Teria talvez uns 13 ou 14 anos quando comecei a dedicar-me às prateleiras
de livros ditos ‘de adulto’ deixados pelo meu pai. Lidas as colecções d’Os Cinco, d’ Os Sete, das Gémeas no
Colégio de Santa Clara, mais uns quantos romances de algibeira com nomes
bonitos (Aubépine, La Roche au cerfs, que li não sei
quantas vezes), a Enciclopédia Médica do Reader’s Digest (sim, eu lia
enciclopédias, e depois?), A Vida na Terra do Attenborough, e
mesmo a Bíblia ilustrada, fiquei, pasme-se, sem nada para ler. No desespero,
fui à estante dos livros-que-aparentemente-são-uma-seca-descomunal-sem-qualquer-interesse-para-o-comum-mortal ( por terem capas com um 'certo' aspecto)
e peguei
num, mais ou menos ao calhas. Já não posso jurar qual dos títulos me tornou
numa Villiers junkie, mas sei que
papei todos os que tinha. E eram muitos, pelo menos todos os publicados até
1980, altura em que regressamos a Portugal e o meu pai deixou de acompanhar a
saga do Prince Malko, agente secreto da CIA, de olhos dourados, choruda conta
bancária e talentos de sedução que fariam James Bond corar de vergonha. O que
tinham de extraordinário os livros de Gérard de Villiers? Para já, histórias de
espionagem internacional muito bem urdidas, com aturada pesquisa,
contextualização para totós (como eu era na altura, antes de me tornar no ser
superior que sou hoje, claro). Depois, factor que desde logo me cativou, o
requinte de malvadez com que eram pintadas aqui e ali cenas de assassínio,
torturas, etc. Umas das que me marcou foi a candura com que o traficante panamiano convidou
Por tétrico que possa parecer, também havia lugar ao sentimento. Pois que o
Princípe Malko Linge também era um homem dado à sensibilidade, pois que também
sofria quando, não raras vezes, a mocita com quem mantinha tórridas ligações
carnais sucumbia aos ferimentos de uma bala perdida ou era entregue a outro
destino igualmente fatídico (fosse ele qual fosse, porque o Príncipe tinha uma
namorada fixa, pontas soltas e mocitas assolapadas globo fora é que não, que a bela (sim, para Gérard de Villiers só os maus é que são feios) Alexandra não ia gostar...
Tenho para mim que o Príncipe Malko era um pouco o alterego do seu criador
que ontem nos deixou, aos 83 anos. Li a
notícia com a tristeza que marca sempre o desaparecimento de alguém, mas
sobretudo com nostalgia. Há anos que não pensava nestes livros que há muito
encaixotei na garagem. E não sei se exagero ou não, mas, se na altura me
tivessem posto o Harry Potter à frente,
não teria trocado. Não mesmo...
Nunca li nada dele!
ResponderEliminarBeijinho e bom FDS
Pelo que descreveu parece uma leitura que vale a pena ser feita.Tenha uma excelente semana e receba um abraço do lado de cá do oceano. :-)
ResponderEliminarnão conheço Safira, mas fiquei curiosa...
ResponderEliminarnos anos 80 eu era mais Konsalik... parece-me que há algumas semelhanças
Parto do princípio que de vez em quando passe por aqui, por isso, deixo-lhe neste blog abandonado os votos de um Natal Feliz
ResponderEliminarBeijinho