quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

The Book Thief

É sabido por quem me conhece bem que, sob este ar esfíngico (não sou eu quem me autointitulo, note-se bem), bate o coração mole de uma verdadeira madalena choricas. Também já devo ter confessado por aqui que choro  por tudo e por nada, e em todo o lado, com mais ou menos embaraço, porque tenho um saco lacrimal com vontade própria que há muito já desisti de tentar controlar. Adoptei antes uma abordagem pragmática que é a de tentar ter sempre lenços de papel na mala e ser o mais discreta possível quando a vaga de choraminguice se declara, e estou por isso muito reconciliada com o facto de choramingar por tudo e por nada. Visto que nada há a fazer, já nem ligo. Nem eu, nem ninguém, embora o meu cunhado ainda se divirta a surpreender-me no acto: 'já estás a chorar?' 'eu?! (fungo indignado, e lágrima a correr) claro que não!'. E risada logo a seguir.

Tudo isto para dizer que tenho uma sensibilidade exacerbada (aka mariquice do caraças) e que é fácil pôr-me a chorar. Fácil, porém, não gratuito. Se quiser consigo - mas não vejo grande interesse agora que sei que a minha carreira de actriz já me passou ao lado - chorar on request. Lembro-me que a minha irmã, em miúda, gostava de ver o brilho dos meus olhos quando se assomava aquela primeira lágrima, e me pedia muitas vezes 'mana, chora lá um bocadinho para eu ver os teus olhos a brilhar', e eu vá de pensar no Bambi para lhe fazer a vontade. Mas não façais confusão, lágrimas de crocodilo não fazem de todo o meu género e não as vereis cair do meu rosto. Tenho horror ao bicho e a tudo o que se lhe conota. Tal como tenho horror a imaginar-me na Alemanha da década de 40, seja de que lado da barricada. Não sei o que seria pior: se ter um ridículo homenzinho de bigode a ditar os meus passos e pensamentos, e a vergar a minha essência mais profunda, e a tornar-me um monstro como ele, se estar do lado dos perseguidos judeus e sofrer as ignomínias que lhes foram impostas em nome de nem se sabe muito bem o quê. Não é um período histórico que eu conheça a fundo, não por falta de interesse, mas por falta de coragem para aceitar a hipótese de que o que aconteceu ao povo alemão poderia acontecer a qualquer um de nós: tenho a firme convicção de que todos temos o nosso ponto de resistência e que, em circunstâncias particulares, seríamos todos capazes de perder o discernimento e ir na carneirada monstruosa, se isso significasse proteger os nossos. É muito bonito fantasiar o nosso próprio pedestal e dizer 'eu nunca faria o que o gajo alemão fez, nunca faria tanto mal a outro ser humano', mas a verdade é que não sei se consigo acreditar nisso. Simplesmente não sei.

Este livro fez-me pensar nisso. Muito. Fez-me chorar muito também, como não poderia deixar de ser. E agradecer ao Homem lá de Cima nunca ter tido de fazer as escolhas erradas pelas razões certas, como decerto aconteceu a muitos nesse vergonhoso momento histórico. Recomendo vivamente a quem quiser maravilhar-se com a natureza humana, lendo nas entrelinhas todas as suas monumentais falhas, mas também os seus rasgos de generosidade e  altruísmo. 


Um livro triste, mas ternurento, que adorei ler e que vai direitinho para o meu Special book place.


(nota: não se deixem enganar pelas sinopses à pressão que por aí andam, passam completamente ao lado da sensibilidade do autor e da profundidade da sua história. Aliás, só um génio conseguiria resumir este livro em meia dúzia de linhas. Para vosso azar, eu é que estou sem tempo agora... :))

2 comentários:

  1. Li este livro em 2008 e até o recomendei no blogue. Adorei!

    E não sendo tão chorona como tu te descreves acima, também me fartei de chorar... tanto como não me acontecia desde a adolescência, com "Anne Frank" ou "O meu Pé de Laranja Lima"! O que já diz muito! :)

    Beijocas!

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  2. Ah, esqueci-me de dizer que li o livro em português, cujo título é "A Rapariga Que Roubava Livros". Fica a dica para alguém que o queira ler e que prefira fazê-lo a nossa língua... :D

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