A banalidade da 'Amizade'...

Tenho uma 'amiga' que já foi, em tempos idos, a minha melhor amiga. Digo foi, porque, como acontece com algumas pessoas, a capacidade relacional sofre um duro golpe após o matrimónio e maternidade. Algumas pessoas tornam-se absolutamente amorfas, só falam de fraldas e dos dentinhos da menina, e estão-se nas tintas para o que as outras pessoas possam estar a passar, que seja bom ou mau, e basicamente empurram tudo e todos para fora do seu casulinho familiar. 'Xô, mortais solteiros ou sem prole, com vida própria e interesses diversificados, e que não sabem distinguir a 'mustela' da 'corrine de farme' (who cares? ambos bedungam mesmo...) tudo para o ciberespaço!! (Para ser completamente honesta, não sou rapariga de ficar a assistir placidamente, e às vezes empurro-me a mim mesma e poupo trabalho aos outros e nervos a mim mesma. Não há paciência para a conversa de circunstância:

Eu : Olá, tudo bem?

Ela: Tudo bem e tu?

Eu: Tudo bem. E o X(marido) e as miudas?

B: sim, tudo bem.

(silêncio)

A: então e o trabalho?

Ela: Tá tudo bem.

(silêncio)

Eu, em desespero de causa: hum... tem chovido, hein? Tempo bera, não?

Ela: é...

(silêncio)

Eu: ok, então, olha, beijinhos a todos, fica bem

Ela: Beijinhos

Certo...Há pachorra? não há pachorra! Resulta portanto que agora só falamos nos aniversários e natal. A partir de hoje, já vai ser só mesmo nos aniversários, e é se ela se lembrar do meu!

E isto porquê? Porque estou farta! Cansei-me de ser boazinha e 'sofrer' em silêncio as desconsiderações da donzela. De há uns anos para cá só tenho direito a um sms enviado para todos os contactos 'bom natal e feliz ano novo. FamíliaX'. Pois que ficamos todos muito contentes de estar integrados no 'pack boas festas', mas a mim chateia-me solenemente receber sms despersonalizados. Chamem-me caprichosa, não quero saber. Há uma diferença abissal entre saudar uma pessoa porque nos diz qualquer coisa, e lhe queremos dar um mimo, e dizer-lhe 'pensei em ti', e o 'pensei em ti mas também estou a pensar na Joaquina Maria e no Hermegildo André e assim poupo tempo e fico já despachada'. Obrigadinha, mas se é assim, deixem estar!

E parece que deixou mesmo, porque nem sms de grupo recebi!

Não desarmei, nem dramatisei. Estranhei, mas ainda pensei 'ok, este ano o pessoal também não anda a vibrar com isto, está tudo em baixo, não lhe apeteceu... Envio eu. Já no dia 25, fiz uma mensagem personalizada, simpática, com o nome do marido, das meninas e lá enviei. Resposta? Nem vê-la.

Hoje liguei.lhe. Eis o diálogo abreviado:

Eu: Então, está tudo bem?

Ela: Tudo bem, e tu?

(não se assustem, eu disse que abreviava!!! :))

Eu: Sim, mas pensei que tivesses mudado de número de telemóvel... (sim, sou uma cabra, e então?)

Ela (consciente de que a boca era merecida e não tão estúpida ao ponto de tentar disfarçar): ah, pois, desculpa, é que com o almoço em minha casa e os pais, os cunhados, os sogros, (a humanidade inteira, em suma), acabei por me esquecer de te responder.

Como é??? Esqueceu-se de responder???

E desejar as Boas Festas, como uma pessoa normal? Também se esqueceu?

Mas calha bem, porque ao menos assim acaba-se com a charada. Não temos, de facto, grande coisa a dizer uma à outra, mas a incivilidade custa-me sempre digerir. Esqueceu-se de responder... Isto para mim é o mesmo que dizer 'tenho muito mais em que pensar e quero que morras longe'. Ok...

Ah, sim, a cereja no bolo da coisa: fui madrinha de casamento dela...

E, comentário muito maldoso, mas nem por isso menos verdadeiro: pelas minhas contas faltava um bom par de anos de sms diárias para amortizar a porra do vestido!

E antes que tenha mais prejuízo deixa-me cá ir tirar o Boris da estante, que estou a ver o meu leitor de DVD a fazer um voo picado não tarda!