domingo, 5 de julho de 2009

O grande vazio...

Nota prévia:
Quem gostou do livro ' O CODEX 632', por favor não leia o post, sou tudo menos boazinha.
Quem não leu o livro, por favor tome em consideração que revelo partes da trama.
Posto isto, bombs away!


Tenho lido, com crescente irritação (e franca embirração a partir de certa altura) aquele que me foi 'vendido' como um incontornável da nova literatura portuguesa. Acabei hoje, louvado seja o Altíssimo. Depois disto, qualquer assinatura do diário de Maria é bem-vinda. PUAHHHHHHHHHHHH!!! é o meu comentário final.


Não me queria alongar muito mas, mesmo pondo aqui só os pontos fundamentais, receio que vá resultar num grande ensaio... Cá vai:

1) A linguagem 'popularucha'.
Expressões como ''avançar com os carcanhóis' ou 'deu com as trombas na América', podem fazer sorrir muitas pessoas, mas a mim irritam-me, especialmente se tivermos em conta que são proferidas por um professor de faculdade, e escritas por um jornalista, igualmente professor, que tinha obrigação de elevar um pouco mais a língua de Camões. Penso eu de que...
Mas tenho de tirar o chapéu porque o palavrão, sendo feio, vende, e o autor soube ir rebuscar um americano com origens brasileiras para nos poder, justificadamente, brindar com os providenciais 'motherfucker' e 'fucking isto' 'fucking aquilo' que, como todos sabemos, acrescentam imenso interesse à narrativa.


2) O 'encher chouriços'
Não se aguenta o adjectivar excessivo e a excessiva descrição de cada cena, o debitar de informação a propósito de tudo e coisa alguma, desde a trissomia 21 à linguagem das flores, das diversas variedades de chá verde à mitologia grega, o Tomás(AKA JRS) é o maior, o Tomás sabe de tudo. Eça, só houve um, meu caro senhor, e mesmo esse chegava a ser chato com o seu Ramalhete visto a microscópio digital.


3) A imprecisão científica
Não serei especialista, mas achei estranho que, numa passagem na quinta da Regaleira (Sintra), o nosso herói conseguisse, AO MESMO TEMPO, descortinar 'os pintassilgos que trilavam com exultação, envolvidos num intenso duelo de resposta ao arrulhar baixo dos beija-flores e ao gorjear melodioso dos rouxinóis'. Um rapaz de sorte, este Tomás... conseguiu a meio da tarde ouvir um rouxinol (que só canta ao anoitecer) e um beija-flor, que, tanto quanto eu saiba, nem sequer existe em Portugal.


4) o fazer do leitor estúpido
Foi o que mais me irritou. Mesmo. Não sou criptanalista, como o amigo Tomás, mas não precisei de mais de cinco segundos para chegar à conclusão que 'MOLOC' seria 'COLOM'. Ele precisou da página 80 à página 112...mas façamos justiça ao homem, ele assume que é bronco: 'andei eu para aqui a matar a cabeça como um tolinho quando, afinal, na primeira linha bastava ler tudo da direita para a esquerda'. pois... DUHHHHHHHHH, Tomás!!!!


5) o fazer do leitor mais estúpido ainda
Na pág. 233 surge mais uma charada complicadíssima: 'Qual o eco de foucault pendente a 545?'. Ora admito que nem toda a gente conhece o Umberto Eco, mas há pessoas que por acaso até sabem que ele escreveu 'O pêndulo de Foucault' e, logo, se sentem INSULTADAS quando um pretenso professor universitário, historiador e criptanalista, leva quase 100 páginas a ler livros de um outro Foulcault que nada tem a ver com o caso, para, OH CÉUS!!, ter uma inspiração súbita e ir, por fim, ao livro certo consultar a pág. 545. Que é inconclusiva (e no caso do meu livro, até inexistente, mas vou admitir que a cópia do Tomás tenha sido escrita a caracteres maiores e tenha de facto pág. 545...) e que mergulha o herói numa dolorosa inquietude até ter mais um rasgo de génio e chegar finalmente à conclusão que o estúpido livro está dividido em capítulos, e depois em subcapítulos. Hello??? 545= cap. 5, subcapitulo 45. Não leu a bíblia, o menino Tomás??? Tipo Livro de Job 3:27? Por amor de Deus!!!

E, para que não estejam a pensar que me estou a armar 'ah obrigadinha, já conheces o livro' pois que não. Foi a primeira vez que o abri. Nem conhecia a estrutura, tão pouco. Mas cheguei lá. Deve ser porque não sou historiadora nem criptanalista...
Mas convenhamos que é chato o leitor estar a fazer compasso de espera até que o autor se decida avançar porque já toda a gente sabia que o Colombo era um judeu português antes de o Tomás sequer saber em que livro é que isso está escrito. Apre, Zé, não se aguenta!

E muitas mais cousas me irritaram, desde a historieta familiar de suporte à trama, com a trissomia da miúda, que depois ainda morre no fim, a puxar ao sentimento, os dilemas morais de trair a mulher (uma página de dilema, apenas, curiosamente...) com a sueca pulposa, providencialmente caída na sala de aulas dele (euh... hello,amigo Tomás, a tua estupidez é natural ou foi uma arte que aperfeiçoaste? Pois não era de ver que a loura bombástica tinha algo a ver com os americanos, homem de Deus?? Achas que há suecas ninfomaníacas com peito 44 a querer estudar escrita suméria em Lisboa? )


Salvam-se deste desastre os factos históricos (curioso como a linguagem é muito mais técnica e formal, apesar de ser sempre o Tomás, o bronco, a relatar...hum...bizarra a incongruência, não?).
É um facto que recordei factos e aprendi uns novos (presumindo que são verdadeiros, mas quem é que me prova isso?) mas, a verdade é que ficamos todos mais ou menos na mesma. É um facto que Colombo é um mistério, mas não era preciso D. José Rodrigues dos Santos, o Salvador, andar com tanto floreado para vir repor a 'verdade' dos factos e deixar no ar que o homem era alentejano. Já outros antes dele o fizeram. Temos é de dar-lhe o mérito de ter acrescentado que há uma conspiração de americanos com ascendência genovesa para encobrir tudo.
Claro que sim!



Banda Sonora: America - Simon & Garfunkel

30 comentários:

  1. Delirei!
    Esta vai já para entrada da semana!

    Grande beijinho. :)

    ResponderEliminar
  2. Ah, ah, ah! Tenho aí pendurado na prateleira, naquela "leio/não leio"?, acabaste de decidir por mim... :)))

    Bom, já me tinham dito que o autor tenta enfiar todas as pesquisas que efectuou no livro - para mostrar o trabalho que efectuou - o que me parece "defeito" de jornalista. Já no Rio das Flores o MST enfia umas 100 páginas sobre factos conhecidos da História de Portugal, que a meu ver, não acrescentam nem atrasam ao enredo. Para quem conhece minimamente a História, não diz novidade nenhuma, para quem não se interessa, o mais provável é "saltar por cima"...

    No penúltimo parágrafo deste grande e delirante post, acho que te esqueceste de terminar com a palavra Portugal (?), suponho!

    Beijocas e fartei-me de rir!

    ResponderEliminar
  3. Teresa,

    O delírio foi meu, de ter dado 22€ por isto! (o que vale é que foi um vale FNAC que me tinham oferecido)

    Beijocas

    ResponderEliminar
  4. Teté,

    Sim, entre os teus 1200 e tal livros em espera, acho que podes deixar esta 'pérola' para depois.

    idiosincrasias do blogger, eu tinha escrito Lisboa... Vou já voltar a escrever. Obrigada pelo repar ;)
    Beijinhos

    ResponderEliminar
  5. Vício,

    Isso é para o livro ou para o post? ;)
    Beijinhos

    ResponderEliminar
  6. É verdade! Como copiei o texto para publicar na Gota, reparei que a palavra "Lisboa" estava num corpo diminuto, a cinzento... e quando se publicava não se via.

    O Blogger às vezes droga-se, tenho para mim.

    ResponderEliminar
  7. :D

    Não li... mas depois de te ler já vi que não perdi nada!

    Boa semana!

    Beijinhos

    ResponderEliminar
  8. Depois da Rosa Lobato DE Faria, tudo o resto me parece ter uma certa falta de sal. E de especiarias. Aquela mulher tem um sentido de humor do outro mundo!

    ResponderEliminar
  9. Eu desconfio muito destes jornalistas feitos escritores de sucesso de um dia para o outro, mas enfim...
    Continuo a dar o benefício da dúvida para o meu preferido: Miguel Sousa Tavares. Dia 7 sai o último, acho que o vou levar para férias. Se não gostar mando-o ao Mediterrâneo ;)

    Un saluto

    ResponderEliminar
  10. A minha irmã também o comprou e disse que não conseguia ler até ao fim.....que além de maçador era um tanto ao quanto cansativo e meio bronco na sua escrita.

    Calhou bem deixei de me interessar....ahahhahah

    Beijokitas linda.

    ResponderEliminar
  11. é para o livro, segundo o que descreveste (associado a um estado de sonolência que me invadia na altura)

    admiro a tua capacidade de conseguir ler isso tudo para conseguir essa analise. eu não chegava ao meio do livro...

    ResponderEliminar
  12. lololol

    Ver aqui o resumo das reclamações in live...ahahaha

    Olha por acaso até gosto do personagem como jornalista já o escritor podia fazer como o Saramago e a Mª João Pires e "pirar-se" para outro lado ;)

    Beijocas

    ResponderEliminar
  13. Gabo a tua paciência, ler livros que não se gosta não é para qualquer um.

    Quanto à crítica que fizeste... Como não li não posso concordar nem discordar. Mas continuo a não querer ler esse livro. Acho-o uma tentativa futil de codigo da vinci versão portuguesa. Alem disso o José Rodrigues dos santos nem tem cara de escritor...

    ResponderEliminar
  14. Concordo em parte, principalmente com o 'arrastar' de certas coisas que eram triviais ou/e sem o minimo interesse. Foi o dar suspense à coisa que só me deu foi trabalho a ler, tais foram as vezes que tive que ganhar coragem para o fazer!

    ResponderEliminar
  15. Assim o Zé ainda fica com orelhas de burro, xiça! Pode ser que o 633 seja melhorzito!

    ResponderEliminar
  16. Como já te tinha dito, não considero o JRSantos um escritor, mas antes um comunicador. Não apreciei a parte do romance, mas devorei a parte monográfica, pois por acaso não conhecia a história/teoria do Colombo judeu portugues alentejano de cuba. Tal como não conhecia, ou já não lembrava, muitas das descrições históricas. Há quem não tenha pachorra para elas, por não lhe trazerem nada de novo, mas também há quem não seguiu por essa via e que se deixe encantar pela narrativa fácil da História de Portugal. Eu gostei da monografia e do JRSantos comunicador. Não gostei do Tomás nem do JRSantos romancista.
    Também não nos podemos esquecer que nem todos têm o mesmo nível cultural, seja por que razões forem. Nem todos têm um palmo de testa. E o que abunda no nosso país (tal como em outros) são as chamadas "massas". O que para nós é irrisório ou até soe a que nos insultam a inteligencia, pode ser a única forma de chegar a essas massas e torná-las um pouco menos ignorantes. Nesta perspectiva, digo que o JRSantos é um comunicador.
    Defeito de profissão (seja por estar habituada a lidar com a ignorância e tentar passar algum conhecimento -o que muitas vezes isso implica ver o mundo pelos mesmos olhos- seja por saber a trabalheira que é reunir carradas de informação e sintetizá-la numa monografia de forma a fazer passar uma mensagem) ou de fabrico, ahahahah, ou vontade de fazer de advogado do diabo, apesar de concordar com a maioria das tuas críticas, gostei do Codex. Precisamente porque "evacuei" para o romance, já que não o tinha como romancista (logo não o encarei com romance) e me centrei nos factos históricos que, para quem parou a História no 9o ano e ainda não conhecia a saga colombiana-cubana, são sumarentos. Devorei-os uns atrás dos outros e o livro teve o condão de despertar em mim, novamente, o bichinho da História... ;-)

    ResponderEliminar
  17. Teresa,

    Tenho para mim que tens toda a razão: o blogger passa-se. Ou isso ou já são os genoveses a 'hackar' o meu pc para me calarem também. Ó´Horror!

    ResponderEliminar
  18. Carracinha,

    Eu acho sempre que cada um deve formar a sua opinião, e não desaconselho ninguém de ler para formar a sua. Mas só se não tiverem nada melhor para fazer ;)
    Beijos

    ResponderEliminar
  19. Marta,

    Conheço pouco de Rosa Lobato Faria, mas li há algum tempo um livro dela, cujo título agora me escapa, como sempre, mas tem a ver com uma gaveta? Bom, dois segundos, vou pesquisar...

    ...exacto! 'A gaveta de baixo' e gostei bastante.
    Também gosto muito da letra um pouco 'nonsense' do Amor de Água Fresca, faz-me sempre sorrir quando ouço a Dina a cantá-la.
    Beijinho

    Beijinhos

    ResponderEliminar
  20. Viajante,

    Eu não desconfiava muito, mas passei a desconfiar. Isso e mulheres que ficam subitamente desempregadas e que inventam historietas de meninos feiticeiros... Bah, O Tolkien é que é!
    (só para picar os fãs de Harry Potter :)

    Euh... presumo que queiras dizer Egeu, não? Ou para além de n perceber nada de história também tenho de rever a geografia? ;)

    Beijinhos

    ResponderEliminar
  21. Parisiense,

    Acho a apreciação da tua irmã muito branda. Eu tirava o 'meio bronco' e quando muito punha bronco e meio!
    Beijos

    ResponderEliminar
  22. Vício,

    Eu gosto de dizer mal com algum fundamento. Só do Benfica é que falo mal por falar, com ou sem razão ;)

    Beijos

    ResponderEliminar
  23. Ka,

    Cruz Credo, mulher, queres matar-nos a todos??? Ainda juntas o Saramago, para morrermos todos de tédio?

    (aqui estou a falar mal por falar que não consigo ler nada do senhor. Se calhar até tem coisas giras, mas a Blimunda e o Baltazar cansaram-me até ao tutano. Nem acabei esse, nem comecei mais nenhum)

    Beijos

    ResponderEliminar
  24. The one you know,

    Do I know you? :)
    Bom, como disse ao Vício, eu só posso fundamentar se ler até ao fim. Agora tenho é de me controlar para n ler mais nada dele, porque ainda estou na fase da embirração solene, e estaria apenas à procura de coisas por onde pegar. Convenhamos que tenho mais que fazer.

    Fazes uma comparação que me parece justificada e tenho de concordar contigo, existem semelhanças gritantes. Não li 'o sétimo selo' mas penso que não andará muito longe da 'Conspiração', também do Dan Brown. Salvo melhor opinião, claro. Mas a escrita do Dan Brown, não sendo maravilhosa, é incomparavelmente melhor. Mais sintética, e com ritmo. O que perde os seus livros, especialmente o 'Anjos e Demónios' (que me fascinou até certa altura) são os finais completamente absurdos. Mas, mil vezes um Dan Brown do que um JRS.
    Bjs

    ResponderEliminar
  25. André,

    Aquilo é um nunca acabar de arrastamento... cansa mesmo filtrar o que realmente interessa. O que vale é que é muito pouco.

    Beijinho

    ResponderEliminar
  26. Paulofski,

    Não associo a sua anatomia mais pronunciada à do animal em questão, mas devia moderar-se. Less is more, já dizia o meu professor de estratégia...
    Beijinhos

    ResponderEliminar
  27. Vani,

    Sim, tens razão em certos pontos, e sei até que a minha crítica pode ser considerada snob ou convencida. Mas eu só digo o que eu senti ao ler o livro.
    Já eu considero que a histeria toda das 30 e tantas edições foi um fenómeno de moda. Muitas das pessoas que compraram o livro fizeram-no porque associaram a cara que conheciam, ou seja, o JRS usou (e bem, está no seu direito) o mediatismo que o envolve para fazer a engrenagem do marketing funcionar. Porque se formos a uma livraria temos milhares de autores absolutamente anónimos que escrevem romance histórico que, com toda a certeza, não fica atrás deste. Com mais ou menos fantasia (a Benzoni ou o Max Gallo, respectivamente. E vamos lá ver as vendas desses em Portugal? Quantos não irão de volta para a editora porque o autor não estava no ar no estourar da guerra do golfo?
    Não lhe tiro o mérito de colocar factos históricos interessantes. Mas achei tudo o mais tão mauzinho que não chega para passar a fasquia. Para mim, atenção. Cada um acha o que quiser, não quero fazer doutrina.

    E o Tomás é simplesmente ridículo como personagem. Como homem, como professor, como pilar de moralidade. Uma nódoa. Claro que eu estou habituada aos herois do Dumas. O suburbaninho traidor e bronco nunca teve a menor hipótese, e foi por isso que logo no início eu me desencantei. Odeio homens que caiem nos braços de suecas louras de peito 44, tenho-lhes assim, como direi?...verdadeiro asco.

    ;)
    Beijos

    ResponderEliminar
  28. Safira, LOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL! No que respeita ao Tomás, completa e totalmente de acordo!
    E que a popularidade do JRSantos o ajuda a vender, ajuda. Mas, oh pah, eu, por ex, não iria para o meio dos estouros da guerra do golfo ahahahah.

    Oh melher, snob onde????? tonta. :)))) nadinha. É a tua opinião ora, e muito ganhas tu por a saberes defender. Não é só porque sim, né? Justificas tim tim por tim tim, é impossivel não concordar :D.

    ResponderEliminar
  29. Aqui a menina Gi começou a lê-lo nos idos de 1996 (ainda antes do grande plofff da minha empresa. Este livro foi-me emprestado por um agora ex-colega e continua (fui buscá-lo à estante aqui do office) desde 1996 na pág. 242.
    Eu bem quis devolvê-lo ao meu ex-colega, mas ele fugiu dele como o Diabo da cruz. Achei a sua reacção sintomática. ;)

    ResponderEliminar