quarta-feira, 14 de março de 2012

De como a inocência ignorante é uma benção insuspeita

E quando pensava que num curso de letras nunca mais ia ter de pensar em fórmulas matemáticas, eis que Vladimir Propp me dá cabo dos planos. Este simpático folclorista russo dedicou grande parte da sua vida a estudar contos populares russos e a dissecá-los para, pasme-se!, reduzir a sua estrutura a fórmulas lógicas. Temo ter encontrado no seu 'Morfologia do Conto' o xeque mate da réstia de inocência que eu ainda tinha. Ainda só vou na página 52, mas já estou mesmo a ver que o tempo em que eu lia sem pensar 'era uma vez uma princesa muito formosa' já lá vai, e que quando a minha sobrinha me pedir para lhe contar uma história,eu lhe  vá debitar a conversão lógica das funções na estrutura do conto. Algo como D1E2F5, por exemplo. Acredite-se ou não, isto até faz sentido mas arruinou para sempre o meu imaginário  Obrigada, Vladimir!

E depois temos o nosso amigo Bruno Bettelheim e a sua "psicanálise do conto de fadas" , que é o outro livro que tenho para ler. Tem uma capa gira, um título apelativo e tal, e não resisti: fui espreitar uma página ao calhas. Na página 305 ,dedicada à explicação do conto de Branca de Neve, lê-se: " os contos de fadas preparam a criança para aceitar o que é, de outro modo, um acontecimento muito perturbador: o sangrar sexual, como na menstruação e, depois, nas relações sexuais, quando o hímen é rompido". I shit you not, está escrito. Isto a respeito das três gotas de sangue que a mãe de Branca de Neve deixa cair na neve ao picar-se na agulha com que bordava. Too much information, é o que vos digo. Há gente muito doente neste mundo. Como se as crianças fizessem associações destas. Nem eu, com esta já proveta idade, as fazia, nem de perto lá chegava. Confesso-me absolutamente chocada. E com medo do que poderei encontrar no conto do Capuchinho Vermelho, por exemplo. De repente o 'é para te comer melhor' não prenuncia nada de bom...

3 comentários:

  1. Estás a tirar um curso de letras? Bom, quanto ao primeiro caso, até acredito que os tipos de estrutura de um texto possam ser mantidos em fórmulas. Afinal de contas não nos ensinaram a escrever uma redação seguindo pelo menos 3 fases de apresentação, desenvolvimento e conclusão? Para escrita de um livro não será muito diferente, com mais ou menos flashbacks, saltos cronológicos, histórias paralelas ou que se entrecruzam, etc. e tal.

    Agora a psicanálise do conto de fadas, já me custa mais a engolir. Será que os irmãos Grimm, Lafontaine, Perrault ou Andersen, por exemplo, tinham um pensamento tão rebuscado que pretendessem dar esses significados às suas histórias? Olha, é quase o mesmo que ver uma tela com um único borrão ao meio e depois virem uma série de inteletuais falar da visão profunda do autor, que com aquela mancha queria significar blá,blá,blá... :)))

    Too much information, só se presta a confusão! :D

    Beijocas!

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  2. Essa gente anda ver demasiados borrões, é o que é.
    Mas será que TUDO tem a ver com sexo? Anda tudo a passar-se?
    Chega a ser doentio, dissecar-se algo como um conto infantil para lhe atribuir intenções do foro sexual. Como se a nossa função primordial como seres humanos fosse apenas a de ser seres sexuais. Por essas e por outras que o sexo é de tal forma banalizado e sobrestimado.

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  3. Lê lá a análise freudiana da Alice no País das Maravilhas e vais ver o que é bom!
    Beijo

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