quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Sonhos perdidos

Lembram-se desta canção? Eu tinha na altura onze anos e já acalentava o grande sonho de vir a ser uma cantora famosa. Já me tinha passado a fase do canto lírico porque, embora não o dissesse em voz alta, e investisse algum tempo a fazer Ohohohoos e  Ahahaaahhhhs, e a intercalar os dois, sabia que o auditório só não me atirava tomates porque os tempos já eram de crise, e porque não fica bem maltratar crianças nem dar-lhes cabo dos sonhos. Mas pronto, a coisa não era famosa. Sabiamente, fui adaptando o meu sonho à medida daquilo que conseguia efectivamente cantar. Depois de anos a cantar e idolatrar Marie Myriam, e já depois de dizer adeus à minha querida Paris, decidi que ia ser eu a ganhar um festival da Eurovisão para Portugal. Imaginava-me a ser recebida em apoteose no aeroporto, e a fazer as capas da TV Guia ( que eu nunca fui muito da Nova Gente). Este sonho renovado intensificou-se depois desta canção de Corrine Hermès, que cantei até à exaustão no recreio da escola e até mesmo na aula, em frente à turma, quando as férias escolares estavam à porta e os professores faziam aulas mais ou menos livres, onde cada aluno ia ao quadro fazer qualquer coisa. Uma imitação, cantar uma canção, contar uma anedota. Eu era presença recorrente para cantar e imitar animais. Era uma rapariga popular, na altura. Nem sempre desinteressadamente, que toda a gente gostava que eu ajudasse nos pontos e emprestasse os meus Caran D'Ache, mas isso são águas passadas. Criativa, ingénua e cheia de sonhos tontos. Mas era feliz, especialmente porque ainda não tinha a percepção de que esse sonho iria fazer companhia ao sonho de ser veterinária, a próxima Brooke Shields, a namorada do Jon Bon Jovi ou vir a ter um cavalo palomino. Não necessariamente por esta ordem. Estes, e outros, estão agora muito arquivadinhos na gaveta dos sonhos um-dia-possíveis-mas-lets-face-it-altamente-improváveis-e-alguns-absolutamente-parvos. E ainda bem. Gosto da minha vida actual. O cavalo ainda me custa, mas, quanto ao resto, estou resolvida. A Brooke Shields nunca foi grande actriz e engordou como o cacete. Deixem lá 'tar, obrigadinha. O Jon Bon Jovi não envelheceu lá grande coisa. E quem quer ser veterinária e salvar bichinhos, quando pode mofar oito horas por dia num escritório a encher os bolsos a terceiros e amigos que depois até chegam a ministros. What can I say... I LOVE MY JOB!

1 comentário:

  1. Eheheh, quem não teve sonhos desses? Lá de ser cantora nem por isso - era lata a mais, da parte de uma desafinada - mas outros assim de fama e glória... num mundo de jetset revisteiro! :)))

    Enfim, também não se perde muito, tendo em vista o dito mundo e a futilidade que nele reina. Além que os Bons Jovis também envelhecem, e nem sempre da melhor maneira! :D

    Beijocas!

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