quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Do atendimento a clientes ou pormenores de qualidade de uma subserviência a que alguém devia começar a prestar atenção


Aproveitando uma reunião de fim de tarde em Lisboa e o facto desta se ter realizado mesmo em frente a uma loja que não me paga para fazer publicidade e que por isso não nomearei ( mas cujo nome começa por ‘M’ e acaba em ‘o’ e tem ‘ang’ no meio), resolvi entrar em busca de um trapinho elevador do astral soturno com que andamos todos. Fui percorrendo a loja, sem grande entusiasmo, confesso, porque me irrita solenemente a moda feita para gajas sem curvas, e a proliferação daquela miséria que são as calças justas, as tais das skinny ou do slim fit, que só fica bem a mulheres anoréticas que só comem ervilhas. Eu, que graças a Deus!  era capaz de matar por uma boa pasta e que exibo orgulhosamente essa característica na pernonga e no rabiosque, não posso usar essas coisas. Quer dizer, poder, posso. Até mais do que muitas texuguitas camufladas que se enfiam nos slims e se esquecem que a banhoca sai toda por cima e andam a fazer figuras tristes como se fossem anunciantes humanos da Michelin. Eu cá sou muito prática: não me favorece, não uso. Moda ou não moda.

No meu périplo, reparei em dois senhores africanos, espojados num banquinho, rodeados por duas jovens assistentes da dita loja. Achei o cenário tão exótico (homens na tal loja foi coisa que nunca vi, nem na secção masculina, por sinal muuuuuuito fraquinha) que me pus a observar discretamente, fingindo-me fascinada por uma gabardinas por ali penduradas. Então a conversa era a seguinte:

  - Não, más o que eu queria mêsmo éra uma coisa mais gárida, que elas pudessi pôr uma bijútaría beránti, e um sápato di sálto alto.

Percebi então que os senhores africanos estavam na verdade a fazer um shopping para donzelas ausentes  e que as assistentes da loja andavam a esvaziar prateleiras para lhes satisfazer os desejos, como se estivessem num atelier de luxo. Como achei aquilo tudo muito pindérico,  larguei as gabardinas e deixei os senhores africanos na vida deles e fui provar umas calças. Ficavam bem, embora alguém deva explicar à tal loja que a mulher portuguesa não mede normalmente 1,80 m e que escusam de fazer pernas daquele tamanho para depois chegarmos a casa e termos trabalho de as cortar. Obviamente, esta vossa amiga recusa-se a pagar para que lhe façam bainhas nas lojas. Sou forreta? Deixá-lo. Era o que mais faltava ficarem-me com o dinheiro da peça, da alteração da peça e ainda com o tecido cortado!

Pego nas minhas calcinhas e lá vou para as caixas. Estava uma pessoa a ser atendida. Passado um bocado, já depois de ter cheirado os perfumes todos e ter olhado depreciativamente para as bijutarias ali penduradas para tentar os incautos, comecei a prestar atenção ao que se passava à minha frente: uma operadora passava freneticamente os artigos que outra lhe ia passando de um gigantesco monte. Uma terceira estava por ali, suponho que a dar apoio moral. Curiosamente, só aquela caixa estava aberta. Depois de ver passar 3 horrendas calças leopardo, percebi que o monte enorme era dos senhores africanos e que a jovem loura à minha frente devia ser a desgraçada da assistente deles, a quem tinha calhado na rifa ficar na loja a pagar a conta. Comecei a olhar fixamente as assistentes, a ver se alguma percebia que havia vida para além dos paralelos 4 a 18. Ignoraram-me olimpicamente, apesar de eu estar muito visível com a minha gabardina vermelha, por acaso até comprada naquela mesmíssima loja, há dois anos atrás. Ora eu sou boazinha, mas não gosto de ser ignorada. Ia começar a barafustar quando me apercebi de que estavam a  fazer subtotais. O primeiro foi de €995. O monte por passar fazia dois do já passado... Olhei para as minhas calças de €19,90 e percebi que nem que eu fosse a Diana de Gales ressuscitada conseguiria chamar a atenção daquelas almas.  Fui por as calcinhas no sítio de onde as tinha tirado e saí ostensivamente da loja, com a firme intenção de não voltar lá mais. Mas estou arrependida, que devia ter feito reclamação. As moças, coitadas, estavam atrás da comissão. Percebo isso. Respeito isso. O que não percebo é desrespeito por outro cliente pagante. Não teria ficado mal abrirem uma caixa para os outros clientes pobrezinhos, cujos rendimentos vêm de trabalho honesto e  não têm proventos de diamantes ou armas ou luvas de empreitadas e não andam a pavonear-se pelas lojas de Lisboa como se fossem a última coca cola do deserto. Irrita-me solenemente esta atitude reverencial ao santo tostão dos paralelos 4 a 18 .  Santa paciência. Tendes dinheiro, ide à 5ª avenida que é muito mais fino, não andeis a entropiar a vida de quem só quer comprar umas calças, senhores! 

4 comentários:

  1. que enredo tão grande para dizer que por causa dumas calças andaste em manobras com as calcinhas...

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  2. Pois, pois, mas era preciso que lhes dessem visto para ir às compras à 5ª avenida ou à Bond Street. Vêm cá e já gozam. Quando vejo angolanos às compras fujo logo. Levam metade da loja e monopolizam as empregadas todas, que andam de roda dos milionários com um ar sabujo que só visto.
    (chamem-me racista, quero lá saber. eu sou racista de novos ricos, sou)

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  3. Claro que as meninas andavam atrás da comissão. E mesmo que tivesses reclamado, provavelmente até o dono da loja as compreenderia... ou julgas que elas aprenderam com quem? Dito isto, esta gente que parece burro atrás de cenoura quando vê uns carcanhóis mais valentes, também me irrita bastante... :P

    Beijocas!

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  4. Isso de as meninas andarem atrás da comissão e deixarem os clientes (mais ou menos) habituais, provoca-me imensa comichão.
    Eu teria agido da mesma forma.

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