Mas também gosto da primavera porque ela traz também uma simpática criaturinha de Deus, que dá pelo nome absolutamente foleiro de ‘bicho de conta’. Em inglês é muito mais giro: pill bug ou roly-poly. Quem inventou o nome em português tinha pouca imaginação. Já no Brasil parece haver imaginação a mais, pois os bichinhos são conhecidos por tatuzinhos de jardim. Ok... estamos todos de acordo: há uma clara falta de respeito logo na nomenclatura.

E acho mal. Acho mal porque este é um bichinho incompreendido e ignorado por muitos. Não é, como muita gente poderia pensar, um insecto. Ah pois não. É um artrópode. Mais, segundo a wikipédia, é mesmo um crustáceo. Portanto, um parente da lagosta. Ao preço a que esta costuma estar, acho que já há aqui uma clara discriminação na deferência para com o bicho de conta. Mas adiante.
Diz a wikipédia que este simpático bichinho vive em ambientes húmidos, debaixo de pedras ou dos detritos vegetais de que se alimenta. A wikipédia devia sair mais de casa, na minha opinião. Ora, alguém me explique então o que fazem dezenas de bichos de conta nas escadas da estação de comboio, ou na escada da urbanização onde tenho a minha fabulosa penthouse (é um 3º andar com varanda a ceú aberto, e então? É uma penthouse ou não? Ah bom!)?? Isto é uma problema: há muitos bichinhos de conta claramente desnorteados e a passear por onde não devem. A outra parte do problema tem a ver com o seu curioso método de defesa: o enroscanço sobre si mesmo. Ora é giro, sim senhor, parecem umas bolinhas, que fofos!, mas depois não se conseguem voltar a por de patas no chão e ali ficam a espanejar de barriga para o ar. E a malta vê isto e o que é que faz? Passa dez minutos por dia a virar bichos de conta escada acima, escada abaixo. Não têm conta os comboios que perco entre Março e Julho, à conta dos bichos de conta. E, quando estou de calças ainda é como o outro, agora com saia já é mais chato ficar ali de rabo alçado à espera que o bicho desenrole e se deixe salvar. Costumo usar o método do disfarçar a fingir que estou a limpar o sapato, porque acho que os outros passageiros não estão preparados para esta dedicação aos crustáceos terrestres. Reparem que me estou nas tintas para o que pensam de mim, mas não os quero perto dos meus bichinhos de conta com as suas patorras imensas. Donde o low profile dado à coisa.
Encaro isto como uma das minhas missões na vida: salvadora de bichos de conta. Não se riam: esta história do Karma é tramada. Tento ser boazinha para todas as criaturas de Deus(euh...menos baratas e aranhas e accionistas imbecis e, claro o anormal do 2º esq.) porque nunca sabemos se voltamos e como.
E é pena. É pena porque se eu soubesse como voltariam certas pessoas, engraxava o Big Boss do Universo para voltar directamente acima na cadeia alimentar deles. E nhac! Primeiro um bracinho, depois uma perninha, e ficava a vê-los arrastar-se em agonia até ficarem exangues e mortiços. E depois deitava-os fora, que eu sou de boa boca, mas a ruindade da presa ainda me ficava a trabalhar no estômago...
Hum...Em calhando calava-me, que já me estou a entusiasmar e ainda me esqueço que não estou ainda reincarnada em super predadora do universo e não posso começar a trincar pessoas por aqui...
Bom, voltando à biologia, se gostaram deste artigo sobre o bicho de conta terei todo o gosto em dissertar proximamente sobre a lagarta da couve.