Desço a avenida com o solinho a fazer-me companhia. Entretida com os meus botões, só vejo o homem quando já quase passei por ele. Assusto-me quando ele me interpela 'Dê-me um euro, é para comer'. Olho para os olhos encovados, para o cabelo e barba desgrenhados que não escondem a idade e as privações, e não tenho coragem para seguir em frente. Páro. Mentalmente revejo o conteúdo da minha lancheira e concluo que não tenho bolachas nem bolos ou fruta que lhe possa dar. E faço uma tontice. Tiro a carteira à frente dele. Remexo nas moedas e dou-lhe um euro. Mas ele, mais alto, consegue ver duas notas de cinco. Pede-me uma. Chantageia-me descaradamente 'Dê-me os cinco euros...é para comer. Um euro nem para uma sandes dá. Não me compra um prato de comida? Ainda não comi nada hoje'. Hesito. Acabo por dizer 'não pode ser, tenha paciência'. Passo ali todos os dias, não quero criar precedentes. Não posso alimentar todos os pobres de Lisboa.
Mas sinto-me mal na mesma...
Fuck.
Claro que não podes alimentar os pobres todos de Lisboa.
ResponderEliminarEu dinheiro não dou.....vou ao café mais proximo e compro algo.
Mas nas grandes cidades andasse sempre a correr, né....não há tempo para essas coisas.
Aqui não temos....a não ser os ciganitos em dias de feira.
Mas não fiques com a consciencia pesada....nem sempre o dinheiro é para comer.
Morreu Jean Ferrat....uma grande perda.
Beijokitas
Também nunca dou dinheiro: faz-me falta e apesar do aspecto miserável de alguns fico sempre na dúvida se é realmente para comer.
ResponderEliminarJá algumas vezes ofereci comida, em cafés ou snacks, que isso não tenho coragem de negar...
Mas não vale a pena ficares amargurada, que na volta era mais um drogado aí à solta, que queria que lhe pagasses a dose!
Beijocas!
:( sei como é. Mas tb te sentirias mal se soubesses que tinhas sido enganada e que se tinham aproveitado da tua boa vontade...cuidado com os grupos de veteranos de guerra, digo desde já...
ResponderEliminarEntendo-te perfeitamente ! Não podemos ajudar todos e estão sempre a pedir na rua, à porta da igreja, à porta ou nos supermercados (associações)....
ResponderEliminarA última vez que me pediram dinheiro para comer à entrada do supermercado, perguntei o que precisavam : disseram-me frango, óleo. Comprei um grande frango que me custou €6,00 e entreguei. Entrei no carro, vi a senhora que me tinha pedido ir ter com outro carro e não vi o meu frango. O que terá acontecido com ele ?
Mas fica sempre a pergunta : e se precisavam mesmo ?
Beijinhos
Sorry pela Girassol....
Verdinha