Boris é, como a maior parte dos gatos, um gato curioso. Curioso e invejoso, porque aparentemente o terraço dos vizinhos é melhor do que o nosso (ok, ok, não me correu bem a jardinagem este ano, vá) apesar de ser exactamente igual em área. Tento ao máximo evitar que eles saltem para o outro lado da cerca, mas acaba por ser quase impossível estar constantemente a vigiá-los. E, como os vizinhos raramente lá estão, acabo por contemporizar e alinhar nas suas ganas exploratórias, até porque não estragam nada e voltam sempre que os chamo (embora raramente à primeira e já me aconteceu ter de me socorrer de engodo (o pacote do leite resulta muito bem)).
Ora, o terraço não é um terraço comum. A meia altura do lado de fora começa uma espécie de telhadinho que faz a cobertura da varanda da sala. Como todos os telhados, tem um declive violento, e telha muito lisa. Uma combinação nada simpática para um gato explorador (e parvo!). Foi na terça feira. Tinha acabado de despir a farpela do trabalho e fui regar as plantas. Deixei os gatos a apanhar ar (os vizinhos não estavam mesmo, e estava um fim de tarde tão bonito) e fui à minha vida. Calculei que passassem para o terraço do vizinho, mas não me preocupei muito, não vem grande mal ao mundo e também é por pouco tempo.
Daí a pouco aparece Gato Gil a miar. Oh-oh! Gato Gil nunca é o primeiro a aparecer, muito menos de livre e espontânea vontade. Fui ver do outro. Não vi nada. Boris não estava no nosso terraço. Chamei. Ouço um ruído estranho, um ‘Scrishhh’. 'Scrischhhh'? 'Scrischhhh' não é o ‘cabum’ das patorras a aterrar na grade de metal que divide o espaço. Depois vem o ‘mmrrrrriaaauuauaauaau’. Gelei... mmrrrrriaaauuauaauaau é mau. É muito mau. Vi logo o que tinha acontecido. Correu-lhe mal o salto de volta e aterrou no telhado. Vou a correr com o coração nas mãos (já vi Gato Gil despencar uma vez, thank you very much), e vejo Boris encolhido, a miar desesperadamente e a escorregar devagarinho para o precipício. Não podia fazer absolutamente nada, não conseguia chegar-lhe sequer! Fiz a única coisa de que me lembrei: voltei para dentro e fui buscar o meu toalhão de banho. Com muito jeitinho, para não despencar também, estiquei-me toda para lhe colocar a toalha de modo a que ele pudesse agarrar-se a ela. O Deus dos Gatinhos estava comigo, e Boris, cujos miados aflitos já se deviam ouvir em Sintra, percebeu o que eu queria que ele fizesse e agarrou-se áquela toalha como um naúfrago a uma corda (ou como eu ao frasco de cornichons quando me dá a febre do vinagre. Whatever works for you).
Consegui içá-lo, são e salvo. Também se salvou da valente tareia que me apeteceu dar-lhe, mas não tive coragem de lhe bater quando peguei nele e lhe ouvi o coraçãozito a mil à hora.
Raio do gato, pá!
:)
ResponderEliminarUm final FELIZ!!!!
Ah, coitado do Boris, quem seria cruel para lhe dar uns sapatadas depois de um susto desses?
ResponderEliminarNão arranjas nenhuma maneira de vedar esse acesso? Quer dizer, não conheço o espaço, mas alguma coisa deves poder fazer para os impedir de passarem por ali!
Enfim, tudo está bem quando acaba bem! :)
beijocas e bom fim de semana!