sexta-feira, 12 de outubro de 2012

E quando eu julgava que já nada me poderia chocar

Lisboa, oito e meia da manhã. Leio o meu Metro enquanto aguardo o autocarro da Vimeca com o ar conformado de quem não nasceu efectivamente rico e tem de trabalhar a 50km de casa para ganhar a vida senão depois o governo não tem a quem roubar cobrar. Sou perturbada na minha leitura por três miúdas que se cumprimentam ruidosamente. Mau! Tento em vão concentrar-me mas é impossível não ouvir as três púberes gralhas. Tento continuar a leitura com banda sonora até que se me acaba o jornal. Autocarro, nem vê-lo. Resigno-me e começo a prestar mais atenção à conversa das criaturas. Até porque nem eu nem as trinta pessoas mais próximas temos qualquer alternativa, que as criaturas estão a falar como se estivessem sozinhas no mundo. Tudo é dito  clara e audivelmente, de onde eu estou até ao fim da fila. Mal seguro o queixo quando me começa a chegar aos ouvidos o relato da desastrosa performance de um mocinho, namorado de uma das cromas, que sofreu um episódio de disfunção erectil   resolvido, a duras penas, com muitos 'beijinhos' (não me perguntem onde). Pensava eu que o horror teria acabado por aí; enganei.me. O pobre moço teve mesmo uma noite azarada: parece que, quando finalmente conseguiu começar o acto, acabou depressa demais. O que não pareceu incomodar muito a rapariga que, aparentemente, tem muito apetite e queria era 'despachar a coisa para ir jantar'. O que veio a acontecer, ainda com o rapaz (que, by the way, jurou que 'aquilo nunca lhe tinha acontecido'), e culminou na oficialização do namoro. Sim, porque antes (da badalhoquice) ainda não eram um 'couple, couple'. Agora parece que já são. Olha que bom, ficámos, eu e os outros trinta ouvintes involuntários, tremendamente comovidos! Estivemos para dar vivas, e fazer uma mini onda, sei lá, mas entretanto chegou o 7 e o momento perdeu-se. Mas tive pena, palavra que tive, que a abnegação da rapariga, incansável nos detalhes e generosa na partilha, merecia o nosso apreço.

Ah, já me ia embora sem congratular a mãe da criatura: parabéns, cara senhora,  fez um excelente trabalho nos últimos 22 anos; tem aí uma menina que é um mimo de princípios e discreção! E, já agora, um pequeno conselho: Rapaz da alegada disfunção eréctil e ejaculação precoce, se me estás a ler: não te preocupes, que isso acontece a qualquer um, e até se trata e tudo. Mas tu acorda, puto. Queres mesmo estar com uma maluca aluada que te vilipendia numa paragem de autocarro e informa  o mundo dos teus momentos menos felizes e dos teus momentos de alegria precoce, sem pudor nem sensibilidade por ti, que até diz que és namorado dela? Faz-te mas é à vida, que arranjas facilmente mais gira (muito, muito mais gira), menos rodada  e menos língua de trapos. E com amigas menos parvitas, também. Pira-te, pira-te, enquanto podes!

4 comentários:

  1. Ainda estou de boca aberta!
    Já me apercebi que as meninas são muito lestas a confessar as suas performances nos transportes públicos ( já ouvi no metro, no banco em frente a mim), mas nunca tão explícitas e pormenorizadas.
    Espero que o rapazinho leia o seu post...
    Bom fds

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  2. Ahahah, bem sei que as moças hoje são muito mais desinibidas que noutros tempos, mas uma dessas nunca apanhei... :)))

    Pobre rapaz, já não lhe bastavam os seus problemas na função, ainda arranja uma namorada dessas que os conta para uma vasta plateia de utentes da Vimeca... :D

    Beijocas e bom fim de semana para ti!

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