sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Curiosity (almost) killed the cat

Boris é, como a maior parte dos gatos, um gato curioso. Curioso e invejoso, porque aparentemente o terraço dos vizinhos é melhor do que o nosso (ok, ok, não me correu bem a jardinagem este ano, vá) apesar de ser exactamente igual em área. Tento ao máximo evitar que eles saltem para o outro lado da cerca, mas acaba por ser quase impossível estar constantemente a vigiá-los. E, como os vizinhos raramente lá estão, acabo por contemporizar e alinhar nas suas ganas exploratórias, até porque não estragam nada e voltam sempre que os chamo (embora raramente à primeira e já me aconteceu ter de me socorrer de engodo (o pacote do leite resulta muito bem)).


Ora, o terraço não é um terraço comum. A meia altura do lado de fora começa uma espécie de telhadinho que faz a cobertura da varanda da sala. Como todos os telhados, tem um declive violento, e telha muito lisa. Uma combinação nada simpática para um gato explorador (e parvo!). Foi na terça feira. Tinha acabado de despir a farpela do trabalho e fui regar as plantas. Deixei os gatos a apanhar ar (os vizinhos não estavam mesmo, e estava um fim de tarde tão bonito) e fui à minha vida. Calculei que passassem para o terraço do vizinho, mas não me preocupei muito, não vem grande mal ao mundo e também é por pouco tempo.


Daí a pouco aparece Gato Gil a miar. Oh-oh! Gato Gil nunca é o primeiro a aparecer, muito menos de livre e espontânea vontade. Fui ver do outro. Não vi nada. Boris não estava no nosso terraço. Chamei. Ouço um ruído estranho, um ‘Scrishhh’. 'Scrischhhh'? 'Scrischhhh' não é o ‘cabum’ das patorras a aterrar na grade de metal que divide o espaço. Depois vem o ‘mmrrrrriaaauuauaauaau’. Gelei... mmrrrrriaaauuauaauaau é mau. É muito mau. Vi logo o que tinha acontecido. Correu-lhe mal o salto de volta e aterrou no telhado. Vou a correr com o coração nas mãos (já vi Gato Gil despencar uma vez, thank you very much), e vejo Boris encolhido, a miar desesperadamente e a escorregar devagarinho para o precipício. Não podia fazer absolutamente nada, não conseguia chegar-lhe sequer! Fiz a única coisa de que me lembrei: voltei para dentro e fui buscar o meu toalhão de banho. Com muito jeitinho, para não despencar também, estiquei-me toda para lhe colocar a toalha de modo a que ele pudesse agarrar-se a ela. O Deus dos Gatinhos estava comigo, e Boris, cujos miados aflitos já se deviam ouvir em Sintra, percebeu o que eu queria que ele fizesse e agarrou-se áquela toalha como um naúfrago a uma corda (ou como eu ao frasco de cornichons quando me dá a febre do vinagre. Whatever works for you).


Consegui içá-lo, são e salvo. Também se salvou da valente tareia que me apeteceu dar-lhe, mas não tive coragem de lhe bater quando peguei nele e lhe ouvi o coraçãozito a mil à hora.


Raio do gato, pá!

2 comentários:

  1. Ah, coitado do Boris, quem seria cruel para lhe dar uns sapatadas depois de um susto desses?

    Não arranjas nenhuma maneira de vedar esse acesso? Quer dizer, não conheço o espaço, mas alguma coisa deves poder fazer para os impedir de passarem por ali!

    Enfim, tudo está bem quando acaba bem! :)

    beijocas e bom fim de semana!

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