Sou frequentemente acusada de ser uma pessoa um nadica embirrante e com algum mau
feitio. É uma crítica que aceito com alguma facilidade; se a minha própria mãe o
diz é porque deve ser verdade. Nada como uma pessoa insuspeita para nos dar um
banho de humildade de vez em quando e D. Micas é mestre no cházinho quando é
preciso. Em minha defesa, porém, considero que há uma linha muito fina entre o
embirrar e o ser minimamente exigente. Às
vezes embirro, é verdade, e embirro só porque sim, porque sou humana e
imperfeita. So shoot me. Outras vezes, como esta manhã, não há tanto uma
embirração como uma incredulidade completa perante a incompetência
das novas gerações e a fraca qualidade do serviço que as lojas oferecem agora.
Entrei numa perfumaria à procura de uma fragrância para o senhor meu sogro,
que celebra três quartos de século amanhã. Embora tenha as minhas preferências
pessoais em termos de perfumes masculinos, confesso-me mais parcial a aromas
menos clássicos, mais frescos, e que, creio, não se adequariam. Expressei estas
dificuldades à simpática moça (assim que ela largou o livro que estava a ler
quando entrei, o que, não sendo profissional, não é tão mau quanto estar a ler
a Caras ou a Hola. Embora eu até goste da Hola, que as pindéricas espanholas
conseguem ter muito mais classe do que as nossas, e até se vêem uns vestidos que
não lembram os cortinados da avó mal engomados de que as tias de Cascais tanto
gostam), na esperança (estúpida, claro) de que ela poderia ser de alguma
utilidade. Perante o ar completamente perdido da funcionária, avancei o
clássico Farenheit na esperança de conseguir sair da loja antes da hora de
almoço. Apologeticamente, diz-me: “é que eu sinceramente perfumes de homem não
percebo muito”. Calha sempre bem, numa perfumaria... mas pronto, achei
divertida a sinceridade e pensei cá para comigo, coitada da moça, há coisas
piores, afinal temos um primeiro ministro que também não percebe grande coisa
do métier e o “chefe” dele também não
se rala nada com isso. Pelo menos a moça foi sincera. E como disse, muito
simpática. Por isso lhe desculpei ainda a manifesta falta de jeito que a levou
a dizer-me que não tinha um spray para cabelo que eu tinha acabado de ver na
montra. E quando lhe disse “mas olhe que está na montra” ainda teimou: “tem a
certeza????”, “tenho
sim senhora. O rótulo está em inglês, tá a ver, mas diz aqui “hair spray”... “ah...tem
razão!”. E acrescenta, pesarosa, “sabe, é que estou aqui há muito pouco
tempo...”. Pois, a malta percebeu. Mas é
sexta feira, estou a uma semana das férias, a perfumaria não é minha e a vida é
globalmente bela. Saí com os meus produtos e com um sorriso no rosto. Acho que
D. Micas ficaria orgulhosa da sua filhota mal humorada.
Padeço do mesmo mal e também reconheço que as pessoas têm razão quando me acusam de ter mau feitio. No entanto, lembro sempre a quem me acusa, que a culpa não é minha, porque não participei na minha própria produção ( O que é uma pena, pois teria feito muito melhor).
ResponderEliminarBom FDS
beijinhos
Inexperiência e incompetência, quando associadas a alguma humildade e simpatia, até se perdoam bem! :)))
ResponderEliminarBeijocas!