Lá viemos as duas para a Baixa, passeando nas calmas por esse Chiado tranquilo que ela não via há anos, e que eu só vejo pejado de gente apressada, e aproveitando o nosso quality time fora das rotinas usuais. Parámos para beber um cafézito na Brasileira, e meia hora antes do espectáculo lá nos dirigimos para o Teatro. O largo já estava repleto de pessoas, e o átrio já tinha fila, embora muito ordeira e muito rápida a entrar. Ainda tive tempo de comprar o libretto (7€, gaita!!!) antes de estender os dois bilhetes para a plateia (obrigada, Teresa, tinhas razão!) e entrámos na sala.
Por incrível que pareça, eu nunca lá tinha entrado. E, confesso, estava à espera de uma coisa maior. Mas não fiquei desapontada. Como poderia? A sala é lindíssima, com um tecto maravilhoso e um camarote central absolutamente imponente. Ora vejam:
Do fosso saiam os primeiros sons de afinação dos instrumentos. A sala ia ficando mais cheia, num burburinho impaciente. Soaram os primeiros aplausos quando Julia Jones, a maestro, se levantou e cumprimentou o público. Depois, silêncio, luzes em decrescendo e subiu o pano.
A acção de ‘La Bohème’ passa-se em Paris, em 1830, no bairro boémio do Quartier Latin, onde poetas e pintores passavam os dias a tentar subsistir através da sua arte, e as noites a beber para esquecer as suas dificuldades. Assim era para o poeta Rodolfo (Alessandro Liberatore) e o seu amigo pintor, Marcello (Luis Ledesma) (ceús, este homem enche o palco! Já o fui googlar, que estou fascinada). Esta ópera retrata esse quotidiano, com cenas hilariantes como as da entrada de Musetta (Chelsey Schill), uma cantora temperamental que se enrabicha com Marcello, e depois acaba por tomar como ponto central o romance (turbulento e condenado) do poeta Rodolfo e da costureira Mimi (Ausrine Stundyte) e a sua evolução até ao acto final, onde Mimi volta para morrer nos braços de Rodolfo.
Dizer que gostei muito, é pouco. Adorei a encenação, as entradas e saídas de actores (actores sim, que também o são, e maravilhosos, por sinal), passando pela plateia, ou cantando num estrado mesmo junto à primeira fila. Eu, leiga que sou, não posso – é evidente - pronunciar-me sobre a qualidade e técnica vocal dos cantores, apesar de todos eles terem apreciações muito positivas no libretto, mas achei-os bons. Tive a primeira abordagem a esta ópera pelas vozes de Pavarotti e Mirella Freni, os monstros do belcanto que estamos a ouvir, pelo que tenho esse facto bem presente e não faço comparações. Mas gostei muito de todos. A sala veio literalmente abaixo, apesar da hesitação do público em perceber que tinha mesmo acabado. Eu sabia, porque estudei a lição em casa (obrigada Teresa, de novo), mas não quis ser eu a começar, pelo que esperei (im)pacientemente que se decidissem a começar a aplaudir. Pois que não perceberam que a criatura já não voltava à vida e que o pobre Rodolfo já estava a chorar há meia hora, a fazer tempo que se começasse a aplaudir? E que a maestro já tinha feito o sinal de encerramento à orquestra? Pois que foi preciso o rapaz baixar os braços e sorrir para o público, como quem diz 'epá, amigos, já acabou', para perceberem?
Mas esta coisa dos aplausos causa-me alguma perturbação...nunca estou muito certa do sítio certo para aplaudir, confesso. Tenho de estudar mais, que é como quem diz, tenho de ir ver mais coisas destas :)
Gostei muito de ‘La Bohème’. Mas gostei mais dos olhinhos brilhantes de Mummy, e do que me disse sobre o que estas duas horas lhe fizeram recordar: os nossos tempos em Paris, as saídas com Daddy, antes de eu nascer. Mummy nunca chora, mas vi lágrimas nos seus olhos. A nostalgia também faz parte, e que melhor ambiente para nos deixarmos levar pelas memórias?
Todos nós devíamos ver mais vezes estas "coisas".
ResponderEliminarFico contentíssimo por ti e pela mummy. Que bom e rico momento esse que lhe proporcionaste.
É caso para dizer BRAVO!! :-)
Quando é a próxima?
Beijinhos
Um grande beijo, muito grande mesmo, por essa felicidade que deste á mummy!
ResponderEliminarGostaria de ter assistido a uma ópera. Talvez um dia vá ao S. Carlos, quem sabe!
ResponderEliminarViajante,
ResponderEliminarOra meu caro, dia 3 de Junho, D. Giovanni. o B8 e B10 estão livres ainda. Estás por cá? Tentas-te? ;)
Beijinhos
É spr dificil perceber a hora certa para aplaudir.Acredita k até o mais usual dos espectadores de ópera to dirá...
ResponderEliminarJá fui a algumas óperas, musicais, bailados, aqui e no estrangeiro... e há spr alturas em k achas k devias aplaudir.
Em certos espectáculos até costuma haver alguém destinado para o fazer para k o espectador tenha essa noção, há spr um aplauso isolado k inicia os outros...
Isto tem as suas coisas, não se pode culpar ninguém por não saber.Nem todas as passoas têm essa sensibilidade, é um facto, mas tb quem somos nós para criticar...eu pelo menos não me vejo nesse papel...
Inês,
ResponderEliminarBeijo para ti, por essa sensibilidade toda que emanas em duas linhas ;)
Paulofski,
ResponderEliminarÉ decerto uma experiência a não perder. São só 300kms... :)
Beijinhos
É verdade, é. É difícil ajuizar. Por causa disso, já assisti a recitais em que a intérprete pediu para não aplaudirem no final de cada trecho. Mas também já vi, não ao vivo, aplausos isolados numa particularmente bem conseguida nota do tenor.
ResponderEliminarO truque é estudar a peça que se vai ver quando tal for possível. Ou olhar para o maestro e ver se está em modo de arranque ou de pausa. O chato é quando não se consegue ver o maestro...ou quando não se conhece a peça. Aí, tem de se ir na onda, mesmo.
beijinhos
Não sou apreciadora de ópera, mas que são grandes artistas em palco, aliando o canto à representação também não tenho dúvidas...
ResponderEliminarMas quer dizer, se a tua mummy ficou feliz por assistir ao espectáculo, certamente que valeu a pena! :)))
Beijocas!
como já me deves ter "ouvido" dizer, tenho gostos muito eclecticos. e adoro certas óperas...sendo que esta é uma delas... obrigado pelo "recuerdo"
ResponderEliminarjokitas
óptimo gosto, a música realmente tm o poder de nos transportar ....
Ainda bem que fizeste alguem muito feliz.
ResponderEliminarEu fui só uma vez á Opera de Paris e francamente detestei.
Passei o meu tempo a olhar e a desfrutar da sala que é lindissima, dos trajes que são uma verdadeira reliquia, mas ouvir cantar opera, oh linda não é mesmo para mim......enerva-me que queres....ahahahah
Mas acho que não podias ter escolhido melhor programa.
Beijokitas
Além de ter sido de certo, um Grande Espectáculo, presumo que a melhor parte tenha sido essa cumplicidade! Fazem falta mais momentos desses a todos nós!
ResponderEliminar:) Beijinho
Além de ter sido de certo, um Grande Espectáculo, presumo que a melhor parte tenha sido essa cumplicidade! Fazem falta mais momentos desses a todos nós!
ResponderEliminar:) Beijinho
Que giro, o jove vai oferecer a Aida à mummy dele :))).
ResponderEliminarTeté,
ResponderEliminarEu gostava de saber mais...ainda vou a tempo, claro, mas é difícil arranjar tempo para ouvir e ler sobre.
Mummy é como eu: basta ouvir música e ficamos completamente cativas do momento.
Beijocas
Aralis,
ResponderEliminarEu só vejo a vida de forma eclética. Senão, perde-se tanto, não é?
Eu também sou assim. Por isso, num fim de semana vou à ópera e no outro vou ao futebol. E vibro com os dois ambientes, cada um no seu contexto.
That's life!
Beijinhos
Parisiense,
ResponderEliminarA Ópera de Paris é um dos meus sonhos...ainda hei-de ver uma obra lá!
Eu adoro a intensidade da Ópera. Farto-me de chorar. O que não quer dizer grande coisa que eu também choro com o Bambi... :)
Beijinhos
Liamaral,
ResponderEliminarFoi mesmo. Ando a aproveitar ao máximo os quality moments. Nunca sabemos o dia de amanhã, por isso quanto mais fizermos e sentirmos hoje, melhor.
Beijocas
Van,
ResponderEliminarEu já tenho dois bilhetes para o D.Giovanni, em Junho. A mummy já tá toda contente ;)
Beijocas
Ainda bem que tiveste uma experiência tão boa. A Bohème é uma ópera lindíssima! E por certo concordas agora comigo: tê-la visto em cena conhecendo-a bem faz uma enorme diferença, não faz?
ResponderEliminarQuanto aos aplausos, há algumas regras simples que tenho todo o gosto em partilhar com os menos habituados a estas andanças.
1. Comprem sempre o programa, onde vem a estrutura das obras que vão ouvir. Se for uma sinfonia, por exemplo, a estrutura mais habitual são quatro andamentos (voltando à Bohème, há quem a compare, com os seus quatro actos, à estrutura tradicional de uma sinfonia).
2. Se a peça executada for uma sinfonia, um concerto (os concertos normalmente recebem o nome do instrumento solista - quando se fala num concerto para piano ou violino, por exemplo, estamos a falar de piano e orquestra, ou violino e orquestra). Se for só piano, já é uma sonata. NUNCA se aplaude entre andamentos, só se aplaude no fim do último andamento.
3. Se for um recital de canções, lied, por exemplo, elas costumam vir divididas em ciclos. Mais uma vez, atenção ao programa. Suponhamos que temos a Linda Moleirinha, de Schubert: não se aplaude entre canções, só no fim do ciclo.
4. Na ópera: devo dizer que nunca aplaudiria a meio de uma ária, por mais portentosa que fosse a nota atingida pelo cantor ou cantora. Nem nunca vi ninguém fazer isso. O canto lírico é dificílimo e há que respeitá-lo. Guardemos os aplausos para o fim da ária, às vezes o entusiasmo por uma grande prestação é tão irreprimível que os aplausos estalam antes de atingida a última nota. Eu prefiro esperar por ela e só então aplaudo. E nada de vergonhas se as nossas palmas forem as únicas, aposto que quem cantou ficará grato (além de que as palmas são contagiosas, em dois segundos estará mais gente a aplaudir). Eu cá até grito bravo se for caso disso! Se for uma cantora é brava, se quiserem parecer entendidos. E se for um dueto, um terceto, um quarteto (o do Rigoletto é célebre e a casa normalmente vem abaixo) grita-se bravi.
Na Alemanha é muito engraçado, quando os cantores são verdadeiramente bons, as palmas são acompanhadas de forte bater de pés no chão (nunca fazer isso em Portugal, seria uma pateada). Outra coisa que adoro na Alemanha (Baviera) e na Áustria é que as pessoas vão à ópera em traje regional: as senhoras com aqueles lindíssimos fatos de corpete, saia rodada e avental, eles muito elegantes nas suas austríacas de veludo.
4. Don Giovanni. Do meu amado Mozart, há quem lhe chame a ópera perfeita. É absolutamente deslumbrante. Volto a recomendar-te que a oiças bem antes da récita. Se quiseres, mando-ta com todo o gosto, mas talvez prefiras começar a tua própria colecção de ópera, e ter a coisa como deve ser, numa bonita caixa, com o libretto, etc. Nesse caso, e apesar de haver dezenas de gravações, recomendo-te esta, que apesar de já ter perto de quarenta anos, continua sem rival:
http://www.amazon.co.uk/Don-Giovanni/dp/B00006I0DC/ref=sr_1_1?ie=UTF8&s=music&qid=1236773466&sr=1-1
Atenção: é uma ópera maior do que a Bohème, é uma ópera de três discos, vais precisar de mais tempo para a conhecer bem.
5. A Ópera de Paris (Palais Garnier) Confirmo que é lindíssima, magnífica. Só aquela escadaria interior! Só aquele tecto (pintado por Chagall)! Mas hoje em dia há lá pouca ópera, é mais ballet, terás de marcar isso com cuidado, vai ao site deles e marca a viagem em função daquilo que encontrares. Se fores sem consultar datas, o mais provável é só encontrares ópera na Bastilha ou no Châtelet, que também conheço.
Ufa!!! Espero ter sido útil. Dá-me notícias quanto ao Don Giovanni. Nem vou reler, desculpa eventuais asneiras.