segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Da eficácia Parte II

Enquanto os meus colegas se descabelavam em silêncio porque não iam ter tolerância de ponto (depois da nota interna da Administração a cumprir as indicações do Grupo), aqui a menina, depois de saber (através de colegas leais) que a sua empresa era a única do Grupo que ia trabalhar, fez uma coisa absolutamente extraordinária: perguntou ao chefe o 'porquê' da dualidade de critérios. Meia hora depois saiu nova nota interna a revogar a primeira e a dizer a toda a gente que podiam ficar em casa.

Ora bem. Tenho alguma considerações sobre isto, especialmente depois de uma colega me ter explodido em loas histéricas de agradecimento, com direito a beijo e tudo (que não consegui evitar de todo, por estar encurralada no meu posto de trabalho) :

a)  Deus nosso Senhor deu uma boquinha a cada um de nós, ou estarei enganada? Eu só decidi usá-la, adequadamente, de forma simples e polida. Isso não faz de mim candidata a prémio Nobel da Física, ou faz? 

b) Contestar uma decisão superior não é sinal de mau feitio, mania de contrariar, ou acérrimo sindicalismo (obrigada, colega, adorei o epíteto, mas declino-o, respeitosamente): é, simplesmente, usar de bom senso e tentar perceber as razões subjacentes a uma decisão que não entendemos. Vai-se a ver a razão subjacente era o Grupo se ter 'esquecido' de informar a nossa Administração que afinal haveria tolerância de ponto. Vai-se a ver, se eu não tivesse perguntado, ninguém ficava a saber disto, e vinham todos trabalhar como tótós, enquanto o resto da malta gozava o sol do entrudo.

c) à colega que disse que 'se eu fosse à frente para a guerra, ela ia atrás de porta estandarte'. Muito sensibilizada com a sua coragem e disponibilidade. E fico muito emocionada por me querer erguer uma estátua, querida colega, mas é escusado. Não foi com certeza por sua causa que abri a boca, até porque a menina ia de férias de qualquer forma e, verdade seja dita, há colegas que eu aprecio bastante mais. Tal como era escusado  ter-me chamado 'a nossa sindicalista' no meio do corredor. E também não lhe tinha ficado mal pensar duas vezes antes de se oferecer para me trazer uma chouriça lá da terra, como se lhe tivesse feito algum favor pessoal. Como não me chamo Godinho, nem sou sucateira, não percebi de todo. Digo-lhe mais, estou de dieta a queijo e enchidos, que tenho o 'castrol' ligeiramente acima dos valores de referência, por isso guarde lá a chouriça para quem se impressione com bajulice. Olhe que perde o seu tempo, por aqui.

d) Finalmente, aos colegas que ficaram aborrecidos porque 'eu podia ter dito qualquer coisa mais cedo que assim tiravam a segunda feira também' humildemente lhes peço desculpas por transtornar os seus planos desta forma tão vil, relembrando contudo que os planos não eram meus...E já que aqui estou, aproveito para lhes desejar também uma feliz estada no reino do carneirismo conformado. 

Não há pachorra para isto, em boa verdade vos digo. 





3 comentários:

  1. Ela que traga o chouriço que me faz falta para o pão.

    ResponderEliminar
  2. Uau! Grande post. É mesmo assim, minha cara. Também estou farto de cordeirinhos e totós que estão sempre à espera que alguém se chegue à frente, para depois eles gozarem os benefícios.
    Infelizmente, pela minha experiência, se algu dia as cisas correrem mal, não deixarão de a culpar. Poir isso, o melhor é mesmo não dar trela a bajuladores e manteigueiros.

    ResponderEliminar
  3. Fartei-me de rir com esta tua breve experiência como "sindicalista"! E concordo a 100% contigo: há colegas de trabalho, que além de enfileirarem na carneirada não pensante, ainda têm a ideia parva de elogiar "em público" a sua heroína, sem darem conta do local onde estão... :/

    Oh, raça de gentinha mais tonta, onde é que há pachorra para a aturar? ;)

    Beijocas!

    ps - quanto ao Sá Pinto, "no comments"... :D

    ResponderEliminar