Acordo estremunhada e com a sensação de ter acabado de adormecer. Agradeço mentalmente à magistral insónia que me visitou esta noite e, como Nero Augusto ainda não me está a dar patadas de encorajamento para me levantar e levá-lo à rua, planeio voltar a fechar os olhos e fazer de conta que é fim de semana ou que finalmente o euromilhões came my way e vivo de rendimentos. O toque insistente do relógio e a voz meiga ao meu lado instigam-me a levantar: parece que afinal ainda tenho de ir trabalhar. Ligo o automático. Duche, check. deo, check. creme hidratante e antirugas cuja eficácia ainda requer confirmação, check. Lembro-me de Sasha Margarida, como acontece todas as manhãs. Lágrima. Esqueço-me do eyeliner no processo. Compenso essa ausência mais tarde, aplicando batom de tom duvidoso (sunlight can be so cruel...) já no comboio. Saltamos o pequeno-almoço, que o tempo urge e o meu estado semicomatoso com apenas duas horas de sono não me tornam mais ligeira. No café da estação vejo um éclair e mando a dieta ao ar. Afinal passei metade da noite acordada e já passei uma máquina de roupa. Fuck it! Mereço bem as calorias. A Fiona, uma alma errante (gosto mais do que vadia, rafeira ou outro epíteto aplicável aos pobres animais que não têm casa), aparece de rabo a abanar, por entre as mesas. Hoje não está virada para o açúcar e recusa o bolo que lhe estendo. Ainda assim fica ali, sentada ao meu lado, a receber as festas da praxe. Sabe-lhe bem. A mim também. Ainda lhe limpo o olho, onde uma ramela purulenta prenuncia uma inflamação. Corre bem, que ela é uma querida, e nem se mexe ou tenta resistir. E já são horas de apanhar o comboio que a sessão de enfermagem improvisada atrasou-nos um pouco. Claro que já está uma mastronça no nosso lugar habitual, mas relevo, que não tenho energia para me irritar. O dia começa a clarear. Um pouco antes da ponte o astro rei começa a despontar. É uma bola vermelha que rasga as nuvens escuras e torna o céu iridescente à medida que se vai elevando. Olho para este cenário e sinto-me feliz. Cansada, mas feliz. Passa-me depressa assim que entro no metro. A sensação de felicidade. O cansaço sinto-o bem. Ainda assim, regozijo-me e refestejo os seis golos do Sporting a cada Destak que vejo ser desfolhado. Mais um pequeno alento para as oito horas de lassidão que me esperam. Entro no autocarro e enterro a cabeça nas teorias cinematográficas que tenho de saber de trás para a frente. Realizo que me estou nas tintas para o Eisenstein e para o Bazin. Fecho o livro e olho pela janela. A A5 estende-se até ao fim do horizonte, impiedosa e trocista. Revisito o filme ‘The green mile’ enquanto faço o trajecto da paragem até ao escritório. Começa a chover assim que entro. É um sinal, só pode. E fico assim, meia chocha e sem vontade.
Outra vez.
E agora vamos ao que todos querem saber: dormiste pouco pukê? :DDDDDDDDDDD
ResponderEliminarTenho impressão que essa manhã é igual à de muita gente, com pequenas variações no percurso... :)
ResponderEliminarOh, Ana, sua descarada, não percebeste que ela esteve a engomar roupa??? :)))
Beijocas!
Ok, tão deixa-me dizer-te que provavelmente a Fiona (eu chamava-a de Pigóita) não comeu um bocado do teu eclair porque alguém já lhe devia ter comprado um croquete (err...me!) e que, essa chata dessa ramela já me levou a estar em plena praça pública de algodão e soro a limpar-lhe o olhito, mas volta sempre ao mesmo:/ Diz que tem "semi" donos, que é da empresa de areia aí ao lado da estação, e que até já está esterilizada, que eu já andei a averiguar! E vem à estação de manhã e à hora de almoço fazer uma boquinha, também me disseram:) Sendo assim, regojizemo-nos por ela, que há outros piores, tadinhos...
ResponderEliminarPortanto, parece-me que sei onde apanhas o comboio, devemos ser vizinhas;)