Os temas eram variados, mas havia sempre os incontornáveis ‘quando crescer quero ser...’ e ‘se pudesse viajar no tempo seria...’.
Sendo que, quanto ao crescer, a partir de agora só se for para os lados, detenho-me uns minutos sobre o ‘se eu pudesse viajar no tempo seria...’.
A parte absolutamente fútil da minha pessoa levar-me-ia a responder, de caras: dama de companhia na Corte de Luís XIV. Mas nobre, claro. Nada de aia vinda do poveco. Porque não a própria da Rainha, perguntarão vocês. Bem...primeiro porque a pobre Marie-Thérèse não brilhava pelo seu intelecto, e depois porque era chifruda. Não estou cá para aturar um homem que durma com outra(s), ainda que seja Rei de França. Era o que mais faltava!
E depois porque é muito mais giro ser coquette e espirituosa e ter os imbecis dos príncipes, duques, condes e viscondes todos a suspirar pela discreta e elegantérrima Duquesa (gosto mais do título de Condessa, mas os Duques são mais ricos), do que ser Rainha e só ter salamaleques interesseiros. O poder tende a atrair gente engraxadora e isso é uma coisa que eu não suporto, e a ter de incarnar a babaca da Marie Thérèse, que possuía a retórica de um rato do campo, não lhes poderia dar as tiradas sarcásticas que eles mereciam e, por conseguinte, ficaria frustradíssima. E para ficar frustradíssima, deixo-me estar no escritório e poupo a desagregação molecular de uma viagem ao passado!
Confesso que gostaria de ocupar grande parte do meu tempo em Versailles. Desfilar, de queixo elevado, nesta galeria, vestida de ríquissimos veludos brocados (admitamos que seria inverno, porque o veludo no Verão é capaz de ser muito quente), com os cabelos presos com travessas cheias de pedrarias, e joias maravilhosamente discretas, para não ofuscar a minha estonteante beleza natural.

Brincadeira (que surgia espontanea e inesperadamente) à parte, nesses tempos, os bons eram mesmo bons. Honrados, com princípios, corajosos e honestos. Podiam cheirar mal, mas eram ´comme il faut'. Hoje cheiram todos muito bem, mas na maior parte... são umas bestas.
* Não foi só o Tolkien que escreveu uma trilogia: A história de D’Artagnan começa efectivamente com ‘Les Trois Mousquetaires’, mas continua em ‘Vingt Ans après’ e termina com ‘Le vicomte de Bragelonne’. Se bem me lembro, já lá vão uns anos valentes, este Vicomte era o filho de Athos e Milady de Winter ( essa grande cabra!)