É uma coisa de sangue e é simples de explicar: não suporto os 'tios'. Aqueles tios cheios de manias, que falam alto e se borrifam literalmente para quem partilha o seu espaço só porque acham que, por terem um Mercedes no estacionamento, são mais do que os outros.
A minha família é de origens modestas. Não fui, de todo, criada em berço de ouro, mas também nunca me faltou nada. A minha irmã e eu fomos as primeiras da família e tirar um curso superior e temos uma vida razoável (tínhamos. Agora temos um Coelho e uma Troika, por isso não sei como vai ser daqui para a frente). Também nunca fomos bombardeadas com playstations ou roupas de marca, não por a minha mãe não nos querer dar, mas simplesmente porque nunca nos passou pela cabeça exigir-lhe fosse o que fosse. Sempre nos foi ensinado que as coisas não caem do céu e o valor do trabalho para as obter. Quero com isto dizer que a minha mãe, por modesta que fosse em recursos nunca poupou no tal cházinho que se dá em casa. E é por isso que eu, por pobre que seja em comparação com muitas pessoas, entro em qualquer lado com a cabeça levantada porque sei comportar-me, mesmo que só tenha cinco euros no bolso. Há coisas que não se compram, e educação é uma delas. A minha mãe é a pessoa mais correcta que conheço. Eu tenho mais mau feitio, mas aprendi o que tinha de aprender com ela, e também me prezo por ser uma pessoa socialmente apetrechada e correcta.
Ora há pessoas que não são socialmente apetrechadas nem correctas. Há pessoas que nem ao estalo lá vão. O que é pena, porque eu não me importava de perder algum tempo a tentar explicar-lhes várias coisas à bolachada. Mas adiante.
Tive oportunidade recentemente de passar um fim de semana numa herdade alentejana, aparentemente muito reputada, pelo menos pela fauna de tios e tiazocas que lá se encontravam. O primeiro pequeno almoço foi logo um remake dos ‘Pássaros’ de Hitchcock. Eu, qual Tippi Hedren, sossegadita a tentar servir-me do buffet do pequeno almoço e vilmente atacada por um bando de tios a passarinhar por cima de mim para conseguir chegar primeiro aos croissants. O hubby também foi cilindrado pela dondoca que decidiu preparar o biberão da cria (a cria com cinco anos, no comment) em cima da mesa do café e toda a gente teve de esperar que ela acabasse, o que levou algum tempo porque a débil mental não conseguia entender o código de cores dos termos: branco, castanho, azul. Não sei se é preciso um mestrado em física quântica para perceber em qual deles estaria o leite...
Se já não há pachorra para tios e tias no ambiente deles, que me esforço o mais possível por não frequentar (tenho medo que se me pegue alguma coisinha má), apanhá-los num ambiente pretensamente zen, é dose. É dose e é um galo do cacete. Porque não acho nada zen ter de levar com uma pirralha aos berros na piscina, no quarto (por azar mesmo ao lado do nosso), na sala de convívio, e tudo isto perante a passividade dos queridos pais embevecidos, quanto a mim perfeitamente incompetentes para a paternidade. Que ser pai não é só repetir ‘sim, princesa’ à cria e continuar a ler o jornal até que o pequeno monstro se canse de gritar pelas estrelitas e chocapics. (Hello??? Estamos aqui a tentar conversar e não nos conseguimos ouvir com a choraminguice da vossa criatura...) Ser pai também é (ou deveria ser) tentar não deixar o pequeno monstro partir uma chávena Villeroy et Boch. Bom, ok, ok, acidentes acontecem a todos, mas há uns acidentes que são tão escusados que até se tornam confrangedores. Um pirralho de cinco anos que tem o seu biberão de leite (nem vou comentar sobre o biberão naquela idade senão não saio daqui) não tem de mexer na louça que não está a utilizar. A mãezinha, em vez de depois dizer 'eu estava mesmo a ver que isso ia acontecer' (querem ver que a culpa ainda foi da chávena!!!) tinha levantado o rabo e tirava-lhe a chávena da mão. Como o rabo também não era pequeno (in your face!), admito que tenha tido dificuldade na rapidez da reacção mas se se a pedagogia preventiva não vai a tempo, então que se use a punição para memória futura. Que tal uma repreensão e obrigar a pequena vândala a pedir desculpa ao empregado? Na pior das hipóteses, pedir desculpa por ela. Nada. Partiu-se? Que se limpe! Estamos a pagar, não estamos? Então sirvam-nos! Um espectáculo.
Curiosamente nós até já tinhamos pago, e até queriamos almoçar sossegados à beira da piscina, mas com aquele chinfrim todo até o McDonalds de Beja acabou por ser o supremo nirvana. Não estava nos nossos planos um fim de semana zen com birras e gritarias no menu. Foi brinde? Dispensávamos.
Como disse no início: Odeio tios. So shoot me.
PS: sou, sou, sou uma cabra insensível e rigorosa. Não gosto de pirralhos mal educados. Para isso tinha levado os cães que obedecem a regras simples e se sentam quietos quando os mandamos sentar quietos. E têm a grande vantagem de ficarem quietos em silêncio, e não incomodar ninguém.
Já somos dois.
ResponderEliminarAh, é verdade, também já me aconteceu uma cena dessas...
ResponderEliminarÉ um género que abunda muito. Há tempos tive uma cena similar num restaurante, que ainda não contei no blogue, porque provavelmente ia ser trucidada.
ResponderEliminarNem o livro nem o iPod nos ouvidos me livraram da guincharia e das correrias das crianças a chocarem contra as cadeiras da minha mesa. Reclamei uma vez com a empregada. Reclamei segunda. À terceira levantei-me e fui direitinha à mesa em que os pais confraternizavam, alegremente alheios ao que as odiosas crianças faziam. "Por amor de Deus, são crianças!", resposta risonha à mulher que não percebia nada (eu).
Pois são, eram, eles é que são, eram os adultos, a eles competia educá-las. Deixei-lhes a minha conta para pagarem e não tugiram nem mugiram.
Vê isto, do nosso embaixador em Paris:
http://duas-ou-tres.blogspot.com/2011/09/o-arnaldinho.html
Carlos:
ResponderEliminarNinguém está a salvo nos tempos que correm. É uma epidemia! :)
Teresa:
Eu acho que devias postar sem medo, porque acredito que as pessoas que te lêem serão suficientemente inteligentes para perceber que não é nada contra as crianças em si, mas tão somente contra a passividade dos pais. Aqui há tempos um restaurante berlinense proibiu a entrada de crianças. Ai meu Deus, que horror! O drama, o choque, vá toda a gente de protestar. Mas pergunto: então quem não tem filhos não pode jantar em paz?
Também me dizem: 'quando os tiveres deixas de falar assim'. Não sei se deixo. Mas se calhar deixo de ir jantar fora até eles se saberem comportar. Ou contrato uma baby sitter. Garantidamente, o que não farei é incomodar quem não culpa nenhuma.
Muito boa a história do Arnaldinho. Coitado do nosso embaixador :)
O facto de terem um Mercedes no estacionamento e de tentarem mimetizar tios da Lapa, não significa berço ou educação. Significa que têm dinheiro ou um bom carro de empresa à disposição.
ResponderEliminarAliás, tudo o que descreves parece-me um exemplo chapado de novo-riquismo! Falar alto, permitir que as crianças perturbem os empregados e restantes clientes não é sinal de educação nem aqui nem na Conchinchina! Claro que as crianças são barulhentas e choram, mas também compete aos pais acalmá-las e sossegá-las, não deixá-las com a rédea solta a asneirar... Obviamente que a culpa não é das crianças, mas sim dos pais!
Dito isto, fizeste-me lembrar um "tio" que "encontrei" no Algarve, enquanto lia sossegadamente numa esplanada. O homem já tinha idade para ter juízo, nem tinha criancinhas à volta, mas o que ele berrou com outro a combinar um passeio no "seu" barco, com o óbvio intuito de todos ficarem a saber que tinha barco, ainda me fez sorrir de tanta imbecilidade... :)))
Beijocas!