Faltam só cinco dias para acabar o mês de Janeiro. Conto-os com avidez. Janeiro é o meu mês horribilis anual. Se eu pudesse, erradicava-o do calendário. Parece que só recomeço a viver em pleno quando o primeiro dia de fevereiro me vem acordar os sentidos e me leva o torpor da alma. É irracional, não tem fundamento científico, mas é assim. Odeio Janeiro. Cada vez mais.
O meu ódio pelo mês de Janeiro começou em 1982, com a morte do meu pai. Ficou marcado o dia 7, como o fim de uma era feliz para mim e para a minha família. Vinte anos depois, no dia 16, perdi a minha melhor amiga. Por afinidade, em 2009, o dia 4 marca a partida da sogra que não cheguei a conhecer. Este ano, no dia 18, foi o filho desejado e gerado com sacrifícios vários, que perdemos às oito semanas. Não me quero alongar muito. Pensar nisso, tentar encontrar uma razão só me faz mal porque na realidade não há explicação. Acontece. As simple as that. Não é por sermos mais ou menos bonzinhos, mais ou menos correctos na nossa forma de viver, que somos mais ou menos poupados ao sofrimento. Faz parte da vida as coisas não correrem bem. A natureza sabe melhor, bla bla bla, melhor mais cedo do que mais tarde, bla bla bla... verdades lapalissianas, muito acertadas, é certo, mas que nem por isso trazem conforto. Não deixa de ser uma grande merda, seja por que prisma se olhar. Mas aconteceu, não há nada a fazer. Não seria menos doloroso se tivesse acontecido em maio, ou em outubro ou noutro mês qualquer. Nenhuma destas perdas seria menos dolorosa se ocorresse noutro mês qualquer. Obviamente que não. Mas o que deveria ser um mês de recomeços, de renovar de entusiasmo pelo novo ano que se inicia é, ano após ano, um mês de compasso de espera, enquanto não passam os dias em que inevitavelmente nos sentimos tristes. Não se trata de celebrar a morte em vez de celebrar a vida; as memórias dos nossos mortos carregamo-las connosco todos os dias de todos os meses. A diferença está no facto destes dias de janeiro serem o marco a partir do qual deixaram de ser possíveis novas memórias. E isso, para mim, é - será sempre - incomensuravelmente triste.
Este foi um post que pretendia catártico. Há que enfrentar os nossos medos e receios, as nossas dores e revoltas. Falar deles, reconhecer a sua existência como parte integrante da nossa passagem na terra, permite-nos avançar. Mesmo que não compreendamos a cem por cento, mesmo que nos sintamos injustiçados. Shit happens. a verdade é mesmo essa. Cabe-nos arregaçar as mangas e seguir em frente.