde, já virando costas,’ Eles dizem todos a mesma coisa, doi-lhes sempre qualquer coisa’. Fiquei tão chocada que nem tive reacção. A correcta seria, obviamente, partir-lhe a cara, para ver se lhe doia ou não, mas nem me lembrei disso. Foi uma auxiliar de limpeza que assistiu à conversa que me levou pelo braço dizendo ‘menina, deixe estar que eu trato disso, assim que acabar a visita eu vou ver o seu tio, prometo-lhe’. Se foi ou não, não sei. Não pude perguntar ao meu tio porque ele morreu nessa mesma noite.
Escrevo este post em homenagem aos velhinhos que perdi, e de quem tenho saudades imensas. Honremos os nossos idosos, apreciemo-los enquanto cá estão, e ao ritmo deles, embora com infinita paciência, façamos com que se sintam amados, ensinemos-lhes coisas, sentemo-nos a ouvir as histórias que nos contam, de tempos antigos que já nem conseguimos imaginar como sendo reais.
Há tanto para fazer em termos de melhoria da qualidade de vida dos nossos séniores…ainda acalento o sonho de um dia, quando tiver tempo disponível, dispender algumas horas a fazer trabalhos manuais com velhinhos, para os ocupar, inventar umas actividades leves, mas que os estimulem, para não os deixar definhar numa cama ou num cadeirão. Gostava de ver mais lares e hospitais preocupados com a saúde emocional dos velhinhos de que cuidam. Gostava de ver mais respeito para com os velhinhos. Gostava de ver mais velhinhos felizes e menos velhinhos conformados.
Gostava mesmo.
Pedi à Rosinha, a menina do super, que escrevesse esta carta. Bem sabes que os meus olhos já nem isso me deixam fazer. E ela tem mais jeito…
Espero que o António esteja bem, e os teus filhos também. Eu cá vou indo, cada vez mais triste, com saudades da minha casa e do meu quintal. A laranjeira já deve ter florido, deve ser um cheirinho…Olha, vai lá, e apanha quantas laranjas quiseres. Não as deixes apodrecer! A Anita já me disse que tão cedo não vamos lá, sempre com os seus maus modos. Até parece que me tem raiva…Lembras-te? Dos cinco, ela sempre foi a mais seca. E agora, foi com ela que fiquei. Não me trata mal, dá-me comida, veste-me e dá-me os remédios, mas não tem uma palavra amiga. Sinto-me a mais aqui. E não gosto deste apartamento, sinto-me presa. E se vou à janela, é um barulho de carros e pessoas que até tenho medo.
Ai Luísa, que falta me faz o meu Manuel. Se não me tem morrido, ainda estava aí, junto a vós, a tratar das minhas coisinhas. Que ele tomava conta de mim e guiava-me nos meus dias sem luz, com ternura e sem me fazer sentir um fardo. Eu só queria voltar para a minha casinha.
Recebe um beijo e muitas saudades desta tua amiga,
Maria de Lurdes'
Este foi o texto que li na aula de escrita criativa de segunda feira. Banalíssimo, dirão, com razão. Pelo menos eu não estava nada à espera que a minha ‘Maria de Lurdes’ inventada à pressão, nos poucos minutos que temos para construir um texto com as directrizes do formador, fosse dar origem a um post. Não fossem duas colegas de curso me ‘repreenderem’ no fim da aula porque as comovi com a minha velhinha cega e triste, e eu provavelmente não mais pensaria na Maria de Lurdes e na sua pouco ternurenta filha, Anita.
Mas fiquei a pensar, na verdade. Quantas vezes não somos confrontados com a tristeza dos ‘velhos’, sem a compreender na totalidade? Poderemos algum dia assimilar a dor que deve sentir uma pessoa que se vê incapaz de tomar conta de si, e, ou é ‘empurrada’ para casa dos filhos, uma semana aqui, outra semana ali - sim que há filhos que fazem questão de contabilizar, ao minuto, o tempo passado a cuidar do progenitor para dividir o ‘fardo’ irmamente – ou é mandada para um lar, para ai definhar aos poucos? Já visitei alguns familiares de familiares que foram para lares e fiquei chocada(não vou fazer juizos de valor, mas é facto que por vezes não é possível, ou melhor, não se arranja facilmente outra solução, especialmente se os idosos estão doentes, ou acamados. É evidente que precisam de cuidados exclusivos e, nesse caso, um lar é, em teoria, melhor do que ficar sozinho em casa até o agregado voltar do trabalho). Chocada, não só pelas condições em que alguns lares funcionam (este era assim), com camas improvisadas em corredores, ou cozinhas, mas essencialmente pela sensação de depósito de pré cadaveres. Desculparão a crueza, mas o que vi foi isso mesmo: velhinhos deitados, ou sentados (os que ainda têm força), com o olhar no vazio, à espera do dia da mais longa viagem.
Impressiona-me também a forma como são tratados: como débeis mentais, ‘ai que o menino tem de comer a papa senão eu zango-me com o menino’. Talvez as assistentes vejam isto como uma demonstração de carinho, mas suponho que os velhinhos, cujo único problema será porventura estar um pouco esquecidos, ou tremer as mãos e não ter os reflexos de outrora, se sentirão, no seu íntimo, humilhados, postos de parte e inúteis. Em vez de estimulá-los, desmoralizam-nos. Fazem-nos baixar os braços. Morrer mais depressa. Isto revolta-me profundamente. A forma como a velhice é encarada, como uma coisa que envergonhe os mais novos, e mais válidos. Como se se sentissem ‘ameaçados’ por este vislumbrar de um possível desfecho para os seus, ainda vigorosos, anos de vida. Como se esconder a velhice, trancá-la a sete chaves, longe dos olhares do mundo, pudesse evitar o processo. Sinto um aperto no coração quando vejo como são tratados os velhinhos doentes. Como lixo. Sinto muito se choco alguém. É assim. Os lares, os hospitais, tudo igual. Os velhinhos são tontos inconsequentes, que só chateiam. Tive, infelizmente, de conhecer esta dura realidade. Há uns anos, o meu avô sofreu um AVC e esteve internado em S. José, numa cama numa sala vazia, porque só cabia mesmo a cama dele . Não sei se seria um vão de escada, mas era muito apertado. Recordo-me que ele estava entubado, mas consciente, e que chorou quando nos viu, mas não conseguia falar. Recordo-me de ter chorado horrores ao ver o desespero nos olhos dele, por não conseguir comunicar connosco (aliás, escrevo estas linhas com as lágrimas a escorrer), a solidão, a vontade de querer sair dali. Morreu poucos dias depois, sozinho no seu quartinho miserável, sem ninguém que lhe segurasse a mão, sem ninguém que lhe desejasse boa viagem e o acompanhasse naquele momento…
Há dois anos, perdi um tio muito querido, em circunstâncias parecidas. As enfermeiras do hospital da Guarda, habituadas como todo o pessoal médico a ser desprendido, já não se compadecem com os queixumes. Na sala onde o meu tio estava, outros cinco velhinhos estavam deitados, meio alheios, uns com visitas carinhosas, outros absolutamente sós, à espera apenas… o meu tio quase já não tinha forças para falar mas estava lúcido, e pedia por favor que lhe compusessem a fralda porque lhe estava muito apertada e a magoá-lo. Teremos nós a real dimensão do desespero que deve sentir um homem, em tempos forte e autoritário, que pede em surdina à sobrinha que lhe chame alguém para lhe ver a fralda que lhe está a magoar ‘as partes’, como ele dizia. Terão noção do sentimento de impotência que sente quem recebe tal pedido, e vai a correr chamar uma enfermeira, que lhe diz com arrogância ‘ agora é a mudança de turno, já lá vamos’. E que perante a insistência ‘ele está muito queixoso, doi-lhe muito’, responde, já virando costas,’ Eles dizem todos a mesma coisa, doi-lhes sempre qualquer coisa’. Fiquei tão chocada que nem tive reacção. A correcta seria, obviamente, partir-lhe a cara, para ver se lhe doia ou não, mas nem me lembrei disso. Foi uma auxiliar de limpeza que assistiu à conversa que me levou pelo braço dizendo ‘menina, deixe estar que eu trato disso, assim que acabar a visita eu vou ver o seu tio, prometo-lhe’. Se foi ou não, não sei. Não pude perguntar ao meu tio porque ele morreu nessa mesma noite.
Escrevo este post em homenagem aos velhinhos que perdi, e de quem tenho saudades imensas. Honremos os nossos idosos, apreciemo-los enquanto cá estão, e ao ritmo deles, embora com infinita paciência, façamos com que se sintam amados, ensinemos-lhes coisas, sentemo-nos a ouvir as histórias que nos contam, de tempos antigos que já nem conseguimos imaginar como sendo reais.
Há tanto para fazer em termos de melhoria da qualidade de vida dos nossos séniores…ainda acalento o sonho de um dia, quando tiver tempo disponível, dispender algumas horas a fazer trabalhos manuais com velhinhos, para os ocupar, inventar umas actividades leves, mas que os estimulem, para não os deixar definhar numa cama ou num cadeirão. Gostava de ver mais lares e hospitais preocupados com a saúde emocional dos velhinhos de que cuidam. Gostava de ver mais respeito para com os velhinhos. Gostava de ver mais velhinhos felizes e menos velhinhos conformados.
Gostava mesmo.
Bom, para falar verdade, tenho mais paciência para putos do que para velhotes.
ResponderEliminarÀ excepção da minha avó, que era alegre por natureza, normalmente só se lembram de falar do rol das maleitas que os assolam. A minha sogra, que tem 88 anos, há 10 que não me diz mais nada a não ser "isto está muito mal" (nunca tive nada contra ela, mas convenhamos que dali não advém mais nenhuma conversa, num tema tão persistente).
Contudo, de tudo o que já vi e ouvi de lares e hospitais, concordo contigo que os idosos são realmente maltratados. Mais, às vezes até são "roubados" pelo pessoal, quer sejam coisas de valor, um anel ou uns brincos de ouro por exemplo, quer em coisas mais insignificantes, como o gel de banho ou o champô. Se se queixam, ah não, que estão tantans...
A história mais caricata que já ouvi, foi num lar da linha do Estoril ir lá o médico e dizer a uma mulher de 100 anos (residente antiga, sem família ou visitantes), que tinha de fazer dieta, porque tinha o colesterol elevado. E a senhora disse-lhe "não" de caretas, para espanto do doutor. Quer dizer, quem é que tinha os neurónios avariados???
Enfim, o tema dá pano para mangas...
Também gostei da carta! :)
Safira...
ResponderEliminaro teu post deixou-me com os olhos turvos... Fico muito impressionado e inconformado com o cenário REAL que descreves. Na parte que me toca farei de tudo para ver os meus velhinhos felizes e acompanhados, bem acompanhados.
Quanto gosto de falar com eles, passar horas a ouvi-los. Dão-nos tanto e pedem tão pouco.
Os cabelos brancos são para mim um símbolo de respeito e atenção.
Pena que hoje em dia pouco sejam aqueles que pensam como nós. Vejo os filhos a tratar os seus pais velhinhos com tanta crueldade, que se fosse comigo talvez optasse por morrer de vez!
Um grande abraço e obrigado por este texto. Faz-nos bem pensar nisto.
Parabéns por este post
Tiro o meu chapéu !
No seguimento do comentário da Tété:
ResponderEliminaré importante que os deixemos falar das suas maleitas, é uma das formas que eles têm de chamar a nossa atenção. Isso é tão importante como sabermos conduzir a conversa para coisas boas da vida deles que lhes façam brilhar os olhos.
Como em tudo basta querer, ter paciência e muito carinho.
...da-se...
ResponderEliminarSorry, mas tinha escrito aqui um comentário e ele não aparece!
Para não repetir tudo, confesso que me assusta a velhice por ver como muitos dos nossos velhinhos são tratados. Ficam esquecidos á espera que o tempo passe. Assustam-me os casos de pessoas que abandonam os familiares sjá velhotes nos hospitais ou então se esquecem de os visitar num lar.
Gostava de ver também velhotes mais felizes, podendo sentirem-se mais úteis, porque afinal eles têm tanto para dar!
Hoje são eles... um dia seremos nós.
Bjs
Eu também.
ResponderEliminarnão é assunto de que eu goste de falar porque me incomoda...
ResponderEliminara minha avo mais a irma e a mulher do irmao (que ja faleceu) sempre tiveram guerras e quem as pagou foi a minha bisavo que foi tratada tal e qual como descreves no inicio do post. 1 semana em casa de cada filha ate a enfiarem no lar...
Quanto a actividades para os velhotes, sei de um lar (mj da la aulas) que tem bastantes actividades para os estimular. nem todos sao maus...
Mas como disse, nao me vou alongar mais porque nao gosto de falar deste assunto... talvez por medo de la ir parar um dia (recuso-me)
Beijinho grande para ti!!!!
Teté: percebo-te perfeitamente quando dizes ter mais paciência para miudos. Mas também é mais fácil lidar com crianças: temos sempre o recurso a várias tácticas que já não funcionam com os velhotes. E, emocionalmente, também é mais fácil olhar para uma criança e pensar no futuro promissor que a aguarda e tentar com muita força prepará-la para a vida. Com um senior, atrevo-me a dizer que isso não faz sentido e que o queremos é proporcionar-lhe o maior bem estar possível enquanto por cá andam.
ResponderEliminarPois claro, também há velhinhos que são muito chatinhos, mas enfim...também há muita gente nova que só me desperta vontade de distribuir estalos (ou pior, mas sendo Páscoa não me vou alongar), e temos de gramá-los.
Passam-se mesmo coisas horríveis em alguns lares, e hospitais, e eu tenho muita pena de quem está só e não se consegue defender. E raiva, de ver a falta da caracter de certas pessoas. A falta de caracter é uma coisa que não suporto. E tanto disso que vemos hoje...
Minha querida Teté, um grande beijo e boa Páscoa!
Viajante: acho que não deve haver maior desgosto, para os seus corações cansados, que se saberem um fardo para os seus próprios filhos. Eu tenho uma ideia um bocado escocesa de família: vejo a minha como um clã. Os meus fins de semana são passados em família, como vivemos todos perto. Geralmente ao domingo, juntamos a malta toda e fazemos o sacramental chá. Ao domingo, ninguém janta. Tomamos um chá reforçado, trocamos dois dedos de conversa, se há futebol vemos juntos, uns a torcer pelo benfica outros pelo Sporting. Não me cabe na cabeça deixar de ter esta relação. É uma âncora tão boa, faz-me imensa confusão as pessoas que vivem isto de outra forma. E com os familiares que estão ainda em França, é igual. Podemos não estar todos juntos fisicamente, mas estamos unidos. Há alguma coisa melhor do que um pic-nic no Covão da Ponte, na Serra da Estrela, com a família toda reunida? Por muito snob que eu por vezes seja, adoro pic nics campestres com o meu pessoal. Agora tem menos graça, sem o meu tio querido, mas vamos tentar o melhor que pudermos no Verão. Ainda tenho a minha tia, que me dá abraços apertados e me chama 'minha linda menina' e canta modas antigas. Há lá coisa melhor?
Bolas, alguém tem de me por uma mordaça, senão não me calo!
Beijo grande, e boa Páscoa
Carracinha: odeio quando isso me acontece ;).
Mas o que dizes deve resumir o anterior e não é menos válido por isso. Claro que sim, temos de dar o exemplo aos mais novos, senão quando for a nossa vez...
Eu até acho que o governo devia tomar iniciativas desse género. Já pensei numas coisas, que pus de lado porque neste país não vale a pena, peço desculpa se ofendo alguém, mas quando se vê o que se passa nos paises nórdicos, acho que se deve mesmo ficar envergonhado. Vi uma reportagem sobre a Suécia ou Dinamarca, não me recordo porque falaram de todos os países nórdicos, mas retive a ideia de que todos, e digo bem todos, os velhinhos, quando chega a altura em que já não conseguem sozinhos têm lugar garantido numa instituição. Não sei se só mostraram a mais bonita, ou se houve produção especial, mas o quarto da senhora, INDIVIDUAL, era mimoso. Lindo! Tinha uma janela que dava para campos verdes, bem, era muito tranquilo. Para repousar mesmo, e para aproveitar o tempo.
Bem sei que o nível de vida é diferente, mas caramba, não custa assim tanto dignificar os nossos idosos, pois não? Ou é pedir demais?
Beijos
Van Dog: muitos de nós...pode ser que um dia a colectividade de bons costumes consiga vencer!
Fausto: Não quero que fiques triste!!! :) Claro que há lares muito bons, mas a questão é que todos deviam ser assim. Infelizmente há muitos escroques por aí que pbtêm licenças, não sei como, e abrem lares como quem abre uma padaria. Depois é o que se vê.
Não sejas tonto, não vais nada lá parar. Vais ter muitos faustozinhos e faustazinhas a guerrearem para ficar contigo e com as tiras do Sushi! Sim? Vá lá, optimismo!!!
Beijo grande
Olá!
ResponderEliminarA tua ideia escocesa de família é muito bonita, principalmente para mim, que sempre tive uma família composta sobretudo por amigos do que por parentes, esses reduzidos a meia-dúzia de pessoas, nem sempre muito próximas.
A experiência que eu tenho com "clãs" não foi lá muito boa... Deve ter sido azar :) Percebi que não aceitam lá muito bem elementos novos, vistos como "jogadores no banco", apêndices...
Espero que o teu clã não seha assim :)
Bjs e vamos lá às amêndoas...
Tendo lido só a maria de lurdes e as primeiras frases safiricas, e ainda sem ler comentários, deixa-me que te diga: possa, adorei. Adorei, adorei, adorei a carta e a maria de lurdes. Safira, despacha-te com esse curso que eu estou ansiosa por ter um livro teu na minha mesa de cabeceira =))).
ResponderEliminarAté me saltou uma lagrima ao canto do olho, porque se consegue mesmo sentir a dor da velhinha e as saudades do seu manel e das suas laranjeiras. Adorei. Mesmo.
Pois, agora a lágrima teimosa caiu e mais umas se vieram juntar-lhe. Concordo em pleno com tudo o que dizes. Tenho medo de ficar velhota, precisamente por ver como os mais velhos são tratados na nossa sociedade...
ResponderEliminarJá avisei a minha mãe e o meu pai que, um dia, seria eu a tomar conta deles. Resposta pronta: tás parva, nem pensar, eu interno-me num lar antes de dares conta, pois são os pais q devem cuidar dos filhos, e nunca o inverso. Mãe há mesmo só uma, não? Logicamente que me ouviu: não sejas doida, há uma altura para tudo e um dia será a vez dos filhos tomarem conta dos pais. Porque, nem pensar nunca em deixar alguma vez que a minha mãe ou o meu pai sejam tratados dessa forma.
Mas a tete tb tem razão: há velhinhos que são terriveis e maus caracteres. Há outros que são ignorantes, mas mandões... eu vi a minha avó a tomar conta da mãe metade da sua vida (a minha bisavó ficou tantan muito cedo), sempre com paciencia e carinho. Mas deixou a sua propria vida para trás, tomando conta de uma velhota exigente, embora muito querida, que berrava "filha má, filha ruim" de cada vez que a minha avó a deixava com o irmão ou num lar temporariamente, de modo a poder tb apreciar um pouco da vida.
Tenho os meus 4 avôs, todos com 80 anos e lúcidos, ainda sabendo tomar conta de si próprios e cheios de genica e vitalidade. O patriarca continua a ser o meu avô materno =) e o que ele diz continua a ser ouvido. =) (já o meu avô paterno, enfim, tadinho, é burrinho e ignorante, mas tem a mania que é o maior e que sabe tudo...LOL).
Mas tb vejo o pejo com que muitos tratam aqueles que, em tempo, lhes deram vida. Ingratos.
Viajante: Hum... tanto para ler nas entrelinhas do que escreves. Acho que já começo a perceber melhor...
ResponderEliminarÉ o reverso da medalha dos 'clãs', por vezes subsistem em si mesmos e olham de esguelha quem vem perturbar as rotinas. Eu também espero que o meu não seja assim. Até ver, acho que não. Os elementos 'novos' sempre foram bem recebidos, apesar de haver um ou dois que, pessoalmente, não me importava de trocar por cromos novos, mas até ver, não somos elitistas! Tudo gente boa ;)
Cuidado com os açucares! Nada de amêndoas a mais.
Bjs
Vanis: Saudades, miguinha!!! Bem regressada!!!! :)
Mas já vi que escolheste o post errado, que assim não tenho direito a um LOLLLLLLLLLL portentoso.
Credo, mulher, é só um cursinho. Não é para escrever livro nenhum! E hei-de ser eu, que ando sempre a mudar de rumo, havia de sair uma coisa jeitosa! Nah... deixo isso para quem sabe mesmo. Mas confesso que gostava. Das três coisas que é suposto não morrer sem se fazer, só as árvores é que não me deixaram ficar mal. O resto...acho que vai ser na próxima encarnação! ;)
Olha que sorte que tu tens de ter os teus avós todos. Eu já não tenho nenhum. Morreram-me todos muito cedo. A minha avó paterna nem a conheci...A minha avó materna ia passar temporadas a França, e ficava a tomar conta de mim depois da escola. A minha mãe costumava comprar-me umas bolachas com recheio de framboesa, e a minha avó, que gostava muito delas porque eram muito macias para os seus dentinhos fracos, às vezes pedia-me que lhe desse uma. E eu, só para ficar com mais para mim, dizia 'olha, não podes tirar porque elas têm micróbios, podem fazer-te mal'. Tão mázinha que eu era. Depois levava nas orelhas da minha mãe, mas eu bem as via às duas, a rir à socapa da minha presença de espírito, pulga insignificante e tão esperta que eu era!
O meu avô paterno, que até nem era avô biológico, mas foi ele que criou o meu pai, e era ele o meu avô Zé, também vinha passar temporadas a minha casa já aqui em Portugal. Eu tinha paixão por ele, porque ele tinha uma paciência infinita e contava-me montes de histórias da vida dele. E eu achava que ele falava bem, ficava fascinada com as expressões dele.
Enfim...vai-se tudo embora tão depressa, que nem damos bem conta. Olha, eu só percebi mesmo a dimensão e o impacto que a morte do meu pai teve em mim, já adulta. Nunca queria falar disso, levei imenso tempo a conseguir falar do assunto. E sinto que a cada dia que passa tenho mais coisas dele para contar, para agradecer. Sinto muitas saudades dele e dos tempos de cumplicidade entre pai e filha que não tive oportunidade de ter.
Mas quando tens 10 anos, não pensas em nada disto. Nem percebes que não é pelo facto de não falar do assunto que a dor se desvanece. Não pensas que daí a 20 anos, talvez, é que as coisas todas que bloqueaste começam a vir ao de cima.
Bom, divergi um bocadinho... estás a ver porque é que não posso pensar em escrever um livro! Os leitores teriam de andar sempre a tomar notas para seguir o fio à meada.
Beijos grandes e aproveita os teus pais e os teus avós em pleno!
Eu cá concordo com a ideia, tu tens muito talento para a coisa, Safira. Posso dar-te uma dica? Que tal experimentares romance histórico? Está na moda e vende como tremoço, é que isto de ser escritor é tudo muito lindo mas o $$ faz falta. Posso dar-te algumas ideias para argumentos e fazer a investigação necessária. Coisas do ofício do viajante ;)
ResponderEliminarEu cá já tenho as árvores e os livros na minha conta, só falta o resto :)))
Safira, divergiste mas esse tema é também bem interessante - aqui tens outra ideia para um futuro post ;)
Eu também já não tenho avós, aliás só convivi com a minha avó paterna, mas era muito novito. A falta dessa referência fez com que eu desenvolvesse uma grande adoração pelos avós e pelos velhinhos dos outros.
Também perdi o meu pai muito cedo, aos 16 anos. Acho que só saberei avaliar a verdadeira dimensão dessa perda quando um dia for pai. Até lá essa gaveta manter-se-á por arquivar, julgo eu...
Bjs
Gostei mto deste teu post e tb a mim viria a lagrimita ao olho, se lá estivesse no teu curso, o que escreves nunca é banal...:-)
ResponderEliminar(e não estou a dar-te graxa, é o que eu penso genuinamente)
Não tenho avós já como tu, e já pensei pela experiencia de ver os unicos dois de que me lembro mais (a minha avó materna faleceu qd eu tinha 7 anos, e o meu avô paterno nunca conheci) andarem a fazerem a a ronda pelas casas dos filhos, mtas das vezes a serem "empurrados" dos outros irmaos para aqui (naquela altura a ideia dos lares não era tão comum).
Esta situação choca-me imenso e depois que vi uma reportagem sobre um lar de luxo, aqui em Lisboa, ali para os lados de Belém, onde se era tratado com todas as condições e dignidade, com luxos mesmo, mas eram só para uma meia duzia porque os preços eram exorbiatantes, ainda fixquei mais revoltada com esta situação toda.
Porque nos esquecemos , como se fosse lixo, daqueles que já foram o pilar e contribuiram em todos os aspectos para a construção deste país enquanto mais novos?
Deve ser por isso, que por causa de não ter irmãos e de já ter perdido o meu pai há mais de 15 anos, optei por ter uma casa ao pé da minha mãe, tenho que ter mta paciencia para ela ás vezes, mas nunca me perdoaria se ela estivesse sempre abandonada, dia a noite, numa casa até acabar os seus dias.
Bjs e parabêns pelo texto mais uma vez, se todos pensassem como tu este mundo seria e estaria com certeza bem melhor.
Viajante: e o que eu gosto de romance histórico! Devorei Alexandre Dumas, na minha juventude, e li umas quantas biografias de personagens históricas (Catarina, a Grande, que quero reler um dia destes, e algumas sobre diversas 'favoritas' das Cortes Francesas, e claro, tudo o que havia para ler da Marion Zimmer Bradley, e dos tempos de Avalon, Napoleão, que admiro imenso, correndo o risco de ser aqui linchada...). Mas bom, eu imaginava que seria mais simples fazer como a Margarida Rebelo Pinto e escrever uns quantos romances de cordel... Começar logo com romance histórico é quase missão impossível! Mas vá, quero ver essas tais ideias para argumentos. Manda-me um email! ;)
ResponderEliminarLamento saber que temos essa perda em comum. Mas eu não esperaria pela paternidade para por ordem na gaveta. Há exorcismos que quanto mais cedo, melhor...
Beijo grande
Eumesma: Ai, valha-me Deus, que daqui a bocado está-me tudo aqui num pranto! ;)
Pois claro que quem tem posses não tem tanto problema em arranjar um sítio digno para os seus últimos dias. Emocionalmente, continuo a achar que não é o dinheiro que lhe vai amenizar as dores da solidão ou do sentimento de inutilidade. Mas revolta, de facto, as assimetrias. Acho lindamente que quem possa, possa. Mas quando não se pode sozinho? ah pois é...
Pois, temos essa coisa em comum, de também viver perto da mãe. EU estou sempre lá caída, de tão perto que é. Não tão perto quanto tu estás, mas é do género ;)
beijocas
Oh moça, só com o que tens no blog escrevias um livro =)
ResponderEliminarE até podias chamar-lhe teremos sempre paris =)))
É...e depois vinha o Sarkozy processar-me por estar a meter a capital dele ao barulho! ;)
ResponderEliminarNada disso, ele agora anda a falar italiano, anda entretido :)))
ResponderEliminarSe for preciso meto uma cunha no Eliseu ;)
Se devoras romance histórico estás no bom caminho. Há muito que explorar na nossa história. Andam sempre a bater no mesmo, nos Descobrimentos, já não há pachorra... Aceito o desafio !
Às tantas não me expressei bem. Vivo em paz, apesar dessa perda já longínqua. Mas quem sabe, aquilo que hoje está arrumado amanhã está numa revolução. Imagino que a paternidade possa (hipótese) desencadear algo semelhante nas minhas arrumações. Ou talvez não :)
Bjs
è mas é um palhaço! Não tenho a mínima paciência para ele. Esta história da casar com a Bruni pos-me fora de mim! Toda a gente acredita que é um amor muito profundo, aquele!
ResponderEliminarEu interesso-me pelas invasões napoleónicas. Mas não sei muito sobre isso, não se dá nos manuais e não tenho tempo para ler tudo o que quero!
Suponho que a paternidade te fará sentir um grande aperto por não poderes partilhar esse momento especial...enfim, isto é verdade para mim, sinto mais falta quando quero partilhar algo. Por exemplo, se um dia me casasse iria pensar muito no meu pai por não ser ele a levar-me ao altar. Isto é um exemplo um bocado parvo, mas pronto...ah, podia ter pensado na minha formatura. Também acho que ele gostaria de ver...
Anyways, to happy days!!!
Beijo